Faz tempo que eu não começo uma resenha de filme com uma historinha pessoal, e não existe hora melhor para fazer isso do que nesta resenha de A Maldição da Casa Winchester.
Lá na metade dos anos 90, provavelmente por volta de 1995, eu tive meu primeiro computador. Era um altamente poderoso 486 DX4, com um HD de 540 mega-fuckin’-bytes. Por que estou contando essa história? Não é só para pagar de tiozão e para dizer que “na minha época um Windows, DOS e uma pá de jogos ocupava menos espaço do que esse endless runner dos minions que você tem no celular”.
Não, o que liga esta anedota aparentemente aleatória ao filme de hoje é que naquela época HDs eram chamados de Winchester. Foi uma mudança tão gradual de um nome para outro que eu nunca me perguntei porque mudou. Hoje resolvi fazer uma busca, e segundo a Wikipedia, Winchester era um tipo específico de HD. Hum…
PARA DE ENROLAR, MEU!
Ok, impaciente porém estimado leitor. Falemos então deste filme que mal conhecemos e que não estimamos muito, A Maldição da Casa Winchester.
Este filme, dirigido pelos Irmãos Spierig (de Jogos Mortais: Jigsaw), nos apresenta ao médico Eric Price, interpretado por Jason Clarke.
Acontece que os acionistas da fabricante de armas Winchester querem tirar Sarah Winchester (Helen Mirren) da jogada. Para isso, resolvem contratar o dr. Price para que ele ateste que ela não bate bem da cuca.
Para emitir o atestado, ele é convidado a passar uns dias na enorme mansão da dona HD, onde ele poderá analisá-la de acordo com os preceitos de médicos profissionais. O filme não elabora se ele deixa a pobre Sarah esperando por 40 minutos depois do horário marcado para cada sessão com ele, no entanto.
BRINCANDO DE CASINHA
A questão é que a Dona Winchester realmente gosta de obras. Ela não para de construir acréscimos à sua já hercúlea mansão, e o fato de ter se tornado uma senhora reclusa deu aos acionistas a desculpa perfeita para destituí-la da empresa.
Aí rola o óbvio: a casa é assombrada. Não demora para o nosso amigo médico começar a ver fantasmas e coisas estranhas acontecerem. E este é o principal problema do filme. Seus sustos, todos do tipo “bu!”, são tão frequentes e desnecessários que acabam tornando o que deveria ser uma história tensa em uma comédia.
Permita-me dar um exemplo que rola bem no início do filme. O médico está na frente de um espelho daqueles pequenos, e o espelho se mexe, para mostrar uma cadeira. Ele arruma o bagulho e assim que tira o olhar, crau, a superfície refletora é novamente mexida. Isso acontece mais uma vez, até que finalmente popa um fantasma por meio segundo. Admito, eu gargalhei. É o tipo de cena que não ficaria estranha em um filme como Todo Mundo em Pânico e terem colocado algo assim num filme sério torna ainda mais engraçado do que seria em uma comédia.
Durante todos seus 100 minutos de duração, nenhum dos sustos chega a ser aquele velho truque do gato que pula do armário, mas também não espere nada muito mais elaborado do que isso. A não ser que este seja o seu primeiro filme de fantasmas, com certeza estará calejado demais para sentir algo aqui que não seja a vontade de rir.
A MALDIÇÃO DA CASA WINCHESTER
Pior que, se não optasse com tanta frequência pelos mais batidos truques do cinema de medo, a história até poderia salvar o filme. Não que ela seja especialmente criativa. Este conto do homem de ciências confrontado pelo sobrenatural é algo mais usado do que minhas meias, mas o filme apresenta um questionamento válido: os fabricantes de armas devem ser responsabilizados pelo que seus brinquedinhos causam ao mundo?
Infelizmente, sempre que a coisa parece que vai engrenar, aparece um fantasma com aumento de trilha sonora. A história culmina em um clímax que causa vergonha alheia, no qual um personagem reclama com toda a seriedade que não consegue dar tiros em um fantasma.
Não é comum termos uma atriz tão premiada quanto a Helen Mirren em um filme de terror, e a baixa qualidade da obra em questão torna impossível não perguntar: por que ela foi escolher logo este filme de terror para estrelar?