Amigo delfonauta, temos nesta resenha o jogo que certamente será a maior surpresa do ano, quiçá da década. Shaq Fu: A Legend Reborn é a continuação de um lançamento de 1994 estrelado pelo jogador de basquete Shaquille O’Neil e considerado por muita gente um dos piores jogos da história.
Tratava-se de um jogo de luta em 2D muito do mequetrefe. Shaq Fu: A Legend Reborn se aproveita do que o original tinha de legal (basicamente o nome) e cria algo totalmente novo, mudando o gênero e acrescentando uma boa dose de humor. E mais, ainda traz um delicioso gostinho de jogo de fliperama de 1994.
UM POUCO DE HISTÓRIA
Agora Shaq Fu é um beat’em up. O gênero fazia muito sucesso nos fliperamas nos anos 90, e basicamente duas desenvolvedoras competiam pelo espaço. De um lado, a Capcom, com jogos como Final Fight, Cadillacs and Dinosaurs e Dungeons & Dragons, respondia por algo mais técnico. Nestes jogos, as lutas eram mais deliberadas e envolviam combos, estratégia e às vezes até upgrades.
Do outro, tínhamos a Konami, lançando coisas como Tartarugas Ninja, Simpsons e X-Men. Estes eram jogos mais simples do que os da Capcom. O combate era bem button masher, mas eles tinham um visual colorido que chamava a atenção e o fato de trazerem personagens conhecidos os ajudava a ficar na boca do povo.
Desde então, muitos jogos tentaram emular a sensação que tínhamos no fliperama. Normalmente, eles fazem isso através de visual pixelado e/ou dificuldade alta, com vidas limitadas. Eu sempre senti que estes lançamentos não conseguiam entender o que realmente deixava a experiência dos fliperamas especial. Fast-forward para 2018, quando entra…
SHAQ FU: A LEGEND REBORN
Os fliperamas não eram legais por serem retrô. Muito pelo contrário, eles eram o ápice da tecnologia de jogos da época. Os jogos das Tartarugas Ninja, por exemplo, eram impressionantes por emularem perfeitamente o visual do desenho animado, terem uma pá de vozes e até músicas cantadas. Tudo isso está presente de alguma forma em Shaq Fu: A Legend Reborn. Pois é, se a maioria dos beat’em ups de hoje em dia é influenciado pelos da Capcom, aqui a coisa vai mais para o lado da Konami.
Obviamente, não há um desenho para os gráficos se basearem, mas eles trazem um visual cartunesco em 3D muito simpático e cheio de efeitos visuais. Por exemplo, lembra em Turtles in Time, que você podia jogar os inimigos na direção da tela da TV?
Tudo que era legal nos anos 90 aparece por aqui. Rola um zoom em alguns momentos, tem músicas cantadas pelo próprio Shaquille O’Neal (e ele até se dá bem como rapper) e cutscenes desenhadas a mão totalmente animadas e com vozes. E o melhor, o roteiro é MUITO engraçado. Engraçado do nível Corra que a Polícia Vem Aí, de gargalhar várias vezes por fase. Aliás, a comparação com o clássico filme estrelado pelo saudoso Leslie Nielsen é muito bem-vinda, uma vez que Shaq Fu 2 traz o mesmo estilo de humor bobo e inocente que tanto me agrada.
Um exemplo está na primeira tela de load que apareceu para mim. Dizia ela: “Use as armas que você achar. Que dica fantástica. Ah, também não esquece de respirar!”. Durante boa parte da história, Shaquille se identifica como um homem chinês, o que causa comentários de seus inimigos. Um deles falou algo tipo “vem aí o afro ninja”, ao que o herói responde: “ninjas são japoneses. Eu pareço japonês para você?”. Há dezenas de momentos assim, tanto nas cutscenes quanto durante o gameplay, o que fazia com que eu risse quase ininterruptamente.
UM BEAT’EM UP RÁPIDO E DIVERTIDO
Não falei muito até agora sobre o gameplay em si, né? É porque neste aspecto ele não traz grandes novidades. Se não fosse o visual moderno, daria para dizer que ele foi criado e lançado entre os fliperamas da Konami, logo após o clássico dos X-Men. Pelo menos na sensação de jogar.
De fato, as mecânicas de Shaq Fu 2 são um tanto mais complexas. Há três botões de ataque. O básico (o X no Xbox One) e o finalizador (o B). Este coloca ainda uma bem-vinda dose de Battletoads, pois ao apertar o B no final de um combo, Shaquille vai dar um chutão.
Por fim, há também o Y, que faz o tradicional ataque em área, mas ao invés de ele tirar da sua vida quando utilizado, ele usa sua barrinha de mana (os quadradinhos amarelos na imagem acima). Em alguns casos, você também pode fazer ataques especiais apertando um dos gatilhos ou dar uma corridinha com o LB ou o RB. Aí, de vez em quando, Shaq faz uma finalização estilosa, envolvendo zoom e câmera lenta, que ajuda a deixar tudo mais dramático.
Este é o básico, mas assim como os bons fliperamas dos anos 90, cada fase traz muitas surpresas.
VARIAÇÃO IMPRESSIONANTE
Para começar, cada estágio é habitado por inimigos diferentes, algo que eu acho muito legal, e ajuda a tornar a exploração mais única e divertida. Porém, mesmo as mecânicas vão ganhando pequenas doses de novidades conforme você avança. Há muitas armas com efeitos diferentes. Um barril, por exemplo, pode ser rolado no chão, com direito a barulho de pinos de boliche quando acertar os inimigos.
Mais legal ainda são uns power ups que transformam o herói em alguma coisa mais poderosa. Tipo um cacto.
Estas transformações, que aparecem em momentos específicos da campanha, modificam totalmente a jogabilidade e acrescentam à variação, em um gênero que muitos consideram deveras repetitivo. Só é uma pena que não haja mais delas.
E, claro, em cada fase há pelo menos um chefe, e estas batalhas também vêm recheadas de minigames, variações e piadas.
Shaq Fu: A Legend Reborn não é um jogo longo. Tem seis fases que duram entre 15 e 20 minutos cada. Dá para jogar a campanha inteira em pouco mais de duas horas, e esta me pareceu uma duração apropriada.
RETRÔ, MAS COM COMODIDADES MODERNAS
Todas as missões têm vários checkpoints e vidas infinitas, e dá para escolher qualquer checkpoint pelo qual você já tenha passado e qualquer dificuldade pelo menu. Isso mostra como Shaq Fu 2 foi bem planejado, pois consegue recriar a experiência dos arcades dos anos 90 de forma quase perfeita sem abrir mão das comodidades modernas e respeitando o tempo do jogador.
Eu não tinha expectativas para Shaq Fu: A Legend Reborn. Ou melhor, esperava que ele fosse uma porcaria, uma continuação para um jogo do qual ninguém gosta, feita a toque de caixa para faturar alguns trocados fáceis. O que encontrei foi o melhor representante em anos de um dos gêneros que mais marcou minha infância.
Quando terminei Shaq Fu: A Legend Reborn, eu fiquei sinceramente com vontade de aplaudí-lo. Finalmente uma desenvolvedora parece ter entendido o que realmente deixava os fliperamas dos anos 90 tão especiais, e conseguiu criar um jogo excelente e muito divertido com estas características. Diante disso, não tenho outra opção a não ser conceder a ele o tão cobiçado Selo Delfiano Supremo. Se os arcades das Tartarugas Ninja e dos Simpsons marcaram sua infância, faça um favor a si mesmo e jogue Shaq Fu: A Legend Reborn.