Scott Pilgrim vs. The World: The Game

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Nesta matéria, a primeira vez que falamos sobre esse jogo, o Homero disse que era o game pelo qual eu esperava desde que terminei o Streets of Rage. E, amigo delfonauta, ele não poderia estar mais certo.

Scott Pilgrim vs. The World: The Game traz de volta um gênero quase extinto: o beat’em up clássico. Seu objetivo é chegar ao canto direito da fase, onde um chefe te espera. Nada te impede de chegar lá além de inimigos. Mate todo mundo para prosseguir. Se encontrar alguma caixa no caminho, nem pense em empurrá-la, simplesmente levante-a e quebre-a na cabeça do inimigo mais próximo, como qualquer homem que se preza e deixe a empurração para funcionários de almoxarifado e guerreiros espartanos mariquinhas. Hell fuckin’ yeah!

LEMBRANDO O PASSADO

E não é apenas no gênero que Scott Pilgrim faz referência aos clássicos do passado, mas também em seus gráficos e sons. Embora seja vendido como uma aventura 8-bit, quem viveu a época sabe que o nível aqui está mais próximo dos 16. Ainda assim, o charme nostálgico permeia todo o jogo.

Os gráficos são em pixel art, ou seja, desenhos intencionalmente pixelados, onde cada quadro é um desenho feito individualmente, como na época de outrora. E justamente por causa disso, tem um sabor artístico muito maior do que em qualquer blockbuster recente. Não dá para negar que o visual é extremamente charmoso, especialmente para aqueles que viveram a época aqui homenageada. Apesar disso, eu particularmente preferiria que os desenhos fossem menos pixelados. Sim, eu entendo a proposta, mas acho que ficaria ainda mais bonito se todas as bordas fossem redondinhas.

Mas a música, amigão, essa é digna de comprar o CD com a trilha sonora. Ela é true 8-bit style, ou seja, totalmente programada, sem instrumentos reais. E a composição delas é simplesmente fenomenal. Sabe como, ao jogar os Marios antigos, você acaba cantarolando junto com a trilha sonora? Aqui isso também vai acontecer. E em praticamente todos os momentos.

Este é um videogame com cara de videogame, coisa que não acontecia há vários anos. E cá entre nós, é ótimo jogar algo assim de novo. Eu nem percebia quanta falta sentia disso até colocar esse game para rodar.

CHEFES

A essa altura você já conhece a história: Scott Pilgrim está com uma garota nova, mas para ficar com ela, ele precisa derrotar seus sete ex-namorados malvados. Assim, o jogador escolhe entre Scott, sua garota Ramona, Kim e Stills e sai ao longo de sete fases distribuindo sopapos como se não houvesse luvas de proteção.

Cada um dos namorados da moça te espera ao final de cada fase, com exceção de uma onde tem o obrigatório combate contra o gêmeo malvado do Scott. E todas essas lutas são muito legais. Temos aqui as melhores lutas contra chefes desde Shadow of the Colossus. A única exceção é uma das fases do último chefe, onde ele fica grandão e… bem, não vou estragar a surpresa, mas esse foi o único momento do jogo no qual eu não me diverti.

Não são apenas sopapos que você vai distribuir por aí, pois praticamente todo o cenário pode ser usado como arma. Achou um saco de lixo? Pegue-o e use-o contra seus inimigos. Afinal, eles vão fazer a mesma coisa com você.

O jogo traz ainda um modo cooperativo (apenas offline) para até quatro pessoas, o que significa que você e três amigos podem sopapear o computador juntos. Uma das principais reclamações por aí é a falta do online, mas para mim isso não faz muita diferença, pois eu gosto mesmo é de jogar com pessoas reais, dividindo a mesma sala. =)

O que faz diferença, no entanto, é a ausência de um sistema de drop in/drop out, que já estava presente até no Streets of Rage ou mesmo no Double Dragon. Aqui, se sua namorada chegar e você estiver jogando, vai precisar sair para o menu para ela poder entrar no jogo.

Tem também um modo destravável via código, chamado survival horror, onde você deve matar a maior parte de zumbis possível até morrer. Nada que realmente valha a pena, mas até aí, é apenas um bônus.

REFERÊNCIAS

Em vários momentos, você vai encontrar referências a clássicos da cultura nerd, não apenas dos videogames, o que vai render boas risadas. Chega a ser óbvio que teremos golpes tirados do Street Fighter, mas aposto que você não esperaria referências ao animê Akira ou uma cópia carbono da fase do Tecnódromo do clássico das Tartarugas Ninja.

Essas referências não afetam apenas o humor, mas deixam tudo ainda mais divertido. É extremamente satisfatório depois de uma batalha difícil contra o chefe de fase, dar o último golpe e ouvir um empolgante “K.O.” enquanto a tela brilha em várias cores.

Contribuem para o charme e a diversão geral os inimigos fazendo caras de desespero quando você elimina vários deles sem perder energia ou mesmo a hora que eles se comunicam via balõezinhos com emoticons.

Ainda temos aqui o mapa do Super Mario 3, a música no menu de pausa “chupinhada” de Battletoads e tantas outras piadinhas legais. Eu poderia ficar falando das referências por páginas a fio, mas vou deixar o restante para você descobrir por conta própria.

COMBATE E UPGRADES

O combate começa bem simples, com um botão de chute e um de soco. Cada vez que você sobe de nível, vai aprender um novo golpe. A princípio esses golpes não parecem fazer muita diferença, pois individualmente não são tão úteis. Porém, quando você já tiver ganhado vários deles, vai começar a alterná-los profissionalmente e vai perceber que a união faz a força.

