Alice Através do Espelho

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O Alice no País das Maravilhas (2010) de Tim Burton é, para mim, o ponto mais baixo em sua filmografia. Embora a princípio a história de Lewis Carroll parecesse cair como uma luva para o excêntrico estilo do esquisito diretor, o casamento aconteceu em momento de baixa, com Burton cada vez menos inspirado e mais repetitivo.

Mesmo resultando naquele que considero seu pior filme, o negócio fez dinheiro pra caramba e você sabe o que isso significa: se deu lucro, não importa a qualidade, uma continuação é inevitável. Seis anos depois, a tal sequência aporta em nossos cinemas.

Por mais que o argumento acima seja prático e fácil de entender, contudo, ainda tenho grandes problemas para imaginar quem diabos ia querer assistir mais daquela tranqueira. Seja como for, Alice Através do Espelho é exatamente isso, mais daquela tranqueira.

Desta vez, entretanto, Burton cede a cadeira de diretor para um genérico que usa o mesmo estilo visual e paleta de cores da produção de 2010, bem como traz praticamente todo o elenco de volta, além de apresentar alguns novos nomes, como o Borat no papel da personificação do tempo.

Alice (Mia Wasikowska) retorna ao País das Maravilhas através de um espelho (ahá!) para ajudar seu amigo Chapeleiro (Johnny Depp). Acontece que o truta sente tanta falta da sua família que até adoeceu e está perigando morrer. Como seus entes queridos já morreram, Alice volta então no tempo para tentar mudar isso e assim salvar seu chapa.

Contudo, a Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter) também quer retornar ao passado para alterar a história e voltar ao poder. E o próprio Tempo entra na bagunça porque mudar qualquer coisa que já aconteceu pode gerar consequências catastróficas, conforme Doc Brown já nos ensinara há tempos.

O visual lisérgico de viagem de ácido, como já disse, é absolutamente o mesmo da produção anterior. Se antes era pelo menos algo que dava um diferencial, agora é mera repetição. E esta é a tônica de toda a nova produção. É tudo requentado.

O roteiro é fraco e extremamente previsível. No momento em que Alice retorna ao País das Maravilhas já dá para matar toda a história e ela se desenrola tintim por tintim da maneira imaginada, o que deixa tudo extremamente tedioso, afinal, você fica contando os minutos esperando o que imaginou que aconteceria de fato acontecer.

Tinha um jornalista sentado atrás de mim tão entediado (ou vai ver ele foi numa balada nervosa na noite anterior) que bocejava alto a cada cinco minutos. E você sabe que bocejos são extremamente contagiosos. Logo, eu também estava dando minhas bocejadas. Creio até que em determinado momento escutei o cara dando uma roncada, tendo finalmente sido vencido pelo sono e pela chatice geral do longa.

Pode ser o tipo de produção que até consiga entreter a garotada menor, pela mistura das cores berrantes com a movimentação frenética dos personagens, mas para o público maior amante do gênero fantasia, Alice Através do Espelho é apenas mais uma continuação sem vergonha e enfadonha.

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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
alice-atraves-do-espelhoPaís: EUA<br> Ano: 2016<br> Gênero: Fantasia<br> Duração: 113 minutos<br> Roteiro: Linda Woolverton<br> Elenco: Johnny Depp, Anne Hathaway, Helena Bonham Carter, Mia Wasikowska, Alan Rickman, Richard Armitage, Sacha Baron Cohen, Michael Sheen, Rhys Ifans, Toby Jones e Stephen Fry.<br> Diretor: James Bobin<br> Distribuidor: Disney<br>