Análise: Death’s Gambit é um soulslike que não funciona direito

Death’s Gambit é mais um dessa leva de jogos indies influenciados por Dark Souls e Castlevania: Symphony of the Night. Acredito que mesmo os fãs do gênero (eu sou um) estão um tanto saturados de tantos lançamentos influenciados por esta dupla (eu estou).

A princípio, Death’s Gambit até parece legal. Seu visual pixelado 32-bit remete diretamente a Symphony of the Night e causa uma boa primeira impressão, embora esta seja amaciada pela falta de criatividade nos cenários.

Se o visual lembra Castlevania, o combate e o gameplay em geral remetem diretamente a Dark Souls. Há a tradicional barra de stamina, classes que afetam suas habilidades e uma pá de armas. A coisa não chega a ser tão lenta e técnica quanto em um Souls, mas também não é tão rápida quanto um Bloodborne.

Basicamente, quando você está encarando um chefe ou um inimigo mais forte, deve atacar algumas vezes, rolar para longe e esperar seu fôlego recuperar. Você sabe como funciona, pois com certeza já jogou dezenas de obras semelhantes.

Os checkpoints são altares espalhados pelos cenários de formas homeopáticas. É neles que você sobe de nível ou faz alterações nas suas habilidades e usar um deles revive todos os inimigos previamente mortos, com exceção dos chefes.

O layout das fases é também bem tradicional do gênero. Há uma área central, e dela você vai para todos os outros cenários. Death’s Gambit não dá nenhuma ajuda em relação a para onde ir primeiro. Você é totalmente livre, e a única dica de ordem é a dificuldade de cada fase. Mas o que fazer se todos os caminhos parecem difíceis demais?

As áreas são relativamente curtas. Em poucos minutos, você consegue ir da área central para um dos chefes de cada fase, então o grosso do tempo do jogo vem de fato de você repetir as mesmas coisas para subir de nível e ficar poderoso o suficiente.

IDEIAS PRÓPRIAS

Death’s Gambit traz algumas ideias próprias para os soulslike que são até interessantes. Morrer, por exemplo, não causa perda de XP. Ao invés disso, você perde uma pena, usada para se curar (pense nos estus de Dark Souls). O bacana é que não dá para você perdê-las para sempre. Ela vai ficar eternamente no local da sua morte, e cada nova morte é uma pena a menos.

Você pode, então, voltar até lá para recuperá-las ou gastar o equivalente a um level up para recuperar todas de uma vez. Sim, é ruim, mas digamos que é menos ruim do que o tradicional “perca todo seu XP ou toda sua grana a cada morte”.

Uma inovação legal é que você ganha XP mesmo que um chefe vença a luta. A quantidade é estabelecida baseada na quantidade de dano que você causou ao monstrão. Pode parecer pouco, mas é uma grande ajuda. Um ou dois level ups podem fazer uma grande diferença em jogos difíceis como este, e é ótimo conseguir subir de nível sem precisar sair da batalha contra o chefe. Há um limite, no entanto. Você só ganha XP quando tirar mais do que tirou nas vidas anteriores, então não espere subir vários níveis sem vencer a luta.

MAS TEM UM PROBLEMA…

Death’s Gambit não funciona direito. É comum você ficar preso no meio do chão e ter que reiniciar o save, por exemplo.

Minha tela de habilidades também deu um bug que aparentemente foi salvo no meu jogo e não há mais como resolver, onde o mesmo poder aparece dezenas de vezes e qualquer nova habilidade adquirida não fica disponível para que eu a use, já que meu inventário está lotado pela mesma.

Mais grave do que isso, no entanto, é que frequentemente, especialmente após uma morte, o jogo dá uma mensagem de erro bem feia e simplesmente fecha. É o tipo de coisa que via com frequência quando jogava no PC (o tradicional “este programa executou uma operação ilegal e será fechado“), mas que não deveria acontecer em um console.

Isso aconteceu algumas dúzias de vezes (não dava 20 minutos de jogo sem acontecer) jogando em um PS4 Pro. Achei curioso que é um erro de memória e, convenhamos, um PS4 Pro não ter memória para um jogo que poderia rodar no PS1 chega até a ser engraçado.

UM JOGO SUICIDA

Estes problemas técnicos realmente acabam testando a paciência, especialmente pelo fato de o loot ser aleatório. Em uma das vezes, eu tinha adquirido uma espada bem legal, rolou o erro e quando reabri, já não a tinha mais. Além disso, convenhamos, um erro de vez em quando é aceitável, mas um jogo se suicidar a cada 20 minutos não é o tipo de coisa que se espera em um lançamento otimizado e programado para um console.

A coisa chega a um clímax na área Garde Tum. Trata-se de uma fase avançada, que vem depois da metade do jogo. Porém, há uma área obrigatória nela (em que um painel cria uma ponte de energia) onde o erro fatal citado acima acontece em 100% das vezes. No momento do fechamento desta resenha, é simplesmente impossível passar por ali. Testei mais de uma dezena de vezes, e sempre que ativo a ponte, o jogo dá erro. Eu já explorei todo o restante do mapa aberto para mim neste ponto do jogo, então basicamente fui obrigado a parar de jogar porque o negócio não funciona.

No final das contas, portanto, temos um jogo em um gênero superfaturado, cuja principal característica é o fato de ele não funcionar direito. Fica difícil recomendar, mesmo se você ainda tem saco para mais um soulslike.