A semana na qual escrevo esta resenha – que rolou mais de um mês atrás – foi a semana do cinema nacional. Três filmes brasileiros (Sonhos Roubados e Olhos Azuis são os outros dois) em três dias quase consecutivos. E sabe o que é mais legal? Os três são bons, sendo que Olhos Azuis e este são excelentes.
Ver três bons filmes brasileiros consecutivamente dá uma boa sensação de “agora vai!”. Será que finalmente vamos conseguir fazer cinema de verdade – e com variedade de gêneros? Torço para isso, mas, enquanto isso, falemos do motivo para este texto existir.
Daniel é um adolescente que não conhece o pai e cuja mãe casou com outro sujeito. Ele tem uma namorada e um melhor amigo. A namorada, como toda mulher, é complicada e não sabe o que quer. Por isso, eles acabam se separando, causando uma tensão com Lucas, o seu melhor amigo, que também está a fim da garota. Paralelamente, o pai do moleque, que está na Tailândia, resolve dar sinal de vida e começa a mandar fotos e cartas para o filhote.
Humano é a melhor palavra para definir esse filme. É uma história sobre pessoas, com problemas de pessoas e, principalmente, muito sentimento. De fato, a sinopse pode não parecer grande coisa e o longa parece não chegar a lugar nenhum, mas como já disseram vários filósofos, a viagem é o que importa. E que viagem é essa!
O que torna tudo tão especial é o sentimento. E não tem jeito, filmes sobre pessoas precisam ter sentimento – não é a mesma coisa que fazer helicópteros explodirem ou coisas do tipo. E nas raras vezes em que isso é alcançado, uma jóia rara é formada, talvez ainda mais bela e rica do que se fosse apenas uma coletânea de helicópteros explodindo (aliás, como ainda não pensaram em fazer isso?).
Daniel a príncipio não tem interesse nenhum nas tentativas de contato do pai. Provavelmente pensa que ele é um sujeito sacana que o abandonou ou algo assim. Claro, as coisas são mais complicadas, e é o que torna tudo tão bom.
Isso também vale para o triângulo amoroso dos três adolescentes. Apesar de rolar a animosidade natural causada pela disputa pelo coração da moça, eles claramente se gostam e têm bastante afeto um pelo outro. Para colocar isso no universo nerd, aproximaria do Professor Xavier e do Magneto que, embora tenham ideias políticas opostas, ainda conservam a amizade de outrora.
Se a história e a condução já não tivessem um apelo emocional enorme, a trilha sonora ainda é sensacional, com belas músicas levadas ao violão. Não dá para não se emocionar.
O único defeito que consigo apontar está na irregularidade das atuações. Na maior parte do tempo, elas são excelentes, mas em algumas partes dá para sentir uma falta de naturalidade, mesmo em atores que estão bons em outras cenas.
A gente vive reclamando aqui da monotemática do cinema nacional, então agora é nossa obrigação reconhecer e recomendar este filme – que não só trata de temas diferentes e muito mais humanos, como ainda por cima é excelente, com potencial para entrar nos melhores do ano. Não perca!
Curiosidade:
– Se este filme ainda não está passando na sua cidade, aguarde. Segundo a Imagem Filmes, ele estreia esta sexta, primeiro em Porto Alegre, e se espalha pelo resto do país nas semanas seguintes.