Blackmore’s Night – The Village Lanterne

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Olá, eu sou o Guilherme Viana. Você me conhece de resenhas como essa detonando o Edguy e essa vangloriando vikings, mas hoje estou aqui para falar de coisas bonitinhas. Ah, e para falar bem, ainda por cima.

Era uma vez um guitarrista ranzinza chamado Ritchie Blackmore. Ele e seus amiguinhos fundaram uma banda maneiríssima conhecida como Deep Purple. Eles gostavam de falar sobre carros velozes, cassinos pegando fogo e noites escuras. O problema é que Ritchie era um cara mal humorado, e até jogava água na cara de uns cameramen em shows. Um dia, Ritchie ficou tão bravo, mas tão bravo que brigou com todo mundo e deixou o grupinho, para tristeza dos fãs. O grupinho acabou indo para o vinagre logo depois.

Depois disso, Ritchie juntou-se com um anão que cantava muito e fundou o Rainbow. Parecia que tudo seria melhor e mais colorido, pois afinal de contas eles cantavam sobre reis de montanhas prateadas e magos malvados que gostam de olhar estrelas, além de desejar vida longa ao Rock ‘n’ Roll. Como coisas boas não costumam durar muito, um dia o anão se aborreceu e deixou o grupo. Foi continuar cantando sobre coisinhas encantadas no seu grupo novo, mas também acabou cantando sobre sabás negros e outras coisas menos fofinhas e menos típicas do Corrales. Bom, esta não é a história do anão e nem do Corrales, então vamos parar por aqui. Ritchie chamou outras pessoas para o lugar dele (do anão, não do Corrales), mas, apesar de até conseguir algum sucesso, resolveu voltar para o seu pessoal antigo do Deep Purple porque ofereceram bastante dinheiro para eles caso voltassem a ser amigos. Ou pelo menos se conseguissem fingir isso.

Infelizmente, algumas coisas nunca mudam: nosso antipático amigo Ritchie continuou de cara feia para com os seus coleguinhas e a tal reunião não pôde durar muito tempo porque ninguém o agüentava. Ritchie deixou o Deep Purple novamente e, vendo que seus ex-amigos lançaram um bom disco sem ele, resolveu lançar um disco do Rainbow também. Foi um fracasso, e os tempos pareciam negros para ele.

Acontece que um dia Ritchie conheceu a Rainha das Fadas e, contrariando todas as histórias politicamente corretas, ao invés de se casar com ela, ele só começou a namorar. Ritchie e a Rainha das Fadas – doravante chamada de Candice Night, ou só Candice (para me facilitar a vida) – gostavam de tocar música renascentista para os amiguinhos no seu castelo. Ritchie toca bandolin e outros instrumentos mais esquisitos, e Candice canta e toca flauta. Ah, e eles têm uns outros coleguinhas ajudando com percussões, corinhos e etc. Os amigos gostavam tanto que disseram para eles lançarem discos. Ritchie e Candice gostaram da idéia, e aí surgiu o Blackmore’s Night (o cara é possessivo, ainda por cima).

Não faço a menor das idéias de como foram as vendas dos discos, mas provavelmente devem ter vendido alguma coisa, pois este aqui da resenha (é, esta será uma resenha de um disco) é o quinto de estúdio, The Village Lanterne. Por enquanto, eles estão vivendo felizes. Se é para sempre, só Deus sabe.

Certo, vamos ao disco. Como o bom delfonauta esperto já deve ter adivinhado, o negócio da “banda” (sempre tive alguma dificuldade em saber se o Blackmore’s Night é banda ou não) é tocar música renascentista. Nos primeiros discos, nem guitarra rolava. Agora Ritchie está menos chato e já toca alguma coisa elétrica junto, o que, torna os álbuns um pouco mais variados.

Outra peculiaridade do Blackmore’s Night é a enorme quantidade de músicas por álbum. Para ser muito sincero (e eu tenho que ser, afinal de contas se trata do DELFOS), não gosto de discos com muitas músicas por vários motivos. Um deles é porque geralmente quando há muitas músicas, algumas (ou várias) estão lá só para encher lingüiça. Outro motivo é que acho cansativo ouvir um disco com muitas faixas, pois quando acaba a última, você nem se lembra mais da primeira. Bem, este aqui tem 14 e mais três de bônus (na versão nacional).

