Ano passado, quando o DELFOS ainda estava em seu processo de profissionalização, nosso ditador supremo costumava mandar pessoas que nunca tinham colaborado com a gente para cobrir alguns eventos. Isso gerou mais stress do que benefícios, já que freqüentemente, os indivíduos não entregavam o material necessário no prazo, o que deixava o Carlos desesperado (você não tem noção de como esse cara leva o DELFOS a sério). Com isso, ele simplesmente parou de credenciar as pessoas para cobrir eventos até que tivesse completa confiança nelas, deixando nossa vida aqui na redação um pouco mais complicada. Finalmente, depois de muito insistir, consegui convencê-lo de que sou muito mais que o mascote (ou “representante institucional sócio-cultural”, como é o nome oficial do meu cargo) e que posso também colaborar com bons textos. Com isso, enfim consegui meu acesso à primeira sessão para imprensa: nada mais nada menos do que o mais novo filme de Wes Craven. E se o chefe gostar, só vai dar eu de agora em diante!
Wes Craven é o criador do tremendão Freddie Krueger, um dos maiores heróis (heróis?) da turminha delfiana. Infelizmente, depois de A Hora do Pesadelo, o cara perdeu a mão e nunca mais fez nada que preste, embora ainda tenha arrecadado milhões recriando o gênero “terror para adolescentes” com sua outra franquia: Pânico.
Por mais que isso seja ingênuo, em coração de fã sempre resta uma esperança. É só ver a quantidade de gente que ainda compra os novos discos do Metallica (provocaçãozinha desnecessária com meu amigão Bruno Sanchez). Infelizmente, não é Amaldiçoados que vai trazer Wes Craven de volta ao cinema de qualidade. Mas deixa eu contar um pouquinho da história antes.
Aqui conhecemos um casal de irmãos, interpretados por Joshua Jackson e pela “feia mais bonita de Hollywood”, Christina Ricci. Em determinada noite, quando perambulam de carro pela cidade, atropelam um animal e derrubam uma donzela indefesa que dirigia na faixa ao lado. Apenas a título de curiosidade, essa donzela indefesa, que está no filme apenas para preencher o clichê do “Mate uma gostosa nos primeiros 15 minutos” é interpretada por Shannon Elizabeth, a estudante de intercâmbio de American Pie, conhecida também por ser a paixão da vida de Jay (o amigo do Silent Bob).
Obviamente, a gostosa é atacada por um cachorrão (ou seria um leão da montanha?), que acaba mordendo também os dois irmãos (eu queria dar umas mordidas na Christina Ricci, sô) e, conseqüentemente, amaldiçoando-os. Depois disso, acompanhamos os dois enquanto eles descobrem seus super-poderes caninos (parecidão com Quarteto Fantástico. Não, delfonauta, Amaldiçoados não é um filme de terror. O seu problema é que tenta ser. E aí ferra tudo.
O mais triste é que tínhamos aqui as sementes do que poderia ser um filme daqueles bem divertidos e descompromissados, como aquela pérola dos anos 80, O Garoto do Futuro, ou algo do tipo, onde Michael J. Fox é um lobisomem adolescente. Poxa, se as cenas de Joshua no colegial (as mais legais do filme) não forem uma homenagem a esse filme, deveriam processar Wes Craven por plágio, porque são iguaizinhas. Saca só: Joshua participa de uma competição de luta livre, detona os valentões retardados e todas as minas começam a se engraçar para o lado dele. Mais anos 80 impossível, meu amigo.
Em alguns momentos, o negócio é tão descarado que começa a descambar para um estilo Monty Python sem a mesma genialidade. Ou o que podemos pensar quando, na parte que deveria ser a mais assustadora do filme, um dos lobisomens vira para outro personagem e mostra seu dedo do meio enquanto o acusa de mentiroso? Ou quando Joshua diz “Como eu posso saber que não fui amaldiçoado?” e Christina responde “Todos fomos amaldiçoados. Chama-se vida”? Ora, Craven deveria largar o terror e seguir carreira como comediante, pois demonstra ter um forte dom para isso, ainda que não-intencional.
Tivesse assumido sua veia de comédia, como fizeram com a série do Freddie Krueger, Amaldiçoados poderia ser um dos filmes mais divertidos do ano. Infelizmente, por se levar mais a sério do que deveria, acaba sendo um péssimo filme de terror e um forte candidato para ser um dos grandes vencedores do próximo Framboesa de Ouro. Mas que o Freddie Krueger detona, ninguém pode negar! 😉