Amanhã chega aos consoles da geração atual e passada o relançamento de um jogo muito importante. Intitulado Braid, Anniversary Edition, esta nova versão dá a possibilidade a pessoas mais jovens de conhecer um jogo que mudou a cara dos games. A importância de Braid é semelhante à de Doom. Com sua violência, Doom mostrou que os games não eram mais apenas para crianças e avançou muito a mídia tecnologicamente falando.
Já Braid trouxe uma nova forma de maturidade. Ao invés de apelar para o “adolescente revoltado fã de metal” (o que me definia na época do Doom), Braid traz uma narrativa mais profunda e madura. É um jogo adulto, feito para adultos que cresceram jogando os games do Super Mario no Nintendinho. Mas ele não é do mesmo gênero. Pode fazer referências e parecer com os games da Nintendo, mas Braid na verdade é um puzzle plataforma em 2D. E isso, na época de seu lançamento, não era nada comum.
BRAID, ANNIVERSARY EDITION
Quando Braid saiu, eu era um dos órfãos dos games em 2D. Simplesmente não aceitava que não existiam mais jogos assim. Porém, fui seco para jogar um Super Mario, e o que encontrei foi bem diferente. O objetivo aqui é manipular o tempo para coletar peças de quebra-cabeças.
Ele pega a jogabilidade que todo mundo conhece, como pular nos inimigos ou entre plataformas, mas cada peça em suas fases é parte de um quebra-cabeças. Simplesmente não é viável sair pisando em todos os inimigos, ou você vai ter que voltar o tempo para revivê-los.
MECÂNICAS E NARRATIVA, TUDO COMBINANDINHO
O mais incrível para a época é como ele combina suas mecânicas com sua narrativa. Assim como o filme Amnésia faz com sua montagem, a habilidade de voltar no tempo aqui é vital para entender o inevitável twist no final da campanha. Isso tudo era muito marcante em 2008, quando a maioria dos jogos parecia Gears of War. Se houve um jogo que saiu no momento certo, este foi Braid, e seu impacto é sentido até hoje no mundo dos games.
Braid foi um dos primeiros e mais high profile da então nova leva indie. Ele mostrou que era possível ser diferente e que era viável mercadologicamente fazer games mais pessoais e com um orçamento menor. Hoje a indústria se divide entre live services AAA de mundo aberto e os independentes, e Braid foi um dos pontapés iniciais desta segunda leva.
BRAID, ANNIVERSARY EDITION
Esta Anniversary Edition inclui o jogo completo, com um audiovisual retrabalhado. Ao contrário da maioria dos jogos remasterizados, o novo não é necessariamente melhor, apenas diferente. Se liga:
Você pode alternar entre as duas versões apertando a alavanca direita. E a sensação é que são duas versões desenhadas por pessoas diferentes baseadas na mesma maquete. Todas são lindas.
O áudio, por outro lado, sempre me incomodou. Há músicas lindas aqui, mas o áudio as rebobina junto com a ação. Isso faz com que o som seja uma cacofonia incômoda, pois você está sempre mexendo no tempo de alguma forma. Eu realmente gostaria de uma versão de Braid que deixasse as músicas tocarem naturalmente enquanto soluciono os quebra-cabeças.
COMENTÁRIOS E MUNDO NOVO
O jogo tem horas e horas de comentários em áudio, e estes são separados por áreas. Enquanto você navega e interage com os ícones, há portas para novas fases, que incluem novas peças que montam um novo quebra-cabeça no hub do mundo 7.
Sinceramente, para mim, Braid é um jogo cansativo e trabalhoso. Seus puzzles não são difíceis apenas de resolver, mas também de executá-los mesmo depois que você sabe o que fazer. Isso faz com que ele encha o saco bem rápido e, quando finalmente resolvi entrar no mundo dos comentários, após fazer toda a campanha novamente… bom, eu não estava mais com a paciência necessária.
Mesmo assim, jogar Braid, Anniversary Edition em 2024, com minha mentalidade beirando a terceira idade e já sabendo o que esperar, consigo ver sua importância e influência em todo o universo de games independentes que estava surgindo nesta época e que perdura forte até hoje. Eu posso não gostar tanto do jogo, em gênero mesmo, mas sua importância é enorme, e jogá-lo é quase como uma aula de história. Uma que eu vivi, mas que ainda não tinha maturidade para absorver enquanto acontecia.