Clive Barker’s Undying

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Apesar de ser um jogo relativamente antigo e até de eu tê-lo jogado há algum tempo, Undying realmente merece uma resenha aqui no Delfos, pois é, definitivamente, o MELHOR jogo de tiro em primeira pessoa que eu já tive o prazer de jogar.

Os mais ligados devem ter reconhecido o nome Clive Barker, presente no título. Ele é o escritor de um dos filmes de terror mais conhecidos da história, Hellraiser, e assina a trama (inédita) do jogo.

Puxa, se um cara famosão escreveu a estória, ela deve ser realmente demais, né? Infelizmente não. A trama de Undying é aquela básica estória de casa mal-assombrada. Cinco irmãos podres de ricos brincam com o que não devem e, a partir daí, coisas estranhas começam a acontecer, causando a morte de quatro deles. Jeremiah Covenant, o que sobrou, temendo pela própria vida, pede ajuda a um homem com conhecimentos místicos que conheceu há muito tempo, chamado Patrick Galloway. Obviamente, o jogador controla Galloway em sua jornada contra as trevas.

Se a estória realmente não é criativa, ela é, sem dúvida alguma, assustadora. E digo mais, Undying é o jogo mais assustador do qual eu tenho conhecimento e talvez o único que eu conheço que realmente merece o selo de recomendação para maiores de 18 anos. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que nunca senti tanto medo quanto senti com este jogo. Chegava ao absurdo de eu não ficar com vontade de jogar. Sim, por medo. E, antes que você ria da minha cara, desafio você a tentar jogar sem ficar tenso ou sem levar algum susto que faça você pular da cadeira.

Muitos fatores contribuem para o clima assustador do jogo. A começar pelos maravilhosos gráficos que, apesar de serem poligonais e feitos há mais de três anos, foram, na minha opinião, apenas ultrapassados recentemente pelos gráficos de XIII, mas aí também é covardia. O som é mais do que assustador. É aterrorizante. Na maior parte do jogo, não existem músicas. Apenas o barulho da chuva do lado de fora da mansão, o barulho de passos e a respiração das criaturas que tomaram conta da casa. A casa, aliás, é outro destaque. A maior parte do jogo acontece dentro dela, e ela é simplesmente imensa. Apesar de seu tamanho, você vai reconhecer diversos cômodos pelos quais vai passar mais de uma vez, porém eles sempre terão algo de diferente. E cada vez mais assustadores, sejam espelhos que refletem o que não está lá ou luzes que se apagam de repente.

Undying apresenta uma jogabilidade inédita, que mistura magia com armas tradicionais, ou seja, enquanto você carrega um revólver com a mão esquerda (botão esquerdo do mouse), a sua mão direita está sempre pronta para um feitiço (botão direito do mouse). Isso mesmo, você pode fazer dois ataques ao mesmo tempo e as habilidades de Patrick, um verdadeiro bruxo, são demais. Sua primeira magia de ataque vai ser o famoso Ectoplasma, uma espécie de míssil mágico que deve ser amplificado assim que possível (existem itens que permitem que você aumente o poder de uma magia), pois será o mais usado. Outra magia muito legal é a Skull Storm, que consiste em conjurar três caveiras (quando completamente amplificado) de baixo da terra e atirá-las sem dó nos adversários. Essa será a magia mais usada nos combates com os chefes.

Existe outra magia que merece um parágrafo só para ela. Chamada Scrye, consiste em ver o que está acontecendo na Quarta Dimensão, ou o que aconteceu no passado. Exemplo: na primeira cena do jogo, você estará no quintal da mansão. Ao lado da imensa porta de entrada, existe um poste. Usando Scrye e olhando para esse poste, você verá um presunto. Sim, uma pessoa enforcada com gotas de sangue pingando no chão, onde já se formou uma poça do líquido vermelho que está, no momento, sendo lambida por ratos. Ficou com medo? Olha, se ficou, é melhor parar de jogar por aí, pois o Scrye revelará muitas outras surpresas desagradáveis durante o jogo. Para saber quando usá-lo, fique atento a um sussurro “Look…” que acontece de tempos em tempos, sempre que você está próximo de um local “Scryável”.

Como se não bastasse o medo que o próprio clima do jogo gera, seus inimigos também não são exatamente personagens da Disney. Você vai lutar com criaturas que vão desde piratas (que nem são assustadores, mas são divertidos de matar) até demônios e mortos vivos passando, é claro, por outros bruxos (ou você achou que você fosse o único estudioso do ocultismo no jogo?).

E ainda tem os chefes que são, na verdade, os quatro irmãos mortos de Jeremiah, além do chefe final, que, de tão previsível, você já deve até imaginar quem é. Aqui cabe uma dica, se você deseja saber como ficaram os irmãos Covenant depois de mortos, use Scrye no imenso retrato de família que está na mansão (você vai saber qual). A maioria dos chefes pode ser derrotado apenas na violência (com exceção do pirata Ambrose que, aliás, é dublado pelo próprio Clive Barker), mas para todos existe uma manha que deixa as lutas mais fáceis. Nenhuma delas é absurdamente difícil e são todas realmente divertidas, apesar de nem todas serem assustadoras.

Mas não se preocupe com os chefes não tão assustadores, pois sustos realmente não faltam nas fases que você vai enfrentar, que envolvem a mansão Covenant, um esconderijo de piratas, uma floresta, um mundo mágico chamado Oneiros (onde você vai aprender a voar) e até uma viagem no tempo para um monastério da Idade Média.

Undying é um jogo quase perfeito. O único defeito do jogo responde pelo seu tamanho: absurdamente longo. Talvez o jogo fosse ainda melhor se tivessem encurtado o longo caminho que deve ser percorrido antes do encontro com o primeiro chefe, a adolescente Lizbeth (uma das mais assustadoras).

Apesar de sua longa duração e da falta de uma opção multiplayer, da qual muitos jogadores sentem falta (eu, sinceramente, não faço questão), Clive Barker’s Undying ainda é um jogo nota 10. Cuidadosamente construído, com uma estória não muito criativa, mas muito bem contada, Undying é uma obra-prima da Electronic Arts e merece ser conferido por todos os admiradores do gênero Terror. E duvido que você consiga jogar com as luzes apagadas.

Clive Barker’s Undying está disponível para PC e Mac.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
clive-barkers-undyingAno: 2001<br> Gênero: FPS<br> Plataforma: PC e Mac<br> Versao: PC<br> Distribuidor: EA<br>