Be Cool – O Outro Nome do Jogo

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Se existe uma coisa mais patética do que remakes é refazer uma cena famosa para um filme que não tem nada a ver com o original e tornar isso o tema principal da divulgação da película. É o caso de Be Cool – O Outro Nome do Jogo (nome horrível que visa fazer uma alusão ao título da primeira parte: O Nome do Jogo), que reúne John Travolta e Uma Thurman em uma cena de dança, esperando que a lembrança de Pulp Fiction (na falta de resenha deste, fique com as duas partes de Kill Bill AQUI e AQUI) leve mais pessoas ao filme única e exclusivamente para ver os dois dançando novamente.

Se Be Cool tem tamanha falta de confiança no próprio taco, deve ser porque ele é um lixo, certo? Errado. O filme é legal pra caramba. Na verdade, é minha polêmica opinião que eles deveriam cortar essa cena da dança que nada acrescenta a história e divulgar o filme pelo que ele é: uma comédia bem divertida na linha de Doze Homens e Outro Segredo. Ou seja, fazendo piadas com a própria carreira dos atores e com o ramo do cinema em si. Sim, é verdade. Pessoas que não têm um repertório razoavelmente grande no assunto não vão achar tanta graça nas diversas referências feitas a outros filmes ou mesmo ao funcionamento do showbusiness.

O enredo é o seguinte: Chili Palmer (John Travolta) não agüenta mais a desonestidade do meio do cinema. Então decide usar seus contatos e, principalmente sua lábia, para entrar no ramo da música. Chili conhece a cantora Linda Moon (Christina Milian) e fica impressionado pelos dotes da guria. Ao ver que a dita-cuja está presa a um contrato injusto, decide tomá-la para si e lançá-la da forma que ela merece. Só que os caras que assinaram um contrato com ela (Vince Vaughn e Nicki Carr) não ficam felizes com isso. E Chili está prestes a descobrir que o mundo da música é ainda mais desonesto que Hollywood.

Os grandes destaques do filme vão para duas piadas que sempre dão certo: o estereótipo do negro “mano” estadunidense e o do gay não assumido. No papel do primeiro, temos uma banda de Rap chamada DubMD’s, cujo líder, Dabu, é interpretado por Andre Benjamin, o Andre 3000 da dupla Outkast. E não é que o cara mandou bem como ator? Para começar, já não caiu naquela babaquice de usar seu nome rapper, tipo o Mos Def, de O Lenhador, optando por um nome “de verdade”. E além disso, o cara teve a sorte de pegar um personagem bem legal, um gangsta que vive morrendo de vontade de atirar em alguém, como criança com um brinquedo novo. Aliás, quando o grupo DubMD’s entra em cena é sempre muito engraçado, pois rola um daqueles Raps do tipo “Mamãe, olha como eu sou mau” cheio de bitches e motherfuckers. O único problema é que, para não ganhar a temida classificação “R”, optaram por não manter todos os palavrões que a “tribo” costuma utilizar em seus diálogos, impedindo que essas cenas chegassem ao nível de graça de um Eu, Eu Mesmo e Irene, por exemplo.

Na papel do outro estereótipo, o do gay não assumido a la Mr. Garrison, temos o grandalhão The Rock. Aliás, acho que virei fã desse cara. Depois de estrelar o assaz legal Com as Próprias Mãos, o lutador de luta livre volta com um papel ainda mais divertido. Preste atenção na letra da música do seu videoclipe. Você vai rachar de rir. A trilha sonora também é bem legal e tem até gente brasileira, como Elis Regina e Tom Jobim (este último em uma versão do Black Eyed Peas).

Para o leitor que já estava esquecendo que essa é uma resenha delfiana, vamos aos defeitos. O maior deles atende pelo nome de Vince Vaughn (o mocinho de Com a Bola Toda). O cara teve a sorte de pegar o papel que tinha tudo para ser o melhor do filme: o do branco que fala e age como negro (alguém lembrou do Eminem? Ou quem sabe do Chorão?). O problema é que ele simplesmente não soube aproveitar. Diz ele no release que se preparou e tal, mas o cara age quase da mesma forma que fazia em seus filmes anteriores. Ele deveria ter tido umas aulas com o Vanilla Ice para saber como agir como negro estadunidense. 😉

Apesar de Vince Vaughn e da cena de dança, Be Cool merece ser assistido. Não vai mudar sua vida ou algo do tipo, mas garante umas duas horinhas de diversão. E, no fim das contas, é para isso que um filme serve, né não?

PS: No press-release, a cantora Christina Milian comenta que o mundo da música é exatamente como é mostrado no filme. Ora, se todo mundo sabe disso, o que as autoridades estão esperando para prender o mundo da música estadunidense inteiro? 😛