Control

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Era uma vez uma época cor-de-rosa em que a coisa mais comum de se ver no circuito do cinema de arte eram romances de cowboys gays. Hoje em dia, os cowboys gays atingiram o mundo mainstream e essa é uma temática típica de oscarizável.

Mas por que diabos eu disse isso? Não, delfonauta, Control, a cinebiografia do suicida do Joy Division não tem nada a ver com Brokeback Mountain. Ainda assim, a cara de filme de arte, que faz de tudo para sair dos padrões, mas ainda assim se encaixa perfeitamente na formulinha do gênero, fez com que eu ficasse a todo momento esperando pela aparição de pelo menos um cowboy gay. E, para ser sincero, a única coisa que faltou mesmo para tornar esse o típico filme de arte old-school foi mesmo a presença de um caipira estadunidense.

Para começar, temos o fato de o filme ser em PB. Não que isso seja necessariamente um problema. O que é um problema é o fato de que o tal Ian Curtis é simplesmente um personagem pelo qual não podemos ter nenhuma simpatia. O cara é um drogado apático (e ele já era assim antes de ter seu primeiro ataque de epilepsia) que canta fazendo caretas assustadoras e vive abandonando sua esposa e filha. Dá para gostar de um cara assim?

A história é completamente focada no relacionamento do cara com a tal tetéia, de nome Debbie (Samantha Morton, uma das precogs de Minority Report). Claro que chamar aquilo de relacionamento é ser gentil, já que os dois basicamente só dormiam juntos (no sentido ZZZzzz da palavra). A banda Joy Division e os detalhes de como chegaram ao sucesso tão rápido são completamente esquecidos em função da batida mensagem de “não é possível ser monogâmico estando em uma banda de Rock”.

É justamente esse foco que acaba com o filme. Seguindo por esse caminho, ele se afasta do cinema de arte e se iguala aos oscarizáveis que infestam os cinemas todo início de ano, ou até mesmo com filmes menores, como o Rock Star, que seguem exatamente a mesma formuleta. Seria legal ver algum filme do gênero que saia do lugar comum de sexo, drogas e Rock. Podiam fazer a cinebiografia do Dee Snider, do Twisted Sister. Afinal, pelo que dizem (e admito que nunca fui atrás para ver se é verdade), o cara é casado há décadas, ignora todas as groupies e não usa drogas. E mesmo assim a vida dele é cheia das controvérsias que atrairiam um grande público (músicas censuradas e o escambau).

Assim, embora não seja um filme exatamente ruim, Control acaba sendo “arte” demais para as amebas que gostam de oscarizáveis e oscarizável demais para os cabeçudos que só assistem filmes em PB sobre cowboys gays em festivais com legendas eletrônicas. No final das contas, só é possível recomendar isso para quem realmente é fã da banda, por mais que seja difícil engolir que a vida do Ian Curtis tenha sido tão absurdamente parecida com a do Ray Charles, Johnny Cash, Ripper Owens ou qualquer outro músico que já teve sua odisséia terrena adaptada para a tela grande.

Curiosidades:

Control estréia comercialmente em 22 de maio, mas a gente adiantou a resenha para não ter que interromper o especial Indiana Jones que começa amanhã.

– No dia 6 de junho chega aos cinemas outro filme baseado na mesma banda. Intitulado Joy Division, esse é um documentário.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
controlGênero: Cinebiografia<br> Elenco: Sam Riley e Samantha Morton.<br> Diretor: Anton Corbijn<br> Distribuidor: Daylight<br>