Peter Pan

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Ainda me lembro que assisti a Hook: A Volta do Capitão Gancho no cinema (é, estou ficando velho). Eu tinha nove anos e, embora este não seja um dos filmes mais populares do Steven Spielberg, na época eu gostei pra caramba daquela continuação da história de Peter Pan, na qual o herói retorna à Terra do Nunca depois de velho para salvar seus filhos do Capitão Gancho.

Se Hook mostrava o depois da clássica história, o Peter Pan que chega esta semana aos nossos cinemas toma a direção contrária e se foca no antes. Sim, temos aqui mais uma história de origem, focada na amizade entre Peter e James Gancho (Garret Hedlund) antes de ele ser Capitão e perder a mão para um crocodilo, dando enfim sentido ao seu sobrenome.

De quebra, o garoto ainda terá de unir os nativos da Terra do Nunca com as fadas para derrotar o pirata Barba Negra (Hugh Jackman, irreconhecível), que está destruindo o lugar ao garimpá-lo atrás do pó produzido pelas criaturinhas mágicas. E, no processo, o guri vai se tornar mais parecido com o Peter Pan que todo mundo conhece.

A produção é caprichada, embora dê algumas escorregadas, e é claramente centrada na molecada mais nova, enchendo a tela de efeitos especiais e sem muito espaço para coisas como diálogos e silêncio. Nesse caso, acredito que o longa deve funcionar para elas tanto quanto Hook funcionou para mim quando eu era apenas um pequeno nerd.

Para quem já é mais grandinho, contudo, há poucos atrativos e fica aquela sensação de bonitinho, mas ordinário. Daqui a uns anos vai passar fácil na Sessão da Tarde, mas não será laureado como um de seus clássicos. Enfim, uma aventura estilo matinê para a família.

Hugh Jackman e Garrett Hedlund parecem estar se divertindo muito, ambos totalmente canastrões. O personagem do Smee ameaça roubar a cena, mas nunca chega lá e, como disse dois parágrafos acima, a produção, embora conte com efeitos especiais bem competentes, às vezes dá umas escorregadas.

Dentre elas, exagerar na caracterização carnavalesca dos nativos da Terra do Nunca ou o fato de que quando os piratas atiram em alguém, eles explodem numa nuvem de pó colorido. Caramba, até os piratas das produções atuais são um bando de coxinhas! Mas ao menos a Sininho ainda é chamada de Sininho e não de Tinkerbell, o que já é um alento.

Para completar, também não dá para entender porque os piratas e os mineradores cantam Nirvana e Ramones, em duas sequências completamente nonsense. Fiquei com a impressão de que os produtores queriam seguir um caminho estilo filme do Baz Luhrmann, porém mudaram de ideia a favor de um produto mais tradicional, mas essas duas cenas acabaram ficando como estavam, o que não faz muito sentido com o resto do tom da produção.

Como disse, o produto final é ok, competente, mas não exatamente inspirado. Cumpre razoavelmente bem a função de divertir as crianças mais novas, mas não é um produto tão atraente para quem já atingiu e passou da pré-adolescência. Se você tem crianças com menos de dez anos, vale o programa em família. Se não é o caso, procure outra opção.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
peter-panPaís: EUA/Reino Unido/Austrália<br> Ano: 2015<br> Gênero: Aventura<br> Duração: 111 minutos<br> Roteiro: Jason Fuchs<br> Elenco: Levi Miller, Rooney Mara, Cara Delevingne, Amanda Seyfried, Garrett Hedlund e Hugh Jackman.<br> Diretor: Joe Wright<br> Distribuidor: Warner<br>