Sempre que eu vejo que um filme é dirigido pelo Jaume Collet-Serra, eu acho que ele é o diretor do excelentão [REC]. “Não, Corrales, seu patetão”, dizem as vozes na minha cabeça. “Aquele também é Jaume, mas é Balagueró!”. Que puxa.
“Mas caramba, vozes da minha cabeça”, respondo para as vozes da minha cabeça; “os caras têm o mesmo nome bizarro e ainda ficaram conhecidos por dirigirem filmes de terror. O que eu posso fazer?”. Depois deste argumento irrefutável, as vozes ficam quietas por algum tempo. Pelo menos até um deles dirigir um novo filme.
Jaume Collet-Serra, amigo delfonauta, dirigiu pérolas como A Órfã e Casa de Cera. E depois de dois filmes estrelados pelo Liam Neeson, agora ele retorna ao gênero que o consagrou, desta vez deixando o sobrenatural de lado e se aventurando pelo terror mais realista.
TAN-TAN
Em Águas Rasas, Nancy (Blake Lively) resolve ir surfar em uma praia secreta no México. O lugar é paradisíaco, com areia clara e aquela água transparente que dá vontade de pegar com a mão e esfregar nos olhos. Até tem outras pessoas lá, mas sabe como é, nossa amiga surfistinha está se divertindo tanto que não quer ir embora e acaba ficando sozinha.
É aí que ela encontra uma baleia morta e semi-mastigada. Taí um bad omen, e não demora para ela perceber que um tubarão ronda as redondezas. Sabe qual é o problema? Além de ter um carnívoro dentuço por perto, é claro? É que ela está bem longe da margem. E pelo jeito o bichão gosta de carne de surfistas (e quem não gosta?), pois começa a nadar ao redor dela.
Eu esperava que Águas Rasas fosse mais um filme na linha de Tubarão, de um monstrão aterrorizando a vizinhança, mas acabou sendo uma prazerosa surpresa o fato de ser mais claustrofóbico, bem do jeito que eu gosto.
Apesar de ter outros atores, basicamente o filme todo é levado nas costas da Blake Lively e da excelente direção. Jaume Collet-Serra pode não ter feito nenhum longa que você possa chamar de “filmão”, mas o cara tem estilo.
Em especial no começo do filme, focado nas cenas de surfe e na beleza do cenário, o troço parece um videoclipe de tão bonito. Sabe, amigo delfonauta, eu tenho muita vontade de surfar, mas admito que é algo que nunca tentei fazer. Sei lá, o interesse veio depois de velho e eu sou um tanto desengonçado demais para conseguir me equilibrar em uma prancha flutuante. Assim, devo dizer que babei nas cenas da moça pegando onda. Isso deve ser muito divertido.
TAN-TAN-TAN-TAN-TAN
Mesmo depois que a narrativa dá um pulo forte para o lado da tensão, a direção continua estilosa. Todas as poucas cenas em que o tubarão aparece, por exemplo, são momentos que é difícil não soltar um “uau!”.
Infelizmente, o roteiro não traz grandes novidades. Tem várias cenas que causam aflição e medo, o que é ótimo, mas a história em si é fraca e o final é forçadíssimo e incondizente com o tom do filme até então. Isso acaba tornando-o apenas bom, e não excelente, como seus predicados parecem sugerir.
Ainda assim, desce redondo, e eu diria que é o melhor filme da filmografia do Jaumão. Claro que a concorrência no caso não é especialmente acirrada, mas se você gosta de um terror claustrofóbico, vale a visita ao cinema.