A Riley cresceu. Não é mais aquela menininha com emoções básicas, como alegria e tristeza. Em Divertida Mente 2, emoções mais complexas nascem. Em especial a ansiedade, o tédio, a vergonha. Crescer significa não ser mais dominado pela alegria e ter sentimentos mais complicados. Isso é muito triste. Mas é assim que a banda toca.
CRÍTICA DIVERTIDA MENTE 2
O estopim para o nascimento das novas emoções é a mudança de escola de suas amigas de longa data. Isso faz com que Riley se veja pressionada a fazer novas amigas, ou então vai ficar pra sempre sozinha – olha a ansiedade aí!
A ansiedade logo domina a mente da Riley, enviando as emoções mais básicas para o fundo da mente. O filme conta, então, duas histórias interligadas. Ansiedade e as novas emoções tentando seu melhor, mas fazendo um estrago típico da adolescência. E as emoções mais básicas lutando para voltar ao topo da mente, onde podem influenciar a Riley de forma mais apropriada.
MINHA MÃE E O CHARLIE CHAPLIN
Quando eu era bem criancinha, minha mãe comentava que ia assistir aos filmes do Charlie Chaplin e todo mundo saía rindo, mas ela saía chorando. Eu demorei muito para entender o que de fato ela estava me falando. Para uma criança, não faz sentido chorar com uma comédia. Demorei ainda mais para de fato sentir na pele o que ela falava. Isso aconteceu hoje.
Divertida Mente 2 é uma comédia adorável. Todos os personagens são fofinhos e o filme é cheio de piadinhas, referências e patetadas. Porém, não é uma comédia vazia. Ele aborda como é difícil crescer. Se dar conta de que a alegria não é mais tudo na sua vida. E faz isso muito bem. Poucas empresas são tão boas de narrativa quanto a Pixar, afinal.
OS DOIS PILARES
Divertida Mente 2 falou comigo em dois pilares. O primeiro é pessoal. Na minha adolescência, fui totalmente tomado pela ansiedade e isso afetou o meu âmago. Me tornou alguém que eu sinceramente não queria ser e que luto até hoje para não me tornar. Neste momento da vida, sinto que estou de volta a um caminho que me leva a ser a pessoa que gostaria de ser, e muito disso se deve à existência da minha filha, que reativou minha alegria e minha ilha da bobeira. Ela é o segundo pilar.
Minha filhinha tem seis anos. Está no fim do que dizem ser a primeira infância. Cá entre nós, ela já sentia ansiedade e tédio muito antes de sentir medo ou nojo. Mas é inegável, as vicissitudes da vida vão transformá-la. E eu torço muito forte para não fazerem o estrago psicológico que fizeram em mim, que com quarenta anos ainda luto para vencer as rejeições e sentimentos de inadequação da adolescência. E tenho medo disso.
Divertida Mente 2 me fez olhar para isso. Para mim, e para minha filha. Me levou a conversar com ela sobre a importância de ela manter vivas a alegria e a ilha da bobeira, duas das características que mais amo nela. Novas cores vão entrar em sua personalidade, mas como a Riley, ela precisa lutar para manter quem ela é. Para que as novas cores a transformem, sim, mas não a desvirtuem completamente. É um assunto pesado. E certamente é mais do que eu esperava pensar quando saí de casa para ver um desenho animado.
SOBRE DIVERTIDA MENTE 2
Mais especificamente sobre o filme como obra, tenho alguns comentários menos interessantes. Em determinado momento, a Alegria chama a Nojinho de “Iffy”, o que gerou estranhamento. Esqueceram de traduzir o nome/apelido da personagem? Outra coisa: Divertida Mente 2 não começa com um curta, algo que eu sempre espero em um novo desenho da Pixar e que me deixa chateado se pararem de fazer.
Embora tenha falado muito pouco do filme em si, tudo isso aí em cima é vital para chegarmos à qualidade de Divertida Mente 2. É uma comédia que faz rir, mas que também faz sentir, desde que você esteja disposto a isso. Como os filmes do Charlie Chaplin que minha mãe falava. É um dos filmes da Pixar que mais falou comigo, e muitos filmes da Pixar já falaram comigo antes.
