Não se engane pelo nome. Anjos da Vida, suposta tradução de The Guardian, o nome original do filme, é muito mais legal e emocionante do que a maioria dos filmes insossos com a palavra “anjo” no título. Apesar de eu achar que, no caso deste drama, ela está lá só para ganhar uma parcela do público sentimentalista barato, já que a sinopse em si pouco tem haver com o povo brasileiro, e o nome não revela nada sobre a proposta da película.
Falando nela, vamos à sinopse: Ban Radall, interpretado por Kevin Costner, é um experiente mergulhador da Guarda Costeira dos EUA. Dono dos maiores recordes de velocidade e tempo, só há uma coisa com a qual ele se importa: a segurança das vítimas da fúria do mar. Ao passo em que ele dedica quase todo o seu tempo a salvar vidas, a sua esposa, personagem de Sela Ward (de O Dia Depois de Amanhã), não anda muito satisfeita. O pouco tempo disponível do marido a leva a querer a separação, e a sidequest de Radall em Anjos da Vida é reconquistá-la. Quase ao mesmo tempo, ele sofre um grande choque em seu trabalho, em um evento causador de grandes seqüelas à sua vida sentimental (e futuro gerador de noites mal dormidas). Quer saber do que se trata? Lamento, caro amigo delfonauta, mas você terá que assistir ao filme. E, quer saber? Vale a pena, acredite.
O que importa é que, mesmo a contra gosto, Ban é transferido para uma unidade de recrutamento da instituição, e lá ele encontra Jake Fischer, interpretado por Ashton Kutcher (o Kelso da série That 70’s Show). E a personalidade conflitante de ambos (o experiente decadente versus o prodígio ascendente) guiará grande parte do filme a partir daí.
Como você já deve ter visto no número de dragõezinhos acesos aí do lado, eu gostei do filme. Gostei bastante, para falar a verdade. As (não muitas) cenas de ação do filme são bem interessantes e muito bem rodadas. Dão aquele clima de tensão ao espectador na medida certa, mas sem exageros ou sustos forçados. Você acaba percebendo os atrativos de ter uma profissão tão perigosa, mesmo que, conforme explicado no início do filme, mal remunerada, bastante ignorada e, muitas vezes, até vítima de preconceito. Pegando uma citação do filme, “os marinheiros só dão valor à Guarda Costeira quando precisam dela” (ou algo assim).
Além disso, as cenas de interação Costner e Kutcher funcionam muito bem. O primeiro, em uma curiosa analogia ao seu papel no filme, mostra que ainda dá conta do recado. E o Kelso tem sucesso em desvincular-se da sua imagem de palhaço burro do seriado em que participou durante tanto tempo, apesar de não se sair tão bem em cenas de mais destaque. A trama em si também se desenvolve de maneira bem eficiente, mas alguns cortes lá para o meio do filme (tá, nós já entendemos o que os caras têm de passar para virar mergulhadores da Guarda Costeira) fariam bem para a dinâmica do filme. A realidade, um tanto quanto distante do cotidiano brasileiro, pode ser tanto uma vantagem quanto uma desvantagem, dependendo do espectador. Alguns podem sentir dificuldade de imaginar o porquê de uma profissão como essa ser tão importante ou até de entender o patriotismo não tão bem escondido nas entrelinhas do filme, mas outros certamente vão encontrar bons atrativos para entender melhor a linha de pensamento e a cultura do povo norte-americano.
No final, isso tudo é pouco importante, porque Anjos da Vida é um filme bem amarrado, com bons atores e um enredo que foge do que estamos acostumados a ver, apesar de não ser excepcionalmente brilhante. A tentativa de focar em uma profissão pouco explorada pelas câmeras de Hollywood é muito bem sucedida, principalmente para aqueles que já estão cansados dos temas saturados dos dramas modernos. Só não espere por um vencedor de Oscars, porque aí você pode se decepcionar.