Uma iniciativa legal da Paris Filmes é trazer longas não-estadunidenses para nosso ensolarado país. Infelizmente, essa decisão acabou sendo arruinada pelas idéias seguintes. Primeiro, quiseram começar com este insosso A Terra Encantada de Gaya. Segundo e principal, decidiram chamar Márcio Garcia e a turma do Pânico para fazer a dublagem tupiniquim. Se já é ridículo chamar os péssimos atores globais para dublar os desenhos, pior ainda é pegar pessoas que nem atores são. E se Shrek, um dos desenhos mais legais dos últimos tempos já sofreu com a idiotice de terem colocado o Bussunda para fazer o grande ogro verde, que dirá deste pobre desenho alemão quando colocam não apenas um comediante para a dublagem, mas uma turma deles? E pior, ao contrário de Shrek, Gaya não se trata de uma comédia, mas de uma aventura. Santa ignorância, Batman.
Gaya conta a história de uns bichinhos estranhos que moram na terra que dá nome ao filme. Por algum motivo que desconhecem, eles vão parar no mundo real, onde descobrem que são personagens de uma série de TV. Agora eles precisam se desdobrar para descobrir uma forma de voltar para seu mundinho.
A história é bem básica e os personagens-padrão estão todos lá, desde o valente herói até o sidekick cômico. Em certo momento, parece que vamos ter algum conteúdo a mais, algo para levar as crianças a pensarem no livre-arbítrio e nas responsabilidades que isso nos traz, mas não, é tudo abordado de forma bem rasa mesmo. Uma coisa legal é que os vilões da série de TV acabam tendo que se unir aos heróis para voltarem juntos para casa.
O visual é uma computação gráfica bem vagabunda, lembrando até bons gráficos de videogame. Para videogame seriam bons, mas para cinema, deixa muito a dever. O design dos personagens é até legal, mas é tudo feito de forma muito amadora, com problemas de proporção e de movimentos aparecendo a toda hora. Parece até que o lançamento do filme foi apressado e tiveram que terminar tudo sem revisar se estava ok.
Talvez o filme nem parecesse tão podrinho se tivessem chamado bons dubladores para os personagens principais. Não tem um que se salva, é uma péssima atuação atrás da outra, o que deixa o espectador torcendo para que o negócio acabe logo, já que não dá para acreditar em personagens que parecem não ter sentimento em suas falas.
Se não tem um que se destaca positivamente, podemos sem dúvida citar uma que se destaca negativamente: a ex-BBB Sabrina Sato. A personagem que ela dubla, a heroína da história, Alanta, até teria terreno para trabalhar, mas a semi-japonesa não aproveita e entrega falas sem sentimento nenhum. A não ser, é claro, que o espectador ache que gritar é passar algum sentimento, pois Sabrina parece acreditar nisso. Meu amigo Cyrino já disse em uma de suas resenhas, e eu assino embaixo, que atuar (o que os dubladores também fazem, para quem não sabe) é para atores. Sabrina não é atriz. Mal pode se considerar uma artista. Eu até acho legal o fato de ela ser uma das poucas mulheres com corpo de mulher que vemos hoje na TV, mas não acredito que ela vá passar disso. Pode ser legal admirá-la na Playboy, mas é melhor que ela não tente se aventurar em outras áreas. Principalmente em uma das áreas mais legais e difíceis do entretenimento, como a dublagem.
Se existir alguma cópia legendada no cinema, talvez até valha a pena dar uma conferida em Gaya. Caso contrário, nem chegue perto. A não ser que você precise acompanhar uma criança que queira assistí-lo. Ela provavelmente vai gostar. Afinal, não desenvolveu senso crítico suficiente para discernir uma boa dublagem de uma pessoa lendo suas falas.