É um fato certo nos shows de heavy metal em Belo Horizonte: se o evento acontecerá no Lapa Multshow (ou em qualquer outro local que não o Chevrolet Hall), o horário previsto para o começo do mesmo pouco vale. Sério, nos praticamente oito anos em que frequento a casa regularmente, não teve sequer uma vez em que determinado show tenha começado no horário marcado no ingresso. No caso do Iced Earth, o atraso foi de mais de uma hora e meia. O show estava marcado para as 21 horas, mas, nessa hora, as portas do local ainda estavam fechadas e a fila de fãs já dobrava o quarteirão. Aliás, nem mesmo a banda se encontrava presente. No entanto – e felizmente – é certo dizer que esse atraso foi o único inconveniente de um show tão esperado e que atendeu as expectativas de quase todos os presentes (“quase” porque tem sempre um ou outro que adora achar defeitos em tudo).
Assim sendo, passava pouco das 22:30 horas quando a introdução In Sacred Flames, do álbum The Crucible of Man, começa a tocar e, pouco a pouco, os guitarristas John Schaffer e Troy Seele, o baixista Freddie Vidales, o baterista Brent Smedley e o vocalista Matthew Barlow entravam no palco para executar Behold The Wicked Child, faixa do mesmo álbum e as duas únicas dele que tocariam, ainda que essa fosse a turnê de divulgação do danado.
De qualquer forma, acredito que, pelo fato de essa ser a primeira passagem do Iced Earth pelo país, a banda optou por um set mais abrangente, passando por praticamente todos os álbuns de sua carreira (senti falta de algo do Burn Offerings) ao invés de se focar mais em seu último trabalho. Foi uma jogada inteligente, já que isso tornou o show muito mais divertido.
Burning Times veio a seguir e, com o perdão do trocadilho, incendiou o público que praticamente lotava o Lapa. Declaration Day, a pesadíssima Violate, Pure Evil e a semibalada (ela começa lenta, vá) Drácula vieram a seguir e, por Satã, havia tempos que eu não via uma sequência de abertura tão boa em um show. Nesse meio tempo, Barlow trocou algumas palavras com a galera, e era vísivel sua empolgação e felicidade em estar finalmente no Brasil, ainda mais depois de todo o restante da turnê sulamericana ter sido cancelada.
Depois desse começo arrasador, Melancholy veio para dar uma esfriada nos ânimos e deixar a galera respirar um pouco. Aa saga da criança maldita destinada a destruir e purificar a humanidade, presente nos três álbuns da quase trilogia Something Wicked (“quase” porque o álbum Something Wicked This Way Comes traz apenas três faixas dessa história e não é totalmente baseado nela, como são Framing Armageddon e o já mencionado The Crucible of Man) foi retomada com Ten Thousand Strong. Aqui cabe um parêntese: essa música está presente em Framing Armageddon e esse álbum foi gravado quando Tim “Ripper” Owens estava na banda. Owens e Barlow têm vozes completamente diferentes, mas, ainda assim, Barlow fez bonito, cantando tão alto – ou mais – do que o Ripper.
Então Barlow deixa o palco e é a vez de John Schaffer assumir o microfone, não só para bater um papo com a galera – agradecendo a presença, dizendo-se extremamente feliz por estar ali e etc – mas também para cantar Stormrider, uma das músicas mais clássicas da banda. Com a volta de Barlow, é a vez de outro clássico: The Hunter e o tradicional “ô-ô-ô-ô” que a acompanha. Com uma satisfação estampada nos olhos e gestos especialmente de Barlow e Schaffer, veio um dos momentos mais esperados da noite, quando a banda executou a trilogia que deu origem à saga Something Wicked, na forma das músicas Prophecy, Birth Of The Wicked e The Coming Curse, ao fim das quais a banda deixa o palco.
Sinceramente, eu acho meio frescura quando bandas se despedem do público sabendo que vão voltar dali a pouco. O Iced não fez isso. Saiu do palco simplesmente e, ao som do também tradicional “olê, olê, olê, olê, Iced, Iced” voltou para o bis com Dark Saga, seguida por A Question of Heaven. É impressionante como um personagem tão xexelento quanto o Spawn pode ter sido a inspiração para uma música tão bonita quanto essa. (Em tempo: A Question of Heaven está presente no álbum Dark Saga, trabalho conceitual baseado nos gibis do personagem Spawn, de Todd McFarlane). My Own Savior veio a seguir e, a exemplo do que o Iron Maiden fez durante mais de uma década, o setlist foi fechado com Iced Earth, do álbum homônimo.
No fim das contas, como eu disse lá em cima, foi um show quase perfeito do Iced Earth. Os caras têm uma bela presença de palco, agitam o tempo todo e, mesmo que a atenção se concentre mais em cima da dupla Barlow & Schaffer, ambos bastante carismáticos, os “coadjuvantes” Seele, Vidales e Smedley fazem sua parte muito bem e contribuem para que o Iced Earth seja uma das bandas mais abençoadas pelo vento preto da atualidade. Só não foi um show perfeito por causa de alguns problemas com a guitarra de Seele e com o vocal de Barlow no começo, além da falta de músicas como Dante’s Inferno e Watching Over Me. Isso, no entanto, não pesou tanto no final das contas.