After Forever e Gotthard no Rio (15/10/2006)

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Dia de show de Gótico ou Doom é dia de pegar o sobretudo da vovó do armário, a fantasia de vampiro do baú e carregar na maquiagem. Falando sério, as meninas estavam de parabéns com a indumentária e os caras também. E os outros que eu também não consegui descobrir se eram meninos ou meninas também estavam de parabéns!

Domingo de feriadão, cidade vazia, clima super agradável, tudo perfeito para um show de Heavy Metal. E nesse clima de tranqüilidade, me dirigi ao Circo Voador. Vou abrir um parêntese para falar do lugar. Pra quem não sabe, o Circo é uma casa de shows que parece uma grande tenda, que a prefeitura, com patrocínio de outras grandes empresas reformou e botou pra sediar todo tipo de eventos artísticos, incluíndo shows. O problema, é que ele é muito mal localizado. Tá, você vai dizer que ele fica embaixo de um dos maiores pontos turísticos do Rio, os Arcos da Lapa. Tudo bem, mas ele também fica localizado numa das áreas mais desertas, sombrias e sinistras do centro da cidade num domingo à noite. Fica cercado de vagabundos, bêbados, viciados, prostitutas e toda a escória do planeta. Coitado de quem foi de busão.

Bem, eu fui de carona e cheguei às 8:35, ou seja, cinco minutos atrasado em relação à hora programada pra começar o show. A produção foi de uma pontualidade inglesa e 8:35 já tinha perdido uma música e meia da banda de abertura, Gotthard. Em termo de público, até que prum domingo de feriado, tinha bastante gente, eu chuto entre 700 e 800 pessoas.

Vamos falar do Gotthard. Eu não conhecia (e não conheço ainda) nada de Gotthard. Sabia apenas o feijão com arroz: que é uma banda suiça, que lá eles são grandes e que é uma banda de Hard Rock. Mas eu não sabia o que estava perdendo. Não sabia que os caras faziam um som daqueles. Que banda, minha gente. Que show!

O que nós vimos no palco foi uma banda super animada, entrosada, profissional, coesa, divertida. Os suiços estavam visivelmente felizes de estar tocando no Rio pela primeira vez. Praticamente em todos os intervalos entre as músicas eles agradeciam e prometiam vir mais vezes. Agora, o vocalista Steve Lee é um showman completo. Ele domina a platéia. Como agita o cara! Dançou, pulou, brincou, fez misérias no palco. Super simpático. Além de tudo, tocou gaita numa música meio blues. Já viu isso, um suiço, branquelo tocando um estilo criado pelos negros estadunidenses? E bem, ainda por cima?

A banda toda está de parabéns pela qualidade do som, pelas composições de extremo bom-gosto e também os backing vocals muito bem feitos. Pontos altos: após Nothing Left at All, os guitarristas jogaram para a galera três camisolas rosas com o nome da banda (eu vi uma de perto: eram ridículas). Depois saíram do palco e voltaram tomando duas latas de cerveja e ficaram fazendo uns slides com elas. Jogaram também umas toalhas que usaram para se secar. Ugh! Coisa só para fã mesmo. Depois fizeram uma jam, sendo que um guitarrista tinha que imitar o riff do outro.

Foi um excelente show, totalmente em clima de festa. O som, numa comparação grosseira, lembra uma mistura de Aerosmith com Bon Jovi com testosterona. E o setlist bem escolhido, alternando baladas e músicas bem animadas, além de algumas que flertam com o Heavy.

Depois do show do Gotthard, eu comecei a pensar no trabalho que o After Forever ia ter para superar uma banda de abertura com tamanha qualidade e que incendiou. Verdade seja dita, muita gente foi só para assistir ao show dos suíços e outros ficaram meio de fora esperando a atração principal. Mas quem foi assistir a tudo (como é o meu caso), ficou atento para ver se os holandeses iriam corresponder às expectativas.

Tivemos uma certa demora ocasionada pela arrumação da bateria, que teve problemas o show inteiro, e lá pelas 22:45 começou a introdução. E eles entraram quebrando tudo com Come, Boundaries are Open e Livin Shields. Sem papo, sem firula e sem descanso.

Aqui uma pausa para vermos o perigo dos preconceitos. Eu, um ignorante em gótico (a única banda que eu conheço bem, do estilo é Therion), conhecia After Forever apenas por alto, algumas músicas e tinha o conceito de que eles eram uma espécie de Nightwish bombado. Então estava esperando uma elfa, com uma roupa cheia de babados, cantando músicas etéreas sobre solidão e duendes, instrumental super-requintado, banda estática e uma monotonia do caramba.

Definitivamente não estava preparado pra entrada de Floor Jansen, uma holandesa de 1,90 metros, vestida de camisetinha preta, calça de couro e batendo cabeça no palco. E como canta a garota! Desde vocais líricos até mais agressivos. Em algumas músicas mais suaves, ela arriscava umas danças sensuais que fez alguns cabeludos babarem.

A música é bem pesada ao vivo e teve (bons) momentos de flerte com o Death Metal dos primórdios do grupo. Ainda teve duetos com vozes guturais feitos pelo guitarrista Sander, e vocais mais Power do guitarrista Bas Maas. O baterista André, apesar dos problemas que o afligiram até o fim do show, tocou muito bem. As músicas tinham muitas variações, de tempo, de estilo e ele as executou perfeitamente.

Só depois de quatro músicas rolou o primeiro papo com a galera, mas muito rápido e superficial (papo não é o forte dos caras). Após Beyond Me, a bateria deu problema, mas foi rapidamente resolvido. E após **Face your Demons, a bateria REALMENTE deu problema e a Floor tentou encher lingüiça com a galera. Mas como eu já disse, papo não é o forte da frontwoman.

Outro momento interessante foi em Digital Deceit, já que nessa música o tecladista pegou um teclado de ombro (?) e foi tocar junto com os guitarristas, isso foi inusitado. E fecharam o barraco com um ótimo cover para Final Countdown, do Europe, cantado em uníssono pela platéia.

Após o último bis, eles anunciaram o fim dos trabalhos do tour manager deles, Alex. Chamaram o cara ao palco e tiraram uma foto com a galera no fundo. A despedida foi lida em português (um português digamos… macarrônico) pela Floor.

E assim se encerrou um grande show. Os 700 presentes com certeza saíram satisfeitos pelas excelentes apresentações a que assistiram e por conferirem que Hard e Gótico se dão muito bem juntos.