“Hey listen master, can you answer a question?
Is it the fingers or the brain that you’re teaching a lesson?
I can’t tell you how proud I am,
I’m writing down things that I don’t understand”
Black Math – The White Stripes
Muito frequentemente eu vejo pessoas lembrando de seus anos de Ensino Médio como uma época feliz e divertida, cheia de aventuras e experiências que são guardadas com carinho na memória. Chegando agora na reta final, percebi que nunca serei uma delas.
E não devia ser assim, considerando que eu gosto de estudar. Até coisas que nunca me serão úteis conseguem despertar minha curiosidade. Ainda assim, a maior parte do tempo das aulas eu gasto pensando em como queria estar em casa, lendo sobre alguma coisa totalmente irrelevante em meios práticos, mas que seria legal de discutir em uma conversa com amigos. Isso porque uma parte preocupantemente grande dos meus professores sabe tanto sobre o conteúdo quanto eu (em alguns casos ainda menos), e isso faz as cinco horas diárias que eu passo na escola parecerem um enorme e irrecuperável tempo perdido.
É muito frustrante. Assuntos que você quer realmente aprender e entender mais profundamente acabam sendo abordados de uma forma que te faz odiá-los. Quando eu era menor, adorava ver os experimentos d’O Mundo de Beakman e não via a hora de estudar os fenômenos físicos, por exemplo. No entanto, só o que eu vi em Física na escola foram fórmulas com variáveis que eu não sei o que representam ou por que têm de ser calculadas. Eu consigo ir razoavelmente bem nas provas, mas se não fosse pelo Beakman, seria completamente leiga no assunto.
O Ensino Médio deveria ser o tempo de descobrir talentos, de identificar os interesses de cada um e trabalhar para desenvolvê-los, deixando todos excelentes em suas respectivas áreas, afinal, cada um tem suas preferências e ninguém é bom em tudo. Em vez disso, desperdiçam seu tempo com lições decoradas que, apesar de fáceis de avaliar, serão esquecidas antes do próximo semestre.
Por outro lado, um amigo uma vez me disse que o grande objetivo implícito de ir à escola não é estudar e aprender a matéria, mas socializar e aprender a lidar com pessoas. Eu até concordo, mas isso não me compensa em nada. Já não bastasse a minha timidez, convenhamos que adolescentes são a espécie mais insuportável da face da Terra, especialmente quando estão em bando. Na minha escola tem todos os típicos: os que acham que “gay” é o pior insulto do mundo; os que adoram julgar e opinar sobre o que não os diz respeito; os que fazem de tudo uma tragédia grega; os que se acham especiais e superiores pelo que vestem/lêem/ouvem/etc; os que só se divertem se estiverem incomodando alguém… Ser obrigada a conviver com eles não foi lá muito gratificante. E o mais triste: também tem os que são na verdade pessoas interessantes, divertidas e promissoras, mas que se colocam num padrão ridiculamente baixo para não destoar da maioria.
O clima de imaturidade e desorganização é tão forte que a gente acaba evitando tomar parte em qualquer projeto extra-curricular além dos que a escola impõe, o que a deixa ainda mais monótona e fecha assim um círculo vicioso de chatice.
Para ser justa, eu tive alguns (poucos) professores que visivelmente gostam do que fazem e, portanto, foram profissionais impecáveis e ótimas influências. A estes eu tenho muita gratidão e admiração. E também pude contar com grandes amigos que com certeza deixaram a experiência bem mais fácil. Mas isso não conta, afinal a inspiração que você tira de um bom professor permanece com você mesmo depois de formado, assim como as boas amizades. Ou seja, nada lá vai realmente deixar saudade.
Um dos meus professores costuma repetir a expressão “lá fora” de um jeito negativo: “Lá fora as coisas não são tão fáceis”, “vocês tem de aprender a se virar lá fora” porque “lá fora é cada um por si”. Pois eu sinceramente não vejo a hora de poder estar lá fora, longe desse ambiente intimidador, desconfortável e limitador que a escola infelizmente me apresentou. O que eu sinto é que dia sete de dezembro não será só o último dia de aula, mas também o primeiro dia do resto da minha vida, e eu mal posso esperar.
E você, delfonauta? Que lembranças tem de seus anos de colégio?