Abismo do Medo

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O principal objetivo de um filme de terror é, obviamente, gerar medo naquele que o assiste. Essa é uma meta praticamente inalcançável, já que poucas coisas são mais assustadoras que a realidade brasileira ou que o fato de os EUA terem reeleito o mesmo mané. Na verdade, as únicas coisas que consigo pensar que são mais assustadoras do que isso são filmes muito premiados e comédias românticas com o Ashton Kutcher. Abismo do Medo tem um desses fatores a seu favor: ganhou dois prêmios no British Independent Movie Awards. Aliás, é a primeira vez que vejo um filme de terror gore levando prêmios.

As protagonistas são seis gurias fãs de esportes radicais. Pois é, cara. Seis minas. Faço aqui então uma pausa no texto para que você se imagine em um ménage a seteis (pronuncia-se “sete-á”) com elas. Em breve retornamos à programação normal.

Pronto? Pois então, elas têm como objetivo chegar onde nenhum homem (e nenhuma mulher) jamais esteve. Para tanto, decidem penetrar bem fundo em uma caverna desconhecida. Tudo ficaria bem se não ocorresse um desabamento que bloqueasse a saída. Agora as mina (pou) vão ter que se virar para sair dali. Ah, sim, como se essa situação já não fosse suficientemente desesperadora, elas logo descobrem que o lugar é habitado por monstros antropofágicos (que comem seres humanos, para aqueles incapazes de fazer a tradução por conta própria).

Pelo menos quanto à sinopse, parece bastante com A Caverna, mas como não assisti a esse último, vou me guiar pelo que o Cyrino falou na sua resenha e concluir que Abismo do Medo é bem melhor.

Demora um pouco para começar o terror de verdade, mas assim que as garotas ficam presas, a claustrofobia ataca e eu comecei a castigar minhas pobres e inocentes unhas como há muito não fazia. E quando elas começam a se separar acidentalmente, o medo fica bem maior.

Aliás, embora os monstrinhos contribuam bastante para o desespero e para a violência (com cenas gore de deixar o Cyrino com água na boca), eles são quase desnecessários. Convenhamos, ficar preso em uma caverna já é algo suficientemente assustador por si só. Se seguisse por esse caminho sem monstros, poderia ser um terrorzão na linha do Poseidon ou de Mar Aberto, mas a presença deles não estraga o filme de forma alguma, já que é sempre bom ver um pescoço sendo dilacerado por dentes afiados, certo? 😉

Agora verdade seja dita, a cena mais aflitiva e nojenta do filme acontece antes mesmo dos bichos fazerem sua primeira aparição e é quando uma das garotas cai em um buraco e fica com uma fratura exposta. Contar mais seria estragar a surpresa daqueles que vão assistir ao filme, mas acredito que é a cena mais “Irgh!” do cinema desde a maldita cena do olho do tremendão O Albergue. E, assim como no filme de Eli Roth, não precisou de monstros para isso.

Se este ano está mais fraco do que os anteriores em matéria de blockbusters nerds, podemos dizer que estamos bem servidos em filmes de terror. Pois tanto O Albergue, Poseidon e este O Abismo do Medo têm grande potencial para se tornarem clássicos do gênero. Pelo menos entre os meus preferidos, eles já estão.

Curiosidades:

– Há muitas referências a outros filmes em Abismo do Medo, incluindo Enigma do Outro Mundo, Carrie, a Estranha, Evil Dead, Apocalypse Now, Alien, o 8º Passageiro e muitos outros. Veja quantos você consegue encontrar e depois volta aqui e conte para nós.

– As cenas do longa foram filmadas em ordem cronológica. As atrizes só conheceram as criaturas na filmagem do primeiro ataque (quando aparecem atrás delas). O susto foi legítimo.

– Embora a história se passe numa expedição nas montanhas Apalaches, as cenas foram gravadas perto de Pitlochrie, na Escócia. Já as imagens internas da caverna foram feitas em cenários e imagens digitalizadas a partir de fundo azul.

– Eu estou apaixonado pela Natalie Mendoza, que faz a personagem Juno. Mas ainda não consegui decidir se ela é uma ocidental com traços orientais ou vice-versa. Alguém me ajuda a matar essa dúvida cruel?

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
abismo-do-medoPaís: Reino Unido<br> Ano: 2005<br> Gênero: Terror Gore<br>