Lembra como foi legal para os Marvetes e fãs de quadrinhos em geral quando saiu Os Vingadores? Um filme caprichado e cheio de referências, claramente feito por um fanboy para outros fanboys, mas tão divertido que mesmo quem estava totalmente por fora do Universo Marvel pôde curtir um filmão. Tenho a impressão de que este filme terá o mesmo efeito, só que trocando as adaptações de quadrinhos pelos filmes de terror.
A Morte do Demônio é o remake do clássico Evil Dead, filme que lançou Sam Raimi como diretor e seu bro Bruce Campbell como astro de filmes B. Consagrando-se como o primeiro grande ícone do que viria a se tornar um subgênero, o filme mostra cinco jovens indo passar uns dias numa isolada cabana na floresta, e encontrando no porão um estranho livro e uma gravação de um hóspede anterior. Ao ouvir o homem ler um trecho do livro na gravação, eles despertam um poder maligno que vive na floresta, e terão de tentar sobreviver a ele sem nenhuma ajuda do mundo exterior.
Dessa vez a história dos personagens está um pouco mais complexa: Mia, uma moça que tem sérios problemas com drogas, está indo com seu irmão e mais três amigos passar uns dias longe da civilização e se reabilitar. Nisso, eles também vão achar coisas estranhas no porão, entre elas o fatídico Livro dos Mortos. Apesar de todos os avisos escritos no próprio livro, um deles vai fazer a grande bobagem de ler uma passagem dele em voz alta, e então a entidade demoníaca será novamente despertada.
Eu achei que essas mudanças caíram bem. Como o primeiro da franquia ainda mantinha as coisas mais sérias (ou pelo menos não tão obviamente humorísticas como nas sequências), um pouco mais de profundidade não fez mal, e ajudou o remake a moldar uma identidade própria. Um viciado com síndrome de abstinência pode parecer muito com uma pessoa possuída, afinal, e o tempo que os amigos levam para entender que os “sintomas” que a garota apresenta não são coisa deste mundo deixou o clima do primeiro ato bastante tenso.
ELES SABEM O QUE VOCÊ QUER, E VÃO TE DAR
Se você é fã, deve estar com o pé atrás quanto a essas mudanças. Mas pode ficar tranquilo: este filme vai fazer o possível para te agradar. Apesar de seguir seu próprio rumo, ele nunca esquece sua origem, e são feitas incontáveis referências ao original. Cenas inteiras, como aquela parte horrenda da moça com as árvores, foram recriadas aqui e ficaram ainda mais agoniantes. E também coisas mais sutis, como planos de câmera, objetos de cena, falas, gestos e até trechos de áudio, reaparecem. Os que curtem caçar easter eggs vão se divertir bastante.
Tudo parece familiar e reconhecível para quem já conhece a franquia. Mas justamente quando você acha que já sacou tudo o que vai acontecer, rola alguma novidade ou um caminho diferente, o que impede a costumeira previsibilidade dos remakes e deixa tudo mais intrigante. O melhor exemplo disso é quanto ao protagonista. Todos os cinco têm seus momentos, e cada um deles toma um pouco da carga que o Ash carregou sozinho. Assim, leva um bom tempo até ficar claro quem será o escolhido para a batalha final. E quando essa batalha chega, o herói faz justiça ao legado do Ash. É um momento glorioso. Vale o ingresso só por ele.
Mas até chegar lá, muita coisa acontece. A ação aqui começa bem mais rápido que no original, e de forma extremamente gore. As cenas estão gráficas, violentas e despudoradas como há muito tempo não se vê. A quantidade de sangue, membros arrancados e fluidos corporais é absurda, e a maior parte foi feita à moda antiga: sem CGI e em cena, sem cortes estratégicos. E o elenco encara tudo com competência, com destaque para o Eric de Lou Taylor Pucci e a Jane Levy, que consegue se manter convincente em todos os altos e baixos da Mia.
E o mais legal é que quando se trata desse tipo de terror tremendão, geralmente quando o filme acaba eu fico mentalmente exausta, seja pelos sustos ou pela repulsa. Não que isso seja ruim, afinal, se o filme te afeta é porque cumpriu seu objetivo. Mas Evil Dead tem tanta dedicação em fazer você curtir e sair do cinema feliz, que a última parte te recompensa pelo sofrimento.
MAS ENTÃO, CADÊ O SELO?
O que custou o Selo Delfiano Supremo foi um fator que provavelmente vai gerar reclamações dos fãs: a aparência dos possuídos – ou Deadites, para os íntimos. Estão horrorosos, sem dúvida, mas de um jeito bem mais genérico. Aqueles olhos brancos do original funcionavam melhor. E eles também eram mais violentos; os daqui preferem achar uma arma pelo caminho e usá-la, enquanto os antigos atacavam de forma mais animalesca. Mas vem aí uma sequência, e se ela também der o passo enorme em direção à tremendice que Evil Dead 2 deu (especialmente em termos de protagonista), aí sim teremos um Selo.
Ainda assim, esse filme pede para ser visto, seja você um fã, um espectador de terror regular, ou só um iniciante mesmo. Provavelmente não será “o filme mais apavorante que você verá nesta vida” como diz no pôster, mas com certeza é o melhor filme de terror em muito, muito tempo.
E considerando que é um remake, isso já é admirável. A Morte do Demônio conseguiu corresponder bem ao original, mas mantendo uma distância respeitosa, homenageando sem copiar. Estou torcendo para que remakes vindouros, como Carrie, por exemplo, tenham a mesma sorte. Então corra para o cinema!
CURIOSIDADES
– Depois dos créditos tem um último presentinho para os fãs. Vale a pena esperar.
– Este filme é adepto da crença de que não há nada neste mundo (ou além dele) que fita adesiva não conserte.
– Momento óun: esta foi a primeira vez que eu fui assistir a um filme de terror sozinha. Normalmente eu prefiro estar rodeada de primos ou amigos. Por sorte, consegui me manter razoavelmente blasé durante a sessão inteira e não paguei mico no meio dos jornalistas. =P