We Happy Few é o segundo jogo da Compulsion Games (o anterior é Contrast) e provavelmente o último dela a ser lançado para PS4, uma vez que a desenvolvedora foi adquirida pela Microsoft. Esta é nossa análise de We Happy Few.
QUANDO A VIDA ENCHER O SACO, TOME UMA ALEGRIA
We Happy Few acontece em um passado distópico onde todo mundo é feliz. Esta felicidade, no entanto, vem através do uso de uma droga chamada joy (alegria, em português). A história do jogo se inicia quando Arthur Hastings resolve parar de tomar sua joy. Isso o transforma em um downer (algo como “depressivo”).
Como na vida real, a sociedade odeia depressivos, e reage agressivamente à presença deles. Quando os colegas de Arthur percebem que ele pulou um joy, começam a perseguí-lo até que ele fuja da cidade.
Parar de tomar joy lembrou nosso amigo de seu irmão, de quem foi separado quando criança. No campo, rodeado de outros depressivos, Arthur inicia sua aventura em busca do irmão, que provavelmente está na Alemanha ou Rússia. Antes de se preocupar com a ausência de uma localização precisa, ele precisa escapar de Wellington Wells, e para isso precisa passar por vários desafios.
WE HAPPY FEW
O gameplay é bastante semelhante ao de Dead Island e Bioshock. Basicamente, você explora os cenários revirando mesas e latas de lixo em busca de itens. Ao mesmo tempo, quando está em uma área de acesso restrito, deve se esconder dos inimigos. Ao ser avistado, rola combate, que é de corpo a corpo.
Você pode usar coisas como pás para bater nos desafetos, mas também é possível usar o crafting para criar novas e mais poderosas armas. O combate, porém, não é o foco por aqui.
We Happy Few é um daqueles jogos de mundo aberto com missões predominantemente lineares. Eu gosto disso. A maioria das missões coloca o jogador em um prédio ou uma área restrita que deve ser explorada com cuidado para avançar a história sem ser assassinado pelos guardinhas.
Em vários momentos, você é obrigado a tomar joy para progredir, e isso traz vários efeitos. O primeiro, e mais perceptível, é também o mais legal. Assim que você engole um joy, tudo fica mais colorido. Borboletas e arco-íris aparecem e até a animação do personagem andando é diferente e bem mais engraçada.
Se pudesse, eu ficaria todo o jogo sob o efeito de joy.
ALEGRIA TEM SUAS REPERCUSSÕES
Infelizmente, isso não é recomendável. O joy dura pouco tempo, e quando o efeito termina, seu personagem fica triste, gerando reações violentas de todo mundo que estiver por perto. Este efeito dura cerca de dois minutos, então sempre que um joy acaba, ou você morre, ou você se esconde e fica parado esperando por dois minutos. Não é legal.
Você pode simplesmente tomar um outro joy antes de acabar, mas tomar muito também tem seus efeitos colaterais. Pode rolar uma overdose ou um episódio de perda de memória. Em ambos os casos, o efeito é o mesmo: pessoas ao seu redor se tornam agressivas e você precisa se esconder até o efeito passar.
Ao contrário do que costuma rolar em outros jogos de mundo aberto, esta agressividade não se estende apenas aos guardas, mas a absolutamente todos os NPCs. Qualquer pequena falha (correr, pular ou usar uma roupa inapropriada também irrita as pessoas) coloca dezenas de personagens atrás de você. E é quase impossível fugir, uma vez que há NPCs espalhados por toda a cidade. É como estar deprimido na vida real.
É UM MUNDO ABERTO, VAMOS EXPLORAR!
Isso tudo acaba sendo mais pentelho no começo. Depois de um tempo, você pode comprar upgrades que tornam os NPCs menos irritadiços e consegue evitar tomar joy. Além disso, são efeitos que só afetam a parte mundo aberto da coisa, uma vez que nas missões propriamente ditas, todo mundo é naturalmente agressivo.
No mundo aberto, há uma infinidade de sidemissions, e todas são focadas na história. Aliás, We Happy Few é um jogo totalmente narrativo, o que é surpreendente dada suas raízes como um roguelike de sobrevivência.
Aliás, há mecânicas de sobrevivência aqui, mas elas são bem secundárias. Ficar muito tempo sem comer, beber ou dormir causa efeitos na sua stamina, que fica mais limitada ou é consumida mais rapidamente. Há um upgrade que deveria eliminar estes efeitos, mas eu o adquiri e eles continuaram aparecendo. Aliás, há bugs absurdos por aqui, mas falo disso em breve.
Felizmente, a dificuldade é bastante customizável. Você pode aumentar ou diminuir cada aspecto do stealth, combate ou mesmo do modo de sobrevivência. Assim, é possível tornar o combate de We Happy Few bastante difícil e o stealth bem fácil ou vice-versa, de acordo com suas preferências.
FALEMOS DOS BUGS
We Happy Few é um jogo em uma escala que não costumamos ver muito na geração atual. Não é um indie em 2D, mas também não é um AAA. Ele está em um meio termo, e é bastante ambicioso. Seu visual cartunesco, por exemplo, é bem bonito e colorido, e o jogo tem suporte a HDR.
Esta ambição, por outro lado, veio com um preço, e tecnicamente ele é uma bagunça. Estes foram alguns dos bugs que eu encontrei.
- Upgrades que não funcionam: exemplos incluem eliminar os efeitos adversos da fome, sede e sono, mas também takedowns em médicos, que têm um campo específico na skill tree, mas mesmo depois de adquirido não é utilizável.
- Missões que não avançam depois de cumprir o objetivo. Uma, em especial, chamada Simon Says, exigiu restaurar meu último save e fazê-la desde o início de novo.
- Ícones de missões e colecionáveis cumpridos não somem do mapa, tornando-o uma bagunça.
Há também problemas que talvez venham de uma falta de experiência dos designers. Uma missão exigia que eu invadisse uma casa. Fiquei um tempão procurando por onde invadir, morri um monte de vezes e finalmente consegui entrar. Ao chegar lá, para poder cumprir a missão, precisava de um item que eu não tinha. Ou seja, tive que fugir com o rabo entre as pernas e voltar horas depois, quando consegui o maledeto. É o tipo de coisa que não deveria acontecer.
UM JOGO INFINITO
Apesar de ser tão focado na história, We Happy Few tem uma característica incomum dentre seus congêneres. Ele é praticamente infinito. A Compulsion Games divulgou que se trata de um jogo de 20 horas, mas pela minha experiência ela mentiu. O mais curioso é que ela mentiu para baixo.
Eu joguei por 45 horas até concluir a história do Arthur. E daí, quando ela conclui, você inicia o Ato II, uma nova história com outra personagem. E ainda tem um terceiro personagem depois desta. É longo demais para mim, especialmente para esta época do ano de grandes lançamentos.
Dado o tamanho da história do Arthur, pensei que as outras seria curtinhas, tipo epílogos, mas a julgar pelo índice deste guia, tem mais ou menos a mesma quantidade de missões para cada personagem.
Eu pretendo voltar a We Happy Few para terminar sua história eventualmente, mas por enquanto a história do Arthur já foi o suficiente para mim. We Happy Few tem alguns problemas, mas conta uma boa história com um visual bem estiloso e colorido. Se a proposta lhe apetece, vale uma conferida.