Na hora da sacanagem, não dá para negar, todo mundo tem algum gosto ou preferência específica, talvez até algum fetiche em particular. Eu? Eu gosto de ser observado por anões albinos besuntados em calda de chocolate, mas isso é perfeitamente normal. E é deste tema picante que a comédia Kiki – Os Segredos do Desejo trata.
São cinco histórias sem ligação, exceto pela temática, e que envolvem formas alternativas de relacionamentos e parafilias. Temos a mulher que se excita ao ter sua vida ameaçada em um assalto, o que faz com que seu namorado se desdobre todo para recriar a situação. Temos o casal na rotina sexual, cuja situação irá mudar quando hospedam uma amiga deles.
Há também o cirurgião cuja mulher, após ficar em cadeira de rodas, não sente mais vontade de transar, mas ele resolve esse problema dopando-a de anestésico e satisfazendo-se com seu corpo inconsciente. Há a mulher que descobre que só consegue chegar ao orgasmo fazendo seu marido chorar e, para terminar, há a mulher que sente tesão pelo contato com tipos específicos de tecidos.
Pode até parecer interessante, mas não é tudo isso. No geral, o filme é bem morno, e nunca arranca risadas. Não é ruim, tem até alguns diálogos bem bons e abertos com relação a sexo e fetiches, e pelo menos uma cena divertida, quando o cara da primeira história resolve realizar a fantasia de assalto da namorada de forma elaborada e a coisa acaba não saindo como ele imaginava.
Já a história da mulher do tecido é completamente descartável, é a mais curta e não se encaixa direito com a proposta do longa, ainda que seja ela também a responsável por uma das cenas mais divertidinhas do filme.
Contudo, para uma comédia, há dois problemas de ordem moral que são na verdade bastante pesados e bem longe de renderem material cômico. A mais grave é a história do médico e da esposa na cadeira de rodas. O cara passa a apagá-la sem ela saber para poder transar com ela que, quando está desperta, recusa os avanços do maridão por não estar confortável com sua nova situação (ficar confinada à cadeira). Isso é sexo não consensual e existe outra palavrinha para isso: estupro! Particularmente, não acho isso nem um pouco engraçado.
Minha outra objeção acontece na trama da mulher que só consegue gozar vendo o maridão chorar. Óbvio que ela começa a armar um monte de coisas para fazê-lo verter lágrimas, mas quando ela inventa uma mentira pesadíssima a respeito dela, eu diria que ela passou um pouco do limite e entrou no campo da pura crueldade.
Bom, seja como for, ainda com esses problemas graves, o filme ainda é assistível, ainda que esquecível, mas possui um visual bonitão. Vale dizer também que ele é bem recatado para o tema do qual trata, então não espere ver aqui um desfile de gente pelada, a coisa é mais picante na conversa do que imageticamente. Não é um grande programa para o cinema, mas se o tema te interessa, pode até valer uma assistida no conforto do lar.
CURIOSIDADE:
– Este filme é um remake do longa australiano A Pequena Morte (2014), provando que não são só os estadunidenses que não gostam de ler legendas!