Tem um adágio que eu venho repetindo desde o início dessa geração: se é da Nintendo, é um prazer. E, de fato, com o Switch eu tive oportunidade de jogar algumas das grandes marcas da Nintendo, como Zelda, Luigi’s Mansion e Splatoon pela primeira vez. E, apesar de serem todos jogos bem diferentes, eu simplesmente adorei todos. Nesta análise Pikmin 3 Deluxe, vamos descobrir se o adágio continua real.
OVERLORD
Um jogo me marcou muito na geração do Xbox 360/PS3. Falo de Overlord, um joguinho bem criativo em que você controla um senhor do mal semelhante ao Sauron, com um exército de minions que fazem o que você manda. A temática, o humor, o visual. Eu adorei o jogo, e nunca tinha jogado nada parecido.
Eventualmente, eu fiquei sabendo que ele puxava bastante de Pikmin, e desde então tenho vontade de conhecer a série da Nintendo. Afinal, costuma ser verdade que quase tudo que a Nintendo faz em um gênero é melhor do que o que os outros fizeram. Pikmin 3 Deluxe foi minha primeira oportunidade com a série que inspirou meu querido Overlord. E agora vamos falar dela.
ANÁLISE PIKMIN 3 DELUXE
De fato Overlord e Pikmin trazem muitas semelhanças. E eu simplesmente não conheço outros jogos parecidos. Apesar de flertarem com RTS, eles são bem diferentes de um Warcraft (refiro-me ao clássico), e me agradam bem mais.
Se você nunca jogou nenhum deles, são jogos em que você controla um personagem que, por sua vez, dá ordens para um exército. Tem bastante combate, mas esses podem ser resumidos em ter um exército com números parrudos e mandar geral pra cima dos inimigos. Eventualmente, quando os beócios vão fazer um ataque de área mais forte, você deve mandar o exército recuar.
Isso tudo é verdade tanto para Pikmin quanto para Overlord. Porém, o restante do jogo é bem diferente. Overlord é mais focado na ação e na exploração, beirando um metroidvania. Pikmin já se aproxima mais de um jogo de puzzle. Ele é dividido em capítulos, e cada capítulo exige que você chegue em determinado ponto do mapa. E isso pode levar vários dias no reloginho do jogo.
GERENCIAMENTO DE RECURSOS
Basicamente, você precisa descobrir como chegar ao seu objetivo. Para isso, você precisa usar as habilidades específicas de cada tipo de Pikmin, e assim dar ordens que permitam que eles construam pontes ou abram caminhos pelos quais você e seu exército possam passar. Quase sempre, chegar ao objetivo inicia uma batalha contra um chefe, então é importante chegar lá com força máxima.
A pegada de Pikmin, que o aproxima muito mais de um jogo de estratégia, é que ele é dividido em dias, e cada dia que passa consome um alimento. Assim, você precisa usar seus Pikmins para levar frutas até sua nave. E as frutas são limitadas, então não dá para explorar numa boa, levando dezenas de dias para cada objetivo.
HUM… SUCO DE FRUTA…
Quando um dia está terminando, você precisa levar todos os Pikmins de volta para a nave. Os que não estiverem com você quando acabar o tempo morrerão. Como este é um jogo em que você constantemente depende de 100 Pikmins ao mesmo tempo, perdê-los é bem dolorido, pois pode demorar para você recuperar os mesmos números.
Terminar um dia mantém o estado do mundo (frutas coletadas, passagens abertas, inimigos vencidos e Pikmins no seu exército), consome um alimento, e salva o jogo. Este é um jogo em que é possível salvar “quebrando” o jogo, deixando-o interminável, algo que eu odeio.
Porém, caso você faça alguma barbeiragem e demore muito para cumprir um objetivo ou perca muitos Pikmins, o jogo permite restaurar o aspecto do mundo de cada dia da sua jornada, o que é uma mão na roda. Dito isso, na dificuldade normal não me faltaram alimentos nem Pikmins, apesar de a ameaça de faltar ter afetado fortemente minha diversão com o jogo. Afinal, eu não tenho tempo para voltar cinco ou seis dias de jogo e fazer tudo de novo.
