A morte de Aaron Swartz e o compartilhamento da informação

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No dia 11 de janeiro deste ano o mundo da internet ficou de luto, graças à perda de um de seus maiores ciberativistas. O americano Aaron Swartz, de apenas 26 anos, cometeu suicídio em seu apartamento no Brooklyn, Nova Iorque. Aaron era um notável hacker que, com apenas 14 anos, foi co-autor da especificação do RSS 1.0 e também participou da criação do site Reddit.

O que levou um rapaz tão jovem a tal ato extremo, sendo ele já reconhecido por suas habilidades e um importante nome do ciberativismo? Ao que tudo indica, esta ação desesperada de Aaron se deu porque ele estava sendo julgado e poderia ser condenado a até 35 anos de prisão por baixar artigos científicos de um periódico e distribuí-los livremente na rede. Além disso, a família do jovem alegou que ele sofria pressão do governo americano, dada sua importância no meio digital.

Esta tragédia coloca em foco uma questão extremamente relevante nos dias de hoje: a internet livre e aberta a serviço da transformação social, da democracia, da disseminação de ideias e da construção coletiva do conhecimento não deveria ser algo defendido por todos? Até quando a justiça será usada para defender o interesse de alguns em detrimento do bem geral? Parece piada, mas a lenda de Robin Hood nunca esteve tão contemporânea como nos tempos de hoje.

A INFORMAÇÃO NÃO É DIREITO DE TODOS?

Alguns acusam o jovem de roubo de informação. De fato, ele cometeu este ato, mas a informação e as pesquisas não deveriam ser compartilhadas com todos? Em sua página no Facebook, Plínio de Arruda Sampaio, político do PSOL, comentou: “Se a motivação de pesquisadores é produzir conhecimento para que ele fique fechado num site restrito a poucas pessoas, como o JSTOR, algo anda muito errado com os pesquisadores com os quais tens contato. Repito: com esse sistema de limitação de acesso à ciência, pesquisador não ganha nada. Ganha mais o autor ganhando visibilidade, ganha mais a sociedade com acesso à informação e ao conhecimento. Só quem perde é quem torna o conhecimento uma simples ferramenta de lucro.”

E quem nos dera se este tipo de acontecimento estivesse somente limitado a pesquisas e artigos científicos. Ainda está fresco na memória de todos outro caso de censura à informação. Quem não se lembra do episódio do Megaupload, que culminou na prisão de Kim Dotcom, CEO do site? Hoje o site voltou a funcionar com o nome de Mega, mas o caso serviu como um alerta à comunidade virtual de como o compartilhamento de informações poderia sofrer represálias pelas grandes corporações e governos.

Sem dúvida é uma questão muito complicada. Eu mesmo, como músico, vivo este dilema. Sou totalmente a favor do compartilhamento gratuito da informação e da disseminação da arte. Se não fosse por esta facilidade que a internet nos trouxe, teria tido acesso a muito menos música. Esta informação, além de me entreter, ajudou a construir o profissional que sou hoje, e isso sem contar os diferentes métodos de estudo e teorias que encontramos livremente na rede nas mais diversas áreas. Porém, nós também precisamos pagar nossas contas, e isso faz com que cada vez mais artistas tenham que buscar outros modelos de negócio para sustentar sua arte. O problema é que estas alternativas nem sempre são fáceis e muitos deles desistem de tentar buscá-las por falta de incentivo e valorização. Mas como resolver esta questão? Não podemos prender a informação, mas também não podemos matar nossos artistas no berço.

SOMENTE CLICAR EM “COMPARTILHAR” NÃO SALVA VIDAS

Compartilhar. Esta frase tão em voga nos dias de hoje (afinal, quem nunca compartilhou nada em suas redes sociais?), parece algo ao mesmo tempo muito distante de nossas realidades. Quantas pessoas compartilham coisas realmente úteis e enriquecedoras? Quem, entre as centenas de amigos que você tem em sua rede social preferida, compartilharia com você um prato de comida ou um teto para você morar? Quantas pessoas compartilham algo para realmente nos fazer bem, e não para mostrar uma falsa simpatia ou melhorarem a própria imagem? O conceito de compartilhar, por si só, anda muito distorcido.

O problema é o sistema capitalista? O problema são os modelos de negócios? A culpa é das grandes corporações? Do governo? Ou do nosso próprio egoísmo de não querer pagar e dar os devidos créditos e louros pela informação e pela arte? Muitas perguntas, e seja quais forem as suas respostas para elas, é importante que pensemos sobre estas questões. Assim, construiremos uma sociedade mais igualitária e, acima de tudo, mais justa, onde ninguém vai ter que morrer por compartilhar informação, ser preso por achar que todos têm o direito a acessar conteúdo de graça e, não custa sonhar, onde não precisaremos de partidos, mas que todos sigam a política do bem comum.