Normalmente quando um jogo antigo ganha um remaster, são jogos conhecidos. Games que eu joguei no passado, ou dos quais ouvi falar bastante na época. Powerslave (Exhumed na Europa) é uma exceção. Eu ouvi falar dele alguns meses atrás, quando fazia minhas pesquisas para escrever sobre Quake. Pouco depois, fiquei sabendo que ele ganharia uma nova versão, pelas mãos da excelente Nightdive que também atualizou Quake. E cá estamos nós, iniciando minha análise Powerslave Exhumed.

VERSÕES DIFERENTES DE POWERSLAVE EXHUMED

Lançado em 1996 para Saturn, PS1 e PC, Powerslave ou Exhumed tinha três versões bem diferentes. A de PC seguia a linha de games como Quake Doom. Suas fases eram labirintos cheios de portas trancadas. Porém, embora você pudesse jogá-las novamente, a progressão era linear. Para continuar a campanha, era sempre necessário jogar a fase mais avançada.

As versões de console eram diferentes entre si, em cenários, inimigos e até algumas fases, mas mantinham a mesma progressão metroidvania. E Powerslave fez isso bem antes de Metroid Prime. A versão que saiu em fevereiro de 2022 feita pela Nightdive é baseada nesse metroidvania dos consoles. Mas a Nightdive tomou alguns cuidados para pegar o que havia de melhor tanto no PS1 quanto no Saturn e assim fazer uma versão definitiva.

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Na imagem: a versão definitiva.

Só acho uma pena que não tenham dado um jeito de incluir uma campanha separada com a versão de PC. Ora, Quake trouxe campanhas totalmente novas e ainda a possibilidade de baixar add-ons, como a versão do jogo para Nintendo 64. Poderiam incluir a versão de PC aqui, mesmo que fosse apenas um bônus.

TELL ME WHY I HAD TO BE A ANÁLISE POWERSLAVE EXHUMED

Powerslave Exhumed era um jogo com cenários poligonais, como Quake, mas com inimigos e sprites em 2D, como Doom. O visual é legal, lembra bastante as coisas que a própria Id Software fazia na época, e eu adoro a temática egípcia. Porém, assim como os clássicos da Id, não há muita variação de cenário. O que há, no entanto, são fortes variações de gameplay.

O jogo combina tiroteios com plataforma surpreendentemente elaborada. Como um bom metroidvania, você está sempre ganhando novas habilidades. Pular mais alto, andar pela lava, nadar e flutuar. Esse tipo de coisa. Sem contar, claro, as novas armas, que são bem diferentes umas das outras.

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No início do jogo, um cabeção de Ramsés fala para você seguir em frente, e voltar quando tiver dúvidas. Daí você segue o único caminho possível. E por ele vai passar por água que você não pode explorar e pulos que não consegue fazer. Não demora para adquirir a habilidade de um pulo mais alto. E daí você popa na frente do amigão da cabeça, e ele vai falar para você voltar para a primeira fase, onde seus novos poderes lhe darão acesso a uma nova área.

Powerslave Exhumed é um metroidvania, porém é dividido em fases ao invés de um único mapa aberto. Se você é velho como eu, pense em Quackshot, e terá uma boa ideia de como a campanha evolui.

I DON’T WANNA DIE, I’M A GOD, WHY CAN’T I LIVE ON?

Isso é uma faca de dois “legumes”. Essa progressão mais complicada foi o que tornou Powerslave de consoles importante em 1996, ao mesmo tempo que fez sua versão de PC mais linear passar batida. E o fato de que na época era entendido que os melhores FPS estavam no PC, fez muita gente ter tentado essa versão, não achado nada demais e nunca tentado as de consoles.

Ao mesmo tempo, tenho minhas dúvidas de que o jogo realmente ganha com isso. Ramsés em geral te fala para qual fase ir quando você adquire novos poderes, mas é inevitável que a coisa fique repetitiva quando você precisa entrar na mesma fase pela quarta vez para procurar uma nova saída. E sim, há segredos e upgrades de vida que podem ser destravados com novas habilidades, então a coisa é bem tradicional de jogos de exploração. Muitas vezes os novos poderes te colocam de cara na nova saída, mas em outras você tem acesso a todo um pedaço extra da fase no qual não tinha brincado antes.

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Esses bichos me mataram mais vezes do que todos os chefes juntos.

Powerslave Exhumed é um jogo que exige bastante atenção. Mesmo quando você está em uma progressão linear de fases, elas são extremamente complexas. O level design está mais para as últimas de Doom 2 do que as primeiras de Doom 1, entende? É muito, muito fácil ficar perdido em uma fase, sem saber para onde ir. E mesmo na dificuldade mais baixa, Powerslave Exhumed é bem desafiador. Ele tem checkpoints, do estilo que salva sua vida e munição, e pode te deixar preso sem possibilidade de vencer. E não tem quicksaves, como Quake ou Doom. Isso o torna bem tenso, mesmo não sendo um jogo de terror.

FOR HE IS A MAN AND A GOD AND HE WILL DIE TOO

Eu fico um pouco dividido no aspecto metroidvania da coisa toda. Você sabe que eu gosto mais de progressão linear. E certamente, se tivesse jogado Powerslave em 1996, teria achado muito complicado. Provavelmente teria ficado de saco cheio na primeira vez que ele me mandasse voltar a uma fase pela qual já passei. Hoje sei valorizar esse tipo de progressão, e me divertir com ela, mas não diria que o estilo metroidvania funciona melhor em um jogo de fases do que em um com um único mapa.

Tem algumas coisas que eu definitivamente não gostei. Powerslave, assim como Doom, tem portas que exigem chaves específicas. Porém, se em Doom a coisa é intuitiva – chaves vermelhas abrem portas vermelhas – aqui são símbolos egípcios. Tem a chave do poder, a chave do tempo, etc. A porta é identificada com o símbolo da chave, mas uma vez que você coletou a chave, não dá para saber quais você tem no inventário. Você acaba indo aleatoriamente tentando abrir todas as portas trancadas até que uma deixe passar.

Outro problema é o tipo de munição. Cada arma tem sua munição específica, mas o item que recupera a barrinha de tiros é igual. Basicamente, você preenche a munição da arma que estiver selecionada. Isso deixa bem chatinho, pois é necessário lembrar quais armas precisam ser recarregadas antes de pegar o item, e não simplesmente passar em cima de tudo que vê como em Quake ou Doom.

AND IN MY LAST HOUR I’M A SLAVE TO THE POWER OF DEATH

Uma limitação chatinha é que na água você pode apenas atacar com armas explosivas, que te machucam se o inimigo estiver próximo. Várias vezes eu estava sendo atacado por um peixinho, e a única forma de escapar era jogando uma granada – o que me matava junto. Isso é especialmente sacal em algumas fases totalmente aquáticas.

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Vamos encerrar o texto com uma imagem estranha? Vamos!

Então eu tenho minhas críticas, mas isso não significa que não tenha me divertido com Powerslave. Desde Ion Fury, eu venho em uma onda de retro shooters e tenho achado esses jogos de tiro dos anos 90 uma delícia. Powerslave Exhumed exige muito mais atenção e habilidade do que Doom ou Quake, mas você pode argumentar que isso o deixa mais recompensador. Em matéria de preferência pessoal, ainda gosto mais dos games da Id Software – e gostaria de jogar a versão de PC que segue mais essa linha. Mas gostei muito de ter tido a possibilidade de jogar este que há apenas alguns meses, nunca tinha ouvido falar. E me diverti bastante com a oportunidade de escrever esta análise Powerslave Exhumed.