CONTROLES
O que mais me incomodou, no entanto, foram os controles. Em Overlord, eu conseguia controlar meu exército perfeitamente, dando ordens diferentes para cada tipo de minion com facilidade. Em Pikmin é mais complicado para atingir os mesmos resultados.
Na maior parte do jogo, você tem três personagens jogáveis e, ao longo da campanha, libera cinco tipos de Pikmins. Se você quer, por exemplo, entrar na água com os Pikmins azuis, que não se afogam, e desejam que o resto fique esperando na margem, precisa seguir uma sequência de ações bem específicas.
No caso, é necessário jogar um dos heróis para separá-lo do grupo, selecionar a cor do Pikmin desejado e jogar um por um deles até o seu coleguinha. Em alguns casos, você pode querer passar todo o seu exército através de um abismo, o que exige jogar, um por um, 100 Pikmins. Você faz isso segurando o botão, mas leva um bom tempo até jogar todo mundo. Coisa de alguns minutos. E lembrando, Pikmin é um jogo com limite de tempo na campanha inteira.
Em comparação, se você quiser selecionar um único tipo de minion e dar uma ordem a eles e apenas eles no Overlord, basta segurar o R e apertar o botão correspondente à cor do monstrinho. Claro, Pikmin veio antes de Overlord, mas Pikmin 3 foi lançado depois, e esse é o tipo de coisa que deveria ter sido simplificado até essa edição.
CONTROLES COMPLEXOS PARA AÇÕES SIMPLES
Pikmin 3 Deluxe é cheio de situações em que os controles são muito complicados para fazer ações simples, e isso afeta bastante a experiência. E sim, eu sei que este foi um jogo originalmente lançado para Wii U, que usava os controles únicos desse console e que, portanto, teve que ser adaptado para o Switch. Então pode ser que tenha sido mais um problema de adaptação do que de design, mas como eu nunca o joguei no Wii U, posso falar apenas dessa versão.
Por exemplo, se você está acima de uma rampa, e quer chamar seus Pikmins que estão ao lado da rampa no andar de baixo, não basta apenas chamá-los. Fazer isso fará com que eles fiquem andando na direção da rampa, batendo do seu lado, como se fosse uma parede. Para que eles subam, você deve descer, posicioná-los na entrada da rampa, e daí sim subir e chamá-los em linha reta. É o tipo de microgerenciamento que eu, particularmente, não tenho saco. Eu quero chamar os bichos e que eles sejam inteligentes o suficiente para achar seu caminho até mim.
CONTEÚDO EXTRA
Além da campanha, esta versão Deluxe de Pikmin 3 traz um modo extra, que conta a história de Olimar, personagem que você procura durante boa parte da história principal. Apesar de trazer leves elementos narrativos, este bônus tem fases que se limitam a desafios como “quantas frutas você consegue pegar em dez minutos” ou “quantos inimigos consegue vencer em dez minutos”.
É o tipo de coisa que pode ser interessante para quem terminar a campanha e ainda quiser mais Pikmin 3, mas eu já estava bem a fim de parar de jogar quando finalizei o jogo. Em especial porque a última fase, uma missão de escolta em um labirinto deveras complicado, me amargou muito para a experiência.
A MAGIA DA NINTENDO
Assim, eu posso dizer aqui que, pela primeira vez, eu não me diverti tanto com um first party da Nintendo. E não é nem uma questão de gênero, uma vez que Overlord é bem parecido, mas uma experiência bem superior a Pikmin 3 Deluxe.
Pikmin 3 Deluxe é cheio de limitações que puxam o jogo para baixo. Os limites de tempo, os controles demasiadamente complexos. Tudo isso junto o torna um jogo exigente e um tanto estressante que, embora seja bem criativo originalmente, já foi superado por outras empresas, em especial pela Codemasters.