OK, tendo isso em mente, vamos falar um pouquinho das músicas dele.

The Village Lanterne abre com a ótima e animada 25 Years, e segue nessa média com a baladinha que dá nome ao álbum. Depois tem I Guess It Doesn’t Matter Anymore (com aqueles riffs que são a cara do Ritchie Blackmore). Ah, e estou falando só das três primeiras faixas.

The Messenger é uma faixa instrumental acústica bem interessante e com um quê de flamenco. World Of Stone não me chama muito a atenção, mas mesmo assim é uma faixa legal.

Faerie Queen / Faerie Dance começa como uma baladinha fofa e vira aquele negócio meio dançante típico de músicas populares renascentistas. Aliás, mudando um pouco de assunto, alguém aí já viu as roupas que o pessoal usa no Blackmore’s Night? No resto da turma até que fica legal, mas o Ritchie de roupa verdinha de elfo-mágico-da-terra-feliz-e-encantada-que-gosta-de-Nightwish com chapéu pontudo e botas fica muito engraçado. Principalmente porque ele era conhecido como o Homem de Preto (junto com o Tony Iommi que, felizmente, continua segurando a bandeira), diga-se de passagem.

St. Teresa também tem a cara do Blackmore. É curioso como alguns guitarristas têm tanta identidade que basta ouvir duas ou três notas para se saber quem é. Village Dance é outra instrumental acústica engraçadinha e bem curta.

Agora vem um ponto alto para os fãs do Deep Purple: um medley de Mond Tanz (música do primeiro do Blackmore’s Night) com Child In Time. É bem legal ver (ouvir, ok, eu sei) a Candice Night cantando os versos clássicos desse musicão (em tamanho e qualidade) do Purple. Ah, e junto com os riffs da música ainda rolam uns violinos. Pena que não tocam ela inteira.

Streets Of London é uma balada bonitinha que não me acrescenta muito, e é seguida por Just Call My Name (I’ll Be There) que tem a maior cara de música do Rainbow da era Joe Lynn Turner. Ótima, ótima música.

Voltamos agora para o espírito do vamos-bater-palmas-junto com Olde Mill Inn, e depois passamos para outra balada desnecessária-mas-bem-feita chamada Windmills. Embora aí o disco já comece a cansar um pouco pelo tamanho, já está quase acabando.

Por falar em Rainbow da era Joe Lynn Turner, um “cover” de Street Of Dreams é a próxima música. O Blackmore’s Night já tinha gravado uma ótima versão para Self Portrait (Rainbow da época do Dio), e esta aqui não deixa a peteca cair em qualidade. Ótima versão.

O disco teria fechado aí, mas a edição nacional veio com três bônus: a baladinha curta e Pop Call This Love, uma outra versão de Street Of Dreams com o Joe Lynn Turner e a Candice Night nos vocais que, na minha opinião, ficou até mais legal que a original do Rainbow, e uma versão editada para rádio de All Because Of You (que podia perfeitamente tocar mesmo em rádios ao invés dessas drogas que não saem delas).

Bem, esta resenha foi uma prova de que nem só de Slayer e Darkthrone eu vivo. Os tempos mudaram, hein? Disco legal, não? Pois é, é mesmo, e ainda tem uma grande vantagem. Nós aqui no DELFOS só costumamos resenhar CDs que recebemos das gravadoras e discos importantíssimos, mas, neste caso, resolvemos prestigiar uma outra coisa – o preço do CD. O selo Cid lança todos os seus discos por um preço super acessível (em torno de R$ 15). Em tempos de discos custando R$ 39, é bom ver que alguém ainda se preocupa em trazer coisas legais a preços justos. Olha o dito cujo aqui, por sinal. E apenas a título de curiosidade, trata-se de um dos discos mais vendidos pelo DELFOS desde seu lançamento. Mais até do que os álbuns de grandes bandas como Iron Maiden ou Blind Guardian.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
blackmores-night-the-village-lanterneAno: 2006<br> Gênero: Música alegrinha<br> Artista: Blackmore's Night<br> Número de Faixas: 17<br> Produtor: Pat Regan<br> Gravadora: Cid<br>