Alf: o ETeimoso

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Em mais de 20 anos assistindo televisão, posso contar nos dedos as séries que me marcaram e as quais eu assisto até hoje com o maior prazer do mundo (não estou incluindo os desenhos animados): Esquadrão Classe A, Super-Máquina, V: A Batalha Final, Anos Incríveis e, uma série que até hoje tira gargalhadas da minha boca sem grandes esforços: Alf: o ETeimoso.

Essa série é tão legal que, mesmo já tendo assistido à maioria dos capítulos mais de 8 vezes (sem brincadeira), ainda consigo me divertir com as trapalhadas do segundo alienígena mais simpático do universo (o primeiro lugar vai para o E. T.).

Em uma época sedenta pela descoberta de vida em outros planetas, como se pode perceber pelos fenômenos alienígenas E. T. – O Extraterrestre, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Jornada nas Estrelas e V: A Batalha final, Alf utilizou em parte esse conceito para explorar o humor que nasceria do convívio de um alienígena, não habituado com os costumes humanos, em nossa sociedade “moderna” (anos 80).

O conceito da série é bem simples: os Tanners são uma família tradicional da classe média norte-americana e seus integrantes seguem os padrões estereotipados dos sitcoms da época: Willie (Max Wright) – o pai engenheiro e trabalhador, Kate (Anne Schedeen) – a mãe dona de casa, Lynn (Andrea Elson) – a filha adolescente e namoradeira e Brian (Benji Gregory) – o caçula chato.

Todos vivem normalmente até que, em um belo dia, uma nave espacial cai em cima da garagem de sua casa e de dentro sai um alienígena feio (embora, assim como o E. T., depois que você se acostuma, ele chega a ficar até bonitinho), peludo e com um topete estiloso, chamado Gordon Shumway que eles logo apelidam de Alf (uma sigla em inglês para forma de vida alienígena). Alf explica que veio de um planeta que explodiu chamado Melmac e que, além de tudo, sua nave está quebrada. Os Tanners não têm outra saída a não ser adotar o órfão intergaláctico e é exatamente nessa convivência e nas divergências entre Alf e os Tanner que reside a graça do show.

O alienígena é folgado, ranzinza, cínico e, por causa disso mesmo, muito engraçado, colocando a família em diversas confusões. Alguns episódios se tornaram verdadeiros clássicos dos sitcoms, como aquele em que Alf começa a vender cosméticos para ganhar uma grana ou quando Lucky, o gato da família, some e todos desconfiam do pobre alienígena só porque ele vive tentando comer o bichano (gatos são especiarias deliciosas em Melmac). Isso sem contar as várias situações em que o visitante do espaço precisa se esconder da intrometida vizinha Raquel Ochmonek ou aturar a mãe de Kate.

Em uma época onde o uso da computação gráfica estava apenas engatinhando, Alf utiliza bons efeitos especiais tradicionais no seu boneco principal. É o famoso efeito de marionete onde diversas pessoas controlam os movimentos de um boneco (que, na maioria das vezes, é mostrada apenas da cintura pra cima). Quando é necessária a visão total do personagem, um anão vestia uma fantasia, mas aí Alf ficava sem expressões faciais (como na abertura do programa, quando ele vai para a frente da câmera).

Apesar da série se focar quase sempre na comédia, temos alguns episódios mais dramáticos também, especialmente um em que Alf consegue fazer contato com os antigos habitantes de Melmac, também peregrinando pelo espaço, e decide pegar uma carona para ir embora com seus velhos amigos e sua ex-namorada Rhonda. Tudo leva a crer que Alf vai embora mesmo. Se ele foi ou não, só assistindo ao episódio, já que Spoiler é algo inexistente aqui no DELFOS.

Com o tempo, outros personagens entraram na série como Jake Ochmonek (Josh Blake), o sobrinho dos vizinhos pentelhos, Eric – o novo bebê dos Tanners, e uma jovem cega, Jody, que fica muito amiga de Alf em uma daquelas tradicionais lições de moral da época sobre as diferenças e os preconceitos.

A série estreou nos EUA em 22 de Setembro de 1986 pela rede NBC e terminou em 24 de Março de 1990 com quatro temporadas completas e 102 episódios. No último capítulo, um dos mais tristes da série e totalmente estranho ao contexto da sitcom, Alf conserta sua nave para ir embora mas é capturado por uma força-tarefa alienígena. Esse episódio ficou sem uma conclusão até 6 anos depois, quando os produtores decidiram dar o fim definitivo à série e lançaram um longa-metragem chamado Projeto: ALF (volta e meia passa na rede Telecine), que conta como o peludo escapou da prisão e fugiu do planeta Terra. O filme não conta com a participação da família Tanner e é um final bem bobo para uma série tão legal.

Nos EUA, Alf (sem o ridículo ETeimoso do título que a Globo colocou no Brasil na carona do sucesso de E. T.) alcançou um relativo sucesso e gerou uma série de produtos como um desenho animado (passou aqui no Brasil no Xou da Xuxa), um jogo de Master System (meia boca, mas dificílimo de se encontrar por aqui) e, obviamente, uma coleção de bonecos e bichinhos de pelúcia. Mas curiosamente, fora dos Estados Unidos, a série deslanchou e se tornou um fenômeno comercial, especialmente em três países: Argentina, Brasil e Alemanha.

Na Argentina, a série passa até hoje com bons números de audiência. No Brasil, volta e meia Alf volta para a telinha (começou na Globo, passou pela Bandeirantes, Canal 21 e atualmente está no SBT, de segunda a sexta às 12:45), mas na Alemanha (Ocidental – na época) a série fez um sucesso tão estrondoso que foram lançados vários itens inéditos como uma compilação de episódios em VHS e até mesmo a famosa caixa de DVDs (lançada primeiro na Alemanha para depois chegar aos EUA). Alguns envolvidos disseram que se cogitou inclusive a hipótese de reviver a série somente com atores alemães, mas aparentemente a idéia foi abandonada.

Após o fim da série, todos os atores principais voltaram a um semi-anonimato e não fizeram nenhum papel de destaque novamente. Os únicos que volta e meia ainda estão nos noticiários são Benji Gregory, que abandonou a carreira de ator mas segue trabalhando nos bastidores de filmes e séries de televisão e o veterano ator Max Wright, que volta e meia tem seu nome envolvido em escândalos sexuais e porte de drogas além de uma ou outra participação em sitcoms como A Minute With Stan Hooper, por exemplo.

Em 2004, o produtor original da série, Paul Fusco, decidiu resgatar o personagem alienígena e o colocou para apresentar um talk-show (estilo Jô Soares) bem descompromissado. O episódio piloto já foi ao ar com um bom sucesso, e novos episódios estão sendo gravados para o programa entrar na grade de programação da NBC a partir do dia 05 de Novembro. Vamos torcer para que o programa passe aqui no Brasil também.

Alf é, sem dúvida, uma das minhas melhores lembranças em frente à televisão. Se você viveu sua infância/adolescência nos anos 80, provavelmente é uma das suas também. E tenho certeza que de muitas outras pessoas também.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).