Não deu para Tony Stark e seu ego gigante. Nem para o Hulk e suas calças roxas. E muito menos para o Thor e suas fanfarronices. Quem diria que o personagem que iria ganhar o melhor filme solo da Marvel Studios seria logo o cara que usa a bandeira dos EUA no peito? Pois aconteceu, e Capitão América 2: O Soldado Invernal é o filme em questão.
Se tem uma coisa que esse pessoal da Marvel Studios faz bem é pegar o que funcionou antes e usar em sua nova produção (embora às vezes eles também repitam o que não funcionou. Homem de Ferro 2, é com você), aumentando a escala sempre que possível. Como resultado, o novo longa do bandeiroso saiu redondinho, e se não fosse um gimmick de roteiro tão estúpido quanto ameaçar uma criança (você sabe que nada vai acontecer, então por que fazer isso?), teria levado o Selo Delfiano Supremo. Não foi dessa vez, mas realmente chegou perto. Contudo, estou me adiantando. Antes, repassemos um pouco do enredo do longa.
STEVE ROGERS, AGENTE DA SHIELD
Após os eventos de Os Vingadores, Steve Rogers está trabalhando para a SHIELD em tempo integral, enquanto continua seu processo de adaptação ao mundo moderno. Ele faz amizade com Sam Wilson, o Falcão (que, estranhamente, não canta em nenhum momento “I’m not a dog no”), e estreita sua relação com a Viúva Negra, visto que ambos passam a fazer várias missões juntos.
Contudo, também não demora a perceber que há algo de podre na SHIELD e logo terá de operar sem a sanção da agência para descobrir o que está errado na organização. Enquanto isso, uma figura de seu passado voltará para assombrá-lo na forma do Soldado Invernal. Mas isso você já sabia, é o subtítulo do filme.
Da mesma forma que o primeiro Capitão América conseguiu usar o patriotismo inerente do personagem de forma natural, no contexto de uma guerra, sem irritar quem não nasceu na terra do Tio Sam, o novo longa vai além. Ele usa o fato de Steve ser um homem com um conjunto de valores muito sólidos, porém datados, para discutir de forma crítica o atual estado político dos EUA. Sobretudo a constante política do medo disfarçada como segurança implementada após o 11 de setembro. Este acaba sendo o tema central do longa.
A INTEGRAÇÃO VOLTOU
O que mais chama atenção num primeiro momento e é uma das maiores qualidades é o fato de que, embora este seja um filme do Capitão América e, sim, ele é o protagonista, é também a película mais integrada ao universo cinematográfico Marvel. A Viúva Negra, Nick Fury e a SHIELD estão no centro da história, logo, possuem um papel importantíssimo, mas sem roubar os holofotes do homem do escudo. Capitão América 2 equilibra muito bem esses elementos na trama coesa.
E foi essa integração que eu mais senti falta no início da chamada Fase 2 da Marvel. Ok, no caso de Thor: O Mundo Sombrio, pode-se dar um grande desconto, visto que grande parte do filme se passa em Asgard. Mas foi imperdoável o tratamento de Homem de Ferro 3, excluindo todos esses elementos integrados e fazendo apenas uma rápida menção à batalha de Nova York.
Reclamações à parte e voltando à história, não só ela é boa e bem equilibrada, como vai afetar de forma drástica tudo que vier depois, especialmente o segundo filme dos Vingadores, o que torna esta película uma peça vital para a história mais ampla que a Marvel vem construindo nas telonas.
Outra coisa muito bacana foi a mudança de tom em relação a seu antecessor. Sai o clima de matinê, de aventura de época do divertido O Primeiro Vingador e entra uma pegada mais adulta e séria (na medida do possível) de thriller de espionagem. Alguns momentos até me lembraram um pouco James Bond.
EXPLOSÕES A RODO
O ponto alto, sem dúvida, é a ação. Todas as sequências de porrada, tiros e explosões são muito tremendonas, da primeira, com o Capitão se infiltrando no navio, à última, numa escala absurda de destruição. São estilosas, aceleradas, violentas e lembram um pouco a estética dos filmes do Jason Bourne, mas sem o cameraman com mal de Parkinson.
O Soldado Invernal é o ponto alto dessas cenas e toda vez que o sujeito aparece e entra em ação ele é muito badass, cheio de momentos hell, yeah. Sem dúvida, um adversário à altura para o bandeiroso e uma das escolhas de vilão mais acertadas. O Falcão (o qual, inexplicavelmente, em nenhum momento disputa uma queda de braço) também tem ótimas cenas e o efeito de voo ficou muito bom. Fora que a relação de amizade que desenvolve com Steve também ficou bacana e hilária.
Sim, hilária. Pois é, lembra que eu disse lá no começo que a Marvel se aproveita do que funcionou antes e usa de novo? Pois não é só o que funcionou no filme anterior do mesmo personagem. A fanfarronice dos filmes do Thor foi uma das agradáveis surpresas dos longas do deus do trovão, certo? Pois é, Capitão América 2 entra na onda e é muito mais bem-humorado que o primeiro (que já tinha sua boa cota de piadas), explorando a graça principalmente entre o trio Steve, Viúva Negra e Falcão. Mas elas nunca interrompem o andamento da história, que, como disse antes, tem um tom mais sério. Ficam restritas a momentos propícios.
Praticamente tudo funciona de maneira excelente. Melