Como eu falei neste artigo de umas semanas atrás, eu me interessei por este novo CD do Maestrick graças a seu título e a sua capa.
Estas características me fizeram deduzir que se trataria de um disco de rock positivo, bem do jeito que eu gosto. E de fato é. Desde que o disco chegou aqui na redação, tenho ouvido quase non-stop. Acredito que fazia anos que um álbum recém-lançado não me agradava tanto.
QUEEN + YANNI + SONIC
Consegue imaginar a mistura acima? É assim que eu definiria a sonoridade deste disco. Ele traz muitas semelhanças com o som que o Queen fazia nos anos 70, quando eles ainda eram mais puxados para o rock. Eu diria que a influência que o Maestrick tem no Queen é certa, até porque eles gravaram um medley da banda em seu disco de covers.
Já os outros dois, embora haja semelhanças consideráveis de estilo, eu não diria que sua influência é uma certeza. Afinal, não é tão comum que bandas de rock sejam influenciados por música orquestrada contemporânea (Yanni) ou trilhas sonoras de videogame (Sonic). Agora você, como um delfonauta culturalmente dedicado e que conhece os três, ouça a introdução Origami e me diga se não há características comuns claras entre os três citados e o som do Maestrick?
Aliás, ao ouvir este vídeo, me chamou a atenção que no disco consta apenas os primeiros 90 segundos, e o resto nunca tinha ouvido antes. Curioso, não?
Talvez o que liga tanto os três, e melhor defina o som do Maestrick é quão positivo ele é.
ALEGRIA =/= FELICIDADE
Tem muito rock alegre por aí, especialmente entre os clássicos. No entanto, não me refiro àquele clima de sexta-feira de um Van Halen ou de quase todas as bandas de hard rock. Você sabe, aquele jeitão “vou festejar até amanhecer”. A palavra que mais define o Maestrick não é alegria, mas felicidade.
A diferença talvez não seja clara para todo mundo. Alegria é efêmera. Mesmo pessoas deprimidas têm momentos de alegria. Passar bons momentos com amigos, pedir uma pizza ou jogar videogame trazem alegria. A felicidade não. Esta é mais permanente, mais elusiva e muito mais mágica. Felicidade é acordar em uma segunda-feira de manhã empolgado pelas coisas boas que a semana vai trazer. E isso é o que Espresso Della Vita (e também Queen, Yanni, e a trilha sonora do Sonic) me fazem sentir. Isso é realmente especial e muito necessário, especialmente considerando a época tão fragmentada e cheia de ódio que vivemos no Brasil neste momento.
O som do Maestrick não é apenas feliz. Ele transborda energia positiva a cada segundo. É o tipo de álbum que arranca sorrisos, não porque ele é engraçado, mas porque faz acreditar que talvez as coisas não sejam tão ruins quanto parecem. Talvez ainda haja esperança. Talvez. Pelo menos enquanto Espresso Della Vita está tocando.
EU E.S.T.O.U. VIVENDO
Pegue, por exemplo, I A.M. Living. Ouça a melodia que abre a música e tente não se imaginar correndo pelas belas praias da Seaside Hill Zone de Sonic Heroes.
https://www.youtube.com/watch?v=7JBG5o6EkPo
Da letra às melodias, I A.M. Living é uma das músicas mais positivas do ano, e é também a melhor do disco. Digo mais, ela é tão boa que Espresso Della Vita já mereceria ser ouvido só por ela. Mas felizmente o disco ainda traz muitas outras excelentes composições.
Ouça a música inteira, mas tente não se emocionar com o solo de guitarra, que no vídeo abaixo começa aos 2m25s. A coisa é tão bonita que lembra grandes solos do passado. Mais especificamente, o lindo solo de Aqualung me vem à mente (que, aliás, também foi gravada no CD de covers da banda). O mais curioso é que a banda não tem um guitarrista, e as guitarras do disco foram em sua maioria gravadas pelo produtor de nome difícil Adair Daufembach. Ei, Maestrick, coloca esse cara na banda, meu!
Mas este é só o primeiro destaque. A próxima música, Rooster Race, começa com uma bela viola caipira, que me lembra a excelente Never Understand do Angra. Já Daily View tem a maior cara de um clássico do Queen. Pense em algo entre Fat Bottomed Girls e Somebody To Love. Até o jeito de cantar do vocalista e pianista Fabio Caldeira lembra um bocado o de Freddie Mercury, e isso é um dos maiores elogios que se pode fazer a um cantor.
Já Water Birds é uma deliciosa balada fofinha. Não é o tipo de balada romântica, para namorar enquanto ouve. É mais o tipo de música que, se tivesse bochechas, você iria querer apertar.
Keep Trying, com seu nome alto astral, é também o mais próximo que o Maestrick chega de um hard rock. Mas não pense naquele farofa mais tradicional, mas sim naquela interpretação que o próprio Queen faz do estilo, tipo One Vision, manja?
POLIGLOTA
Uma curiosidade bacana é que o disco traz duas músicas que não são cantadas em inglês. São elas Penitência e Hijos de la Tierra (um high five telepático para quem adivinhar os idiomas principais de cada uma). Lembro que a Rock Brigade criticava fervorosamente bandas que faziam isso, chamando-as de indecisas, mas eu sempre achei maior legal. Afinal, o idioma é uma ferramenta, um instrumento, assim como violinos, guitarras ou qualquer outra coisa que os músicos optem por colocar em suas composições.
Apesar disso, Penitência, justamente a cantada em português, é a única do disco que não me agradou tanto. Ela é mais pesada e tem um jeitão mais malvado, que não combina com o resto da obra. Inclusive, ela me lembrou uma música cantada em português pelo Sepultura, Ratamahatta.
Hijos de la Tierra, por outro lado, é fantástica. Sempre considerei espanhol uma das línguas mais musicais que existem. Nesta faixa, o Maestrick combina inglês com espanhol, vocais masculinos com femininos. O resultado é uma das mais marcantes do disco. Gosto especialmente de quando os dois cantores cantam juntos. Nem sempre duas vozes diferentes soam bem juntas, mas este é um caso em que elas se complementam lindamente.
PRA LÁ DOS DEZ MINUTOS
Espresso Della Vita tem também duas faixas mais longas. The Seed é a primeira delas e a mais longa, passando dos 15 minutos. Esta é também a faixa que mais se aproxima de um heavy metal no disco, trazendo corais clássicos e o clima épico tão presente no gênero. Gosto dela em seus momentos mais animados, mas acho que ela não se sustenta tão bem durante toda sua duração, especialmente quando dá uma acalmada.
A segunda, Trainsition, é mais legal. Com pouco mais de 10 minutos, é uma bela balada durante metade da sua duração, e depois dá uma animada com aquela mesma energia positiva que permeia todo o disco. Pense em Free Bird, não por esta ser repleta de solos virtuosos, mas por ser metade balada e metade animadinha, quase duas canções em uma. É um final digno para um dos discos que eu mais gostei nos últimos tempos.
MAESTRICK
Espresso Della Vita é um discaço. Uma bela obra que merece ser ouvida por todos que curtem músicas bonitas e positivas. É um disco que eu julguei pela capa, e me dei bem fazendo isso.