Os filmes do tremendão Zhang Yimou costumam chegar muito atrasados ao Brasil. Isso se chegam. Olhar a página do cara no IMDB ataca meu TOC quando eu constato a quantos filmes dele eu não assisti. Nesta crítica Shadow, você vai conhecer este que estreia no Brasil em 12 de agosto de 2021, mas que saiu lá fora em 2018. Como curiosidade, o diretor tem três filmes já lançados depois desse que esperamos chegar ao Brasil um dia.

UMA OBRA ABRANGENTE

Zhang Yimou ficou conhecido no Brasil em 2005 quando, na onda de Matrix, saíram por aqui dois filmes de ação que ele dirigiu (Herói e O Clã das Adagas Voadoras). E ambos tiveram a honra de estarem na minha seleção de melhores filmes de 2005, a primeira e única vez que dois filmes do mesmo diretor estamparam uma lista minha.

Porém, e talvez infelizmente, ele não faz apenas isso. Sua obra é bem variada, indo de filmes de ação poéticos como Herói a oscarizáveis dramáticos como Flores do Oriente. Ele até faz alguns filmes que, convenhamos, são bem chatinhos.

Mas uma coisa é frequente: o cara tem um cuidado estético que poucos diretores conseguem igualar. Os filmes de Zhang Yimou estão, para mim, entre os mais belos já feitos. Assim, embora eu não goste de toda a filmografia do cara, não seria falso dizer que, como diretor, ele está entre os que mais admiro.

CRÍTICA SHADOW

Embora pareça pelas imagens, Shadow não é um filme de ação. Há ação, basicamente concentrada no clímax, mas a história em si é um drama político, algo semelhante a um Game Of Thrones mais chatinho.

A história de Shadow abrange duas cidades. Uma delas foi tomada e separada do reino. Um comandante do rei vai até lá negociar a devolução e acaba saindo com um duelo marcado, o que causaria guerra. O rei, preocupado em preservar a paz, procura por soluções pacíficas, enquanto maquinações de todos os lados são colocadas em prática.

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Este é o comandante. O original, não a sombra.

Há três facções por aqui, cada uma com seus interesses. Paz, golpe ou se manter no poder. A Sombra (Shadow) do título em inglês brasileiro, é um sósia do comandante, e a pessoa envolvida no duelo em questão. Acontece que o comandante está gravemente ferido, então ordenou que um servo parecido com ele tomasse seu lugar nas ações militares.

ESTÉTICA APURADA

Já é de se esperar considerando o diretor, mas Shadow é um filminho lindo de doer. Eu não assistia a algo dirigido por ele desde que A Grande Muralha estreou por aqui, e fico feliz de ainda ficar estupefato com a beleza audiovisual da coisa toda.

Mesmo em cenas nas quais temos apenas pessoas conversando, os enquadramentos, atuações e figurinos contribuem para uma experiência visual digna de ser chamada de arte. Em alguns dos planos, eu me sentia em um museu, olhando belíssimos quadros.

Curiosamente, apesar de lindo, Shadow traz uma grande mudança no estilo visual do Zangão. Ele é conhecido por filmes não apenas coloridos, mas com uma paleta de cores cheia dos tons mais brilhantes. Shadow é quase o oposto disso. Ele é tão cinza que beira o monocromático.

Claro, não é em PB. Porém, pelas imagens que você vê neste artigo pode ver a enorme predominância de cinza, que faz parte da estética de toda a experiência.

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Tirando algumas cenas de treino que permeiam a narrativa, a coisa só vai desandar para a porrada no momento da invasão/duelo lá no terceiro ato. E é exatamente aí que o filme adquire seus maiores contornos de espetáculo.

A porradaria é cheia de cenas não apenas estilosas, mas muito criativas. E me refiro tanto à coreografia em si quanto às armas escolhidas e a utilização delas. Não que eu seja um expert em armas, mas eu sinceramente nunca tinha visto esse “guarda-chuva bélico” que o exército usa. Admito que sequer sei se foi uma arma criada para o filme ou se ela de fato existe na vida real. Mas o que importa é que o uso dela é simplesmente um espetáculo.

A cena em que o exército desce uma ladeira se protegendo das flechas com esses guarda-chuvas é diferente de tudo que eu já tinha visto no cinema de ação, e me deixou com um enorme sorriso no rosto.

CRÍTICA SHADOW: A SOMBRA

Depois que a batalha termina, o filme continua mais um pouquinho, para a sua conclusão, e este é o ponto mais fraco de toda a experiência. Em uma tentativa de colocar viradinhas desnecessárias, a coisa se torna rocambolesca demais. O filme termina de forma aberta, intencionalmente sem deixar claro quem era o verdadeiro vilão da coisa toda. E até aí tudo bem, mas me incomoda ter várias cenas seguidas do tipo “Ah, então esse era o vilão? Ah, não, era esse aí? Peraí, agora na verdade é esse terceiro?”. Fico com a sensação de que o roteirista estava indeciso e resolveu atirar para todos os lados.

Além disso, devo deixar claro que Shadow tem pouco a oferecer além do seu audiovisual. Ele não tem ação suficiente para agradar aos fãs de O Clã das Adagas Voadoras, mas sua história também não é tão boa e envolvente como a de Flores do Oriente.

Assistir a Shadow foi, para mim, como assistir a um workshop de um instrumento musical.  Você vai para admirar a habilidade do cara e se surpreender com ela. Assim, Shadow pode, por exemplo, ser um bom exemplo de beleza na sétima arte em faculdades de cinema. Particularmente, eu gostei de ter tido a oportunidade de ver na tela grande. Mas como experiência narrativa é de mediano para falho. Cabe a você decidir se vale comprar o ingresso para um filme lindo, mas que é apenas isso.

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