Eu pensei muito durante a sessão de A Possessão de Mary. Muito pouco sobre o filme, é verdade, uma vez que ele se limita a repetir chavões de obras semelhantes. Na verdade, foi sobre minha relação com o terror como gênero. E você vai saber tudo que passou na minha cabeça lendo nossa crítica A Possessão de Mary.

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Se você já leu o suficiente dos meus textos para saber um pouco do que eu gosto, deve ter percebido que terror é potencialmente meu gênero cinematográfico preferido. Ao mesmo tempo, eu simplesmente abomino sua vertente sobrenatural, da qual A Possessão de Mary faz parte.

Em geral eu digo que isso se deve a eu ter mais medo de pessoas vivas do que de fantasmas, o que sem dúvida é verdade. Porém, a real é que estes filmes raramente visam causar um medo sustentado. Eles são focados mesmo em sustinhos, aqueles tradicionais pulos de gato com aumento de trilha sonora. E eu odeio isso.

Mas por que odeio isso? Na vida real, eu gosto de brincar de assustar e de ser assustado. É muito legal fazer uma pessoa de quem você gosta pular de susto e depois cair na gargalhada com ela. E igualmente legal quando os papéis são invertidos. No cinema, no entanto, não parece funcionar. Quando o gato pula do armário, poucas pessoas realmente se assustam. Parece um truquinho barato de causar medo sem investir no terror de verdade.

CRÍTICA A POSSESSÃO DE MARY

Parece que eu não falei nada sobre o filme até agora, mas a verdade é que, se você leu os três parágrafos anteriores, deve ter uma excelente ideia do que vai encontrar por aqui. Então falemos um pouco da história.

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A “Mary” do título não é uma pessoa, mas um barco. E este é o aspecto mais legal do longa. Saem as tradicionais mansões mal assombradas ou menininhas possuídas. Aqui o terror vem de um barco assombrado, e a família que tenta sobreviver aos encostos o faz em alto mar. Infelizmente, apesar da premissa ser mais criativa, a obra em nada se destaca do que normalmente vemos em seus congêneres.

A história é contada em flashback enquanto uma sobrevivente faz seu relato para a polícia. O barco é o possuído, mas o fantasma que toma conta dele age assumindo o controle das pessoas físicas. O fantasma em si aparece muito pouco, e o engraçado é que ele usa aquelas maquiagens de panda popularizadas pelas bandas de black metal. E isso deixa o filme ainda menos assustador.

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Espero que você tenha medo de pandas.

Este visual já é algo que acho difícil entender na música. Essas bandas de black metal norueguês fazem de tudo para serem assustadoras, mas copiam o visual do bichinho mais fofinho da natureza. Provavelmente se um panda aparecesse na minha casa, eu o abraçaria, não sairia correndo.

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Esta é a banda norueguesa Mayhem, devidamente paramentada como ursinhos panda.

A opção estética/musical do fantasma é o de menos, no entanto. O fato é que A Possessão de Mary é mais um filme de terror sobrenatural sem nada de novo. Aparentemente as pessoas continuam assistindo a essas coisas, já que elas continuam sendo feitas. Mas está para sair algo no gênero que me assuste tanto quanto O Exorcismo de Emily Rose.

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Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
critica-possessao-de-maryTítulo: Mary<br> País: EUA<br> Ano: 2019<br> Distribuidora: Paris Filmes<br> Duração: 1h24m<br> Diretor: Michael Goi<br> Roteiro: Anthony Jaswinski<br> Elenco: Gary Oldman, Emily Mortimer e Manuel Garcia-Rulfo.