E a história do sanguinário palhaço Art chega a seu terceiro episódio. Quarto se você contar o primeiro de todos, All Hallows Eve. Eu assisti aos filmes na ordem totalmente errada. Primeiro veio Terrifier 2. Depois Terrifier. Por fim, All Hallows Eve. Como você deve se lembrar, a série viralizou em seu segundo filme graças à violência explícita, e foi aí que a obra passou a chegar ao Brasil, justamente na ordem a que eu assisti.

E assim que assisti aos anteriores, esqueci tudo, a ponto de nem ligar as pontas que conectam um filme ao outro. Para o lançamento tupiniquim de Terrifier 3, vi tudo de novo, e com esta terceira parte, vejo que muitos dos problemas dos filmes anteriores estavam planejados para serem resolvidos aqui. Minha opinião sobre isso vem depois. Antes, como sempre…

TERRIFIER 3: PREPARE-SE PARA A TERRIFAÇÃO!

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Que será que o Corrales vai falar do meu filme? Não faço a menor ideia!

Este terceiro Terrifier acontece cinco anos depois do segundo. Art, o palhaço, está novamente no ataque e, pela primeira vez, não é na noite do Halloween, mas na época natalina. É claro que ele vai se personalizar para a ocasião. A história continua de onde parou tanto no segundo quanto no terceiro, com ambas as sobreviventes tendo papel vital neste capítulo. Então realmente recomendo que você esteja com a história fresca na cabeça antes de adquirir seu ingresso.

Terrifier 3 entrega tudo pelo que a série ficou conhecida no passado. É um torture porn que, na verdade, é um tremendo show dos maquiadores. A violência é explícita e doentia, e combina deliciosamente com o jeito inocente e wholesome do próprio Art. Por exemplo, depois de matar uma família, ele vai até a cozinha lavar os pratos.

ART É O QUE O CORINGA DEVERIA SER

Já falei antes aqui no DELFOS, mas o jeitão do Art lembra muito o Coringa. Arrisco dizer que ele é exatamente o que os criadores do vilão do Batman tinham em mente, mas suas origens altamente corporativas nunca deixariam chegar a este ponto. Ao contrário do Coringão, no entanto, Art não fala. E é incrível como ele consegue ser expressivo simplesmente pela linguagem corporal. Se ele não fosse um vilão sádico e cruel, eu provavelmente gostaria de ser seu amigo. Muitos vão dizer que a violência explícita rouba a cena. Mas eu diria que o Art de David Howard Thornton dá ao vilão e ao filme o carisma que ele precisa.

Mas há violência a rodo aqui. Morre muita gente neste filme, a ponto de que várias mortes acontecem fora de plano. E mesmo assim, tem uma galera que morre lenta e dolorosamente na frente da câmera. Os efeitos especiais parecem ser totalmente práticos (nada de CG) e eu sinceramente tenho a impressão de que a filmagem destes filmes deve ter sido absurdamente divertida para todos os envolvidos. Imagino as fotos de bastidores com as pessoas fazendo palhaçadas com as “próteses” e coisas do tipo.

A FETICHIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA

Terrifier, Terrifier 3, Damien Leone, Art the Clown, DelfosLembro de um documentário do primeiro God of War em que os desenvolvedores dizem que foram atrás dos filmes mais violentos já feitos e ficaram surpresos com como o cinema é conservador em violência. E, de fato, games como God of War ou Mortal Kombat são muito mais explícitos do que boa parte dos filmes. Provavelmente isso se deve ao fato de que assusta menos ver bonequinhos de CG abertos ao meio do que atores (ou bonequinhos de plástico parecidos com os atores).

Terrifier 3 é impressionante em sua violência, mas acredito que todo gamer já viu coisas piores nos videogames. Como é difícil fazer uma decepação ou um corpo cortado ao meio de forma realista, o espetáculo da violência no cinema é curto. Basicamente, você vê a motosserra cortando alguma coisa por um décimo de segundo e daí sua imaginação monta o que era aquilo. Terrifier 3 é assim.

CABEÇAS AMASSADAS

Não tem aquela coisa de o Kratos amassar a cabeça do Hércules em God of War 3 e daí você poder colocar a câmera dando um close no presunto e ficar olhando o tempo que quiser. Pelo menos não antes de o filme sair no streaming, quando você poderá pausar naqueles segundos violentos e olhar o pedaço de plástico rasgando quanto tempo quiser. Mas você sabe de antemão que quando o que parecia uma perna se tornar claramente um plástico pintado de vermelho, vai perder o fator choque, o que não acontece nos games.

Enfim, falei muito, mas não muda o fato de que apenas a sugestão da violência, quanto mais o que é mostrado aqui, é digno de desviar o olho. Ou você consegue olhar um sujeito sendo serrado ao meio a partir do meio das pernas sem se afligir?

CRÍTICA TERRIFIER 3

Narrativamente, eu diria que Terrifier 3 é de longe o melhor filme da série. Coisas que me incomodaram antes, que me fizeram apontar influências de David Lynch no segundo filme, por exemplo, são finalmente explicadas. Esteja de sobreaviso que vou comentar o final do segundo filme no próximo parágrafo, então pule se não quiser saber.

No final de Terrifier 2, Sienna e Art se matam UM MONTE de vezes. O negócio fica bobo no mal sentido, e tira qualquer drama que a série possa querer tirar da morte de um dos dois no futuro. Isso, o clown cafe e toda a história do pai vidente da protagonista arrastava o segundo filme fortemente para baixo.

FIM DOS SPOILERS DE TERRIFIER 2

Em Terrifier 2, isso que citei acima não fazia sentido. Agora há explicações místicas para todas essas coisas. Cá entre nós, um filme de cinema deve ser completo, ainda que sua história continue. Deixar sementinhas para serem desenvolvidas é uma coisa, mas fazer um filme inteiro com um roteiro sem sentido que só seria explicado no próximo, dois anos depois, não é legal.

Terrifier 3 não é um filme completo. Ele olha para o futuro e depende de seu passado. Ou seja, é um filme com uma história totalmente dependente do resto da franquia e que simplesmente não termina, assim como o último Aranhaverso. Mas ele finalmente começa a dar pontos nos nós, e cenas como a que abre o primeiro filme, da sobrevivente atacando a apresentadora do programa de TV, agora fazem sentido dentro da história que ele está contando.

Apesar de estar mais para um slasher/filme B, isso de contar uma única história em vários episódios lembra bastante o que vimos em Jogos Mortais. Mas a série do Jigsaw fazia um trabalho melhor em apresentar cada episódio como um capítulo cheio. Terrifier talvez funcionasse melhor como uma série de TV. Mas a palavra vital aí é que funciona, mesmo no cinema. Estou gostando da história e certamente verei os futuros longas para descobrir onde isso vai parar. Só espero não precisar assistir a tudo de novo cada vez que um novo filme for sair.