A história é mais ou menos a seguinte: primeiro o cara monta uma banda e escreve uma música chamada Cop Killer. Depois o cara vai fazer parte do elenco da série Law & Order, onde encarna um investigador durão. Conclusão óbvia: esse cara só pode ser mais um traidor do movimento. E como o DELFOS é, por excelência, a casa dos traidores do movimento, falemos do brilhantismo de mais um deles.
Liderado pelo rapper Ice-T, o Body Count é uma banda cuja proposta é fundir o Hardcore e o Rap com letras de cunho político e social. Esse é seu primeiro disco, lançado no ano de 1992, e definido pelo próprio líder como um disco de Rock com mentalidade rap. Definições à parte o que se tem aqui é um trabalho cuja melhor definição é forte. Forte porque mexe com questões delicadas da terra do Tio Sam. Forte porque não faz concessões, forte porque o guitarrista Ernie C. adiciona riffs completamente metálicos aos protestos típicos das letras (ou seriam discursos) de Rap.
Aqui a metralhadora dispara para todos os lados. Naquela que pode ser definida como uma das faixas mais marcantes do disco, There Goes the Neighborhood, há a descrição de uma banda de Rock formada por negros (configuração bastante rara por sinal). A letra é bem bacana e diz o seguinte: here come them fuckin’ niggas / with their fancy cars / who gave them fuckin’ niggas / those rock guitars? / don’t they know rock’s just for whites / don’t they know the rules / those niggers are too hard core / this shit ain’t cool.
As letras de cunho sexista também estão presentes. Na irônica Evil Dick, a sutileza, delicadeza e poética dos versos são comoventes. Diz a letra: “Evil dick likes warm, wet places / evil dick don´t care about faces / evil dick likes, young, tiny, small spaces / evil dick leaves little gooey telltale traces”.
Mas a polêmica ficou mesmo por conta da letra da música Cop Killer. Não dá para deixar de citar mais um trecho das letras, mas dessa vez trata-se de uma introdução, narrada pelo próprio Ice-T:
Cop Killer
This next record is dedicated to some personal friends of mine:
The L.A.P.D.
For every cop that has ever taken advantage of somebody,
beat ‘em down or hurt ‘em,
because they have long hair,
listen to the wrong kind of music,
wrong color,
whatever they thought was the reason to do it,
For every one of those fuckin’ police,
I’d like to take a pig out here in this parkin’ lot,
and shoot ‘em in their muthafuckin’ face
Ouvir isso aí e ver o cara correndo atrás de praticantes de violência sexual na Special Victims Unit é no mínimo um negócio curioso. Bom, se você está cansado da imprensa metálica dizer que não há inovação, que este ou aquele subgênero estão saturados, que as boy bands metálicas já não escrevem músicas como antes, dê uma chance à paz, digo, ao Body Count. É pesado, não é comercial (não vendeu nenhuma cópia) e tem um cara muito macho na capa com um revólver na cintura, umas correntes nas mãos e uma tatuagem com os singelos dizeres “Cop Killer”. Mais trüe do que qualquer Black Metal norueguês, né?
Por tudo isso que está escrito até aqui não é possível outra conclusão; o cara é um tremendo traidor do movimento. Onde já se viu misturar Rap com Metal? Daqui a pouco vão querer misturar Pagode com Metal. Ao permitir a publicação deste texto, fica claro o que todos nós já sabíamos: o Corrales não entende nada de Metal.