DEFEITOS

Eu sei que parecia perfeito, mas aqui vem a parte ruim. Infelizmente, este é um jogo que parece ter sido feito sem muito cuidado, pois algumas coisas meio estranhas acabaram passando e o impediram de levar o selo.

Durantes os créditos ou cada vez que você encontra um chefe de fase, aparecem piadinhas em texto, mas o jogo não dá tempo suficiente para você lê-las com calma, quanto mais lê-las e admirar a tela de versus que parece saída de um Dragon Ball. Coisa fácil de resolver com um pouco de atenção.

Outra coisa que não foi pensada direito foi a jogabilidade dentro das lojas. Acredite, é bem difícil navegar aqui e você vai acabar comprando coisas sem querer quando estiver mexendo no menu na pressa para voltar para a pancadaria.

Mas pior, você vê os itens e as descrições, mas não sabe o que o item vai te dar quando comprar. Toda comida dá energia, mas dá também upgrades para algumas das suas estatísticas e você só vai saber quanto e o quê ao comprar – e muitas vezes não vai comprar o apropriado para a situação, pois vai ser no chute. Além disso, algumas comidas podem ser levadas para a batalha e são usadas automaticamente quando você perder toda sua energia, mas não dá para saber quais serão levadas ou quais serão consumidas imediatamente.

Todos os itens que não são comida servem como upgrades. Mas como você vai saber quais estatísticas um CD do Clash At the Demonhead vai aumentar? Só dá para saber comprando – e isso não faz sentido nenhum. Isso não é ser old-school, é ser mal planejado mesmo.

A ideia do jogo, aliás, é que você tenha três vidas para passar de cada fase, mas se você perder duas delas, quando for entrar na seguinte, vai ter apenas uma vida. Em outras palavras, você tem mais chances de passar se cometer suicídio para tentar novamente com as três vidas completas. Não seria mais prático se, cada vez que você voltasse para o mapa, suas vidas resetassem para três?

E já que falamos de falta de capricho, tem até alguns bugs muito feios que acontecem a toda hora. Sempre que você estiver no mapa, pode ver seu status ou sua lista de golpes, mas ao apertar os botões solicitando isso, ou mesmo start para pausar, o jogo vai demorar uns cinco segundos para responder, dando a impressão que ele travou. Um outro é que o jogo dá uma travada toda vez que passa um ônibus na frente da câmera (o que acontece várias vezes na primeira fase). Isso é tão feio que não duvido nada que seja resolvido com um patch.

DIFICULDADE

Esse é um outro ponto que dá a sensação de que o jogo não foi bem planejado. Scott Pilgrim começa muito difícil, mesmo no easy. Nada que dê vontade de jogar o controle no gato, mas ainda assim, difícil, pois com uma sequência de golpes, os inimigos tiram mais da metade da sua energia e o contra-ataque não funciona direito, ou pelo menos não da forma descrita pelo jogo.

Assim, fui jogando até chegar na quarta fase, onde perdi duas vezes seguidas. Daí resolvi jogar de novo as anteriores e comprar todas as comidas, em busca do troféu gourmet. A minha shopping spree me deu upgrades que deixaram o jogo, a partir daí, extremamente fácil. Fácil do tipo “mate qualquer inimigo com três golpes”. Dessa forma, passei das últimas fases com uma mão nas costas, quase sem perder vida. E meu personagem nem estava no máximo.

Daí, quando maximizei meu Scott, resolvi tentar o troféu para terminar na dificuldade mais alta e, quem diria, passei de todas as fases sem perder nenhuma vida. Pelo menos até o último chefe na versão grandona supracitada. Eu cheguei até ali sem morrer, e só ali perdi quatro vidas. E depois que matei o energúmeno, terminei o restante do jogo sem morrer mais. Um pouco mais de regularidade seria bem vinda.

CONSEGUINDO A GAROTA

Scott Pilgrim vs. The World: The Game está longe de ser um jogo perfeito e merecia um cuidado maior em alguns aspectos. Apesar disso, ao jogá-lo você sem dúvida vai pensar que devia ser ilegal se divertir tanto assim.

Temos aqui possivelmente o jogo mais divertido da rede online dos consoles atuais e ele é tão divertido que pode rivalizar até mesmo com os jogos em disco. E, não obstante, custa apenas dez dólares, tornando-o a melhor relação custo-diversão que já vi nos videogames.

Com esse preço e fornecendo tamanha diversão, fica difícil não colocar este jogo como um dos mais recomendados atualmente. Talvez a galera mais nova, abaixo dos 20 anos, não veja muita graça e o considere meio ultrapassado, porém quem tem repertório para sacar as referências e memória afetiva suficiente para curtir os gráficos e as músicas, vai se divertir como nunca. Compre hoje mesmo!

E aguarde, pois já que o filme vai demorar para sair por aqui, até o lançamento teremos algumas outras matérias relacionadas, para manter o aquecimento… bem… aquecido.

CURIOSIDADES:

– Esse jogo saiu para PS3 no dia 10 de agosto e vai sair para Xbox 360 só no dia 25. Com menos de uma semana passada desde o lançamento, essa é a resenha de games mais rápida que já publicamos. =)

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
scott-pilgrim-vs-the-world-the-gameAno: 2010<br> Gênero: Beat'em Up<br> Preco: 10 dólares<br> Plataforma: PS3; Xbox 360<br> Fabricante: Ubisoft Montreal<br> Versao: PS3<br> Distribuidor: Ubisoft<br>