De todos os instrumentos musicais, a guitarra elétrica parece ser o mais popular, o mais mítico, o mais apaixonante. É só ver quantos guitarristas, profissionais ou amadores, há por aí. Admita, você deve conhecer pelo menos uma pessoa que toque ou ao menos tenha uma guitarra.
Pois foi para discutir a fascinação causada pelo instrumento de seis cordas (e às vezes de doze) e o que ele representa em suas vidas, que o documentarista Davis Guggenheim reuniu no mesmo recinto três gerações distintas de guitar heroes: Jimmy Page, de um tal de Led Zeppelin, The Edge, do U2 e Jack White, do White Stripes e do Raconteurs.
Como você pode imaginar, eles não apenas falam, eles tocam. E tocam alto. Infelizmente, também tocam pouco, e isso me dá o gancho perfeito para passar da sinopse para a resenha propriamente dita.
Porque embora o filme já comece muito bem, com Jack White, na melhor tradição MacGyver, construindo uma slide guitar apenas com um pedaço de pau e uma garrafa de Coca-Cola, infelizmente o filme incorre em certos clichês e acaba por relegar os números musicais ao segundo plano.
Os músicos vão contando suas experiências com o instrumento, desde a infância até o momento em que decidiram torná-lo sua profissão. No meio desses depoimentos, muitos causos bacanas, histórias engraçadas e a lembrança da primeira guitarra de cada um deles, dentre outras coisas.
No meio disso, eles vão tocando algumas de suas canções famosas e falando um pouco sobre seu estilo, técnicas e influências. E aí também é possível perceber como eles têm visões distintas a respeito da própria música. Exemplo: The Edge é um instrumentista totalmente tecnológico, que usa umas 50 pedaleiras diferentes e mais uma porrada de efeitos para criar seus riffs, enquanto Jack White é totalmente avesso à tecnologia, acreditando que ela mata a criatividade. No meio deles fica o mestre Jimmy Page, unindo o melhor dos dois mundos.
Cheio de momentos excelentes para quem é fã dos músicos, é impossível não se divertir ao ver Page abrindo um largo sorriso ao escutar uma das canções que o influenciou, Jack White contando que na adolescência tirou a cama do seu quarto para colocar duas baterias e amplificadores (passou a dormir num colchonete) ou The Edge entregando que um de seus riffs na verdade é uma nota só processada através dos pedais.
Também é interessante quando os músicos revisitam lugares importantes de sua relação com o instrumento, como quando Jimmy Page vai à mansão onde foi gravado Led Zeppelin IV ou The Edge volta à casa onde o U2 ensaiou as músicas de War.
No entanto, o filme perde um tempo considerável com certos depoimentos clichês, do tipo “a guitarra é minha vida”, “vivemos uma relação espiritual” e outras baboseiras que em nada acrescentam à narrativa e ocupam um tempo que seria melhor gasto com alguns números musicais a mais, o que é o outro problema do filme.
Não espere ver/ouvir nenhuma música inteira, seja nas imagens de arquivo das bandas, seja na jam com os três juntos. E cara, com três guitarristas desse porte, é realmente uma pena que o diretor tenha optado por fazer isso. Somente a música que encerra o filme é apresentada inteira, mas aí eles trocam as guitarras por violões. Pô, para um documentário cujo tema é a guitarra elétrica, isso não deixa de dar aquela sensação de coito interrompido.
Mas como você pode ver pela nota aí em cima, mesmo com esses problemas, o filme ainda é bem legal e passa rapidinho. Se você é fã dos três guitarristas-protagonistas, é certeza que vai curtir de montão. E mesmo se você não gosta de todos eles ou mesmo de nenhum, mas adora uma guitarra, há grandes chances de você se divertir igualmente. Só não vai levantar no meio da sessão e fazer um solo de air guitar, hein?