Como tivemos poucos lançamentos first party para PS5 até agora, a Sony acabou adotando o jogo independente Kena Bridge of Spirits. Isso deu ao joguinho muito mais hype e exposição do que ele teria de outra forma. E agora é hora de ver se valeu a pena, na nossa impiedosa análise Kena Bridge of Spirits, que chega só em 2024 ao Xbox.
Este texto foi originalmente publicado em 6 de outubro de 2021. Ele foi atualizado e republicado em 12 de agosto de 2024 por causa do lançamento de Kena Bridge of Spirits no Xbox.
ANÁLISE KENA: BRIDGE OF SPIRITS
Mas não vamos fazer suspense. Eu AMEI Kena Bridge of Spirits. É um raro caso de jogo third party com qualidade e features de first party. Temos aqui um game de PS5 capaz de rivalizar em beleza visual com Ratchet & Clank Rift Apart.
Mas não para por aí. Apesar de haver uma versão para PS4, ele é um dos pouquíssimos jogos que usa todas as funções que o PS5 oferece. Da tensão dos gatilhos até os cards de atividade, que mostram soluções de puzzles relacionados à história. Infelizmente, não há cards para colecionáveis, o que seria ainda mais útil, mas considerando quão pouco usada é esta função, ter dicas para a história já ajuda bastante. E é uma pena que estes mimos não tenham sido traduzidos para o Xbox de alguma forma. Mesmo a vibração do controle lá é bem comum.
O ZELDA DA SONY
Kena: Bridge of Spirits é um Zelda-like. A campanha é basicamente linear, com objetivos claros. Porém, você pode voltar a áreas anteriormente visitadas em busca de itens e colecionáveis que anteriormente estavam travados. Apesar de ter cara e sabor de Zelda, um tempero bem reconhecível para mim foi o da nova série de Tomb Raider.
Isso porque, como uma versão cuti-cuti da Lara Croft, Kena explora basicamente florestas e ruínas. Há também muitos puzzles, que lembram bastante a série da Squênix. Já o combate é totalmente Zelda. Tem até bombas e arcos.
Quando eu o comparei visualmente com Ratchet & Clank, não foi por acaso também. Isso porque temos aqui um jogo com gráficos extremamente técnicos, mas com uma estética cartunesca fofinha, que muito me agrada. É extremamente admirável ver o esplendor artístico e técnico que nossos amigos da Ember Lab conseguiram alcançar com uma fração do orçamento de Rift Apart. Claro, o jogo do Ratchet tem cenas mais “caras”. Prédios desmoronando, robôs gigantes, esse tipo de coisa que custa muito dinheiro para fazer. Kena não é tão épico e não traz grandes momentos cinematográficos, mas consegue ser um colírio para os olhos absolutamente o tempo todo.
ANÁLISE KENA E SEUS MINIONS
O principal diferencial de Kena são os rot. E sim, considerando que rot pode ser traduzido como “podridão”, achei uma escolha de nome bem infeliz para criaturas tão fofinhas. Os rot funcionam como uma versão viva e extremamente carismática de XP. Quase todo puzzle ou baú rende novos rot. Colete uma certa quantidade deles e você sobe de nível, liberando novos upgrades para a compra.
Mas o mais legal é que todos os rot que você encontrar vão te seguir por todo o resto da sua campanha. Você pode até customizá-los com chapéus que podem deixá-los ainda mais bilu teteia.
No gameplay, os rot funcionam mais ou menos como os minions de Overlord ou, se você for mais popular, como Pikmin. Eles carregam itens, abrem passagens, ajudam a solucionar puzzles. Dá para usá-los em combate também.
No caso de você querer usá-los para derrotar inimigos, é necessário lutar sozinha por um tempo até eles juntarem “coragem”. Cada coragem acumulada permite uma ação, que vai desde cegar os inimigos aos ataques mais poderosos do jogo.
LUTANDO COM KENA
Há bastante combate aqui, muito mais do que esperava. Apesar de os controles usarem o esquema From Software, com os ataques no R1 e R2, isso parece ter sido feito mais para usar a tensão do gatilho no PS5 do que por influência de Dark Souls.
O combate é legal, especialmente depois de subir de nível algumas vezes, o que permite usar várias ações dos rot em sequência. Eu também gostei muito da tunagem da dificuldade padrão. O combate no médio é desafiador a ponto de exigir prestar atenção, mas sem ser frustrante. A exceção são os chefes.
AH, OS CHEFES…
Kena tem MUITOS chefes! E há um tremendo salto de dificuldade dos combates normais para eles, tanto para cima quanto para baixo. A coisa aí precisa de uma tunada forte. Vamos supor que a maioria dos combates exija um nível de habilidade 5. Porém, há uma grande quantidade de chefes que aumenta isso ao 11. E também há alguns que sequer merecem o 1, sendo muito mais fáceis do que os inimigos mais fáceis do jogo.
Felizmente, Kena não é babaca, e permite que você tune sua dificuldade a qualquer momento. Acredite, se eu não pudesse mudar para o fácil, basicamente “pulando” um chefe pentelho e continuar jogando, a nota final seria muito inferior. Mas mesmo assim, seria interessante que a Ember Lab regulasse melhor as dificuldades, sem pontos tão fáceis e outros tão difíceis.
ANÁLISE KENA E A PAUSA PARA A FOFURA
Além do combate e exploração, Kena tem um leve – bem leve – DNA de plataforma. Este não é um jogo do mesmo gênero que Ratchet & Clank. O que há de plataforma aqui são algumas escaladas estilo Uncharted e alguns puzzles que exigem pular para lá e para cá.
Por fim, há a história.
A HISTÓRIA DE KENA BRIDGE OF SPIRITS
Kena é uma intermediária entre a vida e a morte. Assim como The Medium, ela tem a função de ajudar os espíritos a passarem para a próxima vida. Vivemos em um mundo em que espíritos, fantasmas e afins são mais comumente usados no horror. E me agrada muito que Kena Bridge of Spirits lance mão dessa temática em um jogo cartunesco e fofinho. A morte, e a vida após ela, não precisam ser sempre algo terrível e medonho, afinal de contas.
Dito isso, eu não acho que Kena Bridge of Spirits conte uma história especialmente bacana com essa temática. Na verdade, apesar de haver cutscenes, atores e o escambau, ela tem um padrão Nintendo, e não apenas na alegria – que é bem-vinda.
Basicamente, o mundo está corrompido, com áreas cinzas e poluídas contrastando com as cores vivas e brilhantes da maior parte dos cenários. Você basicamente viaja de um canto ao outro do mapa limpando essa corrupção, e assim tornando tudo mais colorido e vibrante.
Outra falha narrativa, mas que só incomoda pessoas com TOC como eu, é que não parece ter rolado uma direção de dublagem. Alguns atores chamam Kena de “Kêina”, e outros de “Kína”. A impressão que dá é que cada um falou o nome da forma que achava certa, sem ter uma orientação vinda de cima. De novo, não afeta o gameplay, mas é uma falta de cuidado curiosa em um jogo que, em outros aspectos, é tão caprichado e ambicioso.
ANÁLISE KENA É UMA DELÍCIA LINDA
O mais importante, e que eu quero que você leve deste texto, é que Kena é simplesmente um dos jogos mais gostosos da geração atual. Você sabe que eu gosto de jogos mais lineares, mas Kena Bridge of Spirits é tão gostoso que eu saía do caminho principal para explorar sempre que tinha uma oportunidade. Eu simplesmente não queria que essa aventura acabasse.
Mas isso é outra vantagem. Kena não tem aquela ambição pós-moderna de ser o último jogo que você vai jogar na vida. Ele acaba. Em um tempo perfeitamente aceitável (10 a 12 horas). E é assim que eu acho que tem que ser. Ele diverte enquanto dura, e não exagera na duração até enjoar. Kena Bridge of Spirits é daqueles jogos que terminam com gostinho de quero mais. E eu sinto falta de experiências assim nos games.