Candlemass – Candlemass

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Você talvez nunca tenha escutado alguma coisa do Candlemass, mas com certeza já ouviu falar dos suecos e o quanto eles representam dentro do Heavy Metal. Assim como o Venom “fundou” o Black e o Possessed “inaugurou” o Death, ainda nos anos 80, o Candlemass é o responsável pelo início de um novo sub-gênero: o Doom, com seu primeiro álbum, Epicus Doomicus Metallicus, de 1986. Ok, você neste momento está pensando que o Tio Bruno pirou de vez, já que foi o Black Sabbath quem inventou o Doom Metal em músicas como Electric Funeral e a própria Black Sabbath. Mas se o Heavy mal tinha nascido no começo dos anos 70, como eles poderiam ter criado um sub-gênero? Se pensarmos dessa forma, os ingleses também criaram o Black Metal com N.I.B e o Power Metal com Sabbath Bloody Sabbath. Por esse motivo, virou senso comum afirmar que o Candlemass resgatou essa tradição “Sabbathica” da fábrica dos riffs cadenciados, músicas soturnas, letras melancólicas e tudo mais que o Corrales odeia, desenvolvendo o que hoje conhecemos como Doom.

Mas se os caras já começaram matando a pau logo no primeiro disco, o mesmo não pode ser dito sobre o desenvolvimento da carreira da banda, mais uma vítima das infinitas trocas de formações, brigas internas e aquele “separa e volta” que tanto nos irrita.

Oficialmente, a banda encerrou as atividades em 1999 e, após um retorno bem sucedido com a formação clássica (liderada pelo, digamos assim, exótico vocalista Messiah Marcolin) em 2002, o Candlemass lançou um registro ao vivo (o bem legal Doomed For Life) e uma demo com composições que seriam de um novo trabalho. Seriam porque, logo em seguida, as famosas “diferenças criativas” entraram em ação e a banda se separou novamente em maio de 2004, para desespero dos fãs. Agora em 2005, a mesma formação clássica decidiu deixar as diferenças de lado (pelo menos por enquanto) e presentear seus adeptos com mais um álbum de estúdio inédito chamado simplesmente de Candlemass, sem grandes ilustrações e detalhes na capa, apenas um fundo branco com o nome e uma cruz em preto. Simples assim.

Mas se a capa não chama muito a atenção, o mesmo não se pode dizer das músicas presentes: sem sombra de dúvida, uma das melhores voltas dos últimos anos, deixando para trás nomes como Iron Maiden (e o fraco Brave New World) e Judas Priest (com o bom Angel of Retribution.

A primeira faixa, Black Dwarf, já mostra esse recomeço em boa forma e o mais legal, inovando dentro do próprio estilo que criaram. A música, apesar de trazer todos os riffs e viradas tradicionais ao gênero, é ligeiramente mais rápida do que as composições clássicas do Candlemass e lembra bastante o Metal moderno a la Iced Earth.

Se esse começo assusta os fãs mais puritanos, eles podem comemorar com as ótimas Seven Silver Keys, Assassin of The Light e Copernicus. Agora sim, temos a volta do Doom Metal tradicional de qualidade e essas três faixas poderiam constar tranqüilamente em um dos primeiros trabalhos do Candlemass, com a diferença que a produção agora é mais caprichada. Tudo o que o fã quer está lá: riffs lentos e pesados, cozinha com aquela marcação que mais parece o badalar de sinos fúnebres e Messiah transparecendo sofrimento. Esse é o bom e velho Candlemass.

A quinta faixa, The Man Who Fell From The Sky, é instrumental e toda baseada em um único riff no estilão Black Sabbath. Em seguida, ela abre espaço para mais uma excelente composição, Witches, inspirada também em um som um pouco mais moderno. Todo o CD tem um ótimo balanceamento entre o clássico e o contemporâneo.

Born in a Tank nos remete a uma curiosa influência do Metallica (fase Thrash, mas por falta de matéria, você pode ficar aqui com a resenha do Load), mais precisamente da música The Four Horsemen. Nada muito criativo, visto que a Horsemen também já era inspirada em Children of the Grave do Sabbath, mas todo o clichê gerou uma ótima composição, especialmente em seu refrão.

Spellbreaker segue também o estilão mais moderno e foge um pouco das raízes da banda, sem grande destaque, mas não se preocupe, pois The Day and the Night, a faixa seguinte, é, com certeza, uma das composições mais sombrias da carreira dos suecos e traz novamente o Doom clássico de volta para fechar o álbum com chave de ouro.

O grande destaque dessa volta do Candlemass vai para a dupla de guitarristas Mats Bjorkman e Lasse Johansson. O tempo passou, mas os caras continuam com a mesma fábrica de riffs lentos e marcantes que consagrou a banda há quase 20 anos.

E Messiah Marcolin? Esse é uma figuraça do Heavy Metal e um dos vocalistas mais carismáticos que se tem notícia. Sua voz versátil se encaixou perfeitamente ao novo estilo de composição e, em determinados momentos, o cara me lembrou muito Bruce Dickinson (não, eu não sou louco, ouça e comprove – e aproveite para ler aqui a resenha do mais recente show do Maiden em São Paulo) em seus trabalhos solos, especialmente no Accident of Birth, sem o mesmo alcance, mas com uma linha parecida.

Como você já percebeu, o álbum é legal e curti bastante, mas infelizmente não é acessível a todos os headbangers e isto é explicado pela limitação que o estilo (criado pelo próprio Candlemass, santa ironia) impõe. Vasculhando alguns fóruns na Internet pude perceber que a reação dos fãs mais conservadores às novas composições mais rápidas (e originais) não é das melhores, o que acaba prendendo a banda em uma arapuca e limitando o alcance do som a uma gama maior de pessoas.

Mesmo sendo um estilo subvalorizado dentro do Metal, o Doom está de volta com força total em seu maior expoente. Se você for um fã do Candlemass, ou mesmo apenas um curioso sobre o gênero, pode comprar o novo trabalho dos caras sem medo. Mas atenção, se você nunca ouviu o estilo e está acostumado com algo mais na linha Slayer, essa pode não ser a banda dos seus sonhos. Para um ouvinte mais eclético, o álbum auto-intitulado do Candlemass já entrou certamente na lista dos melhores do ano passado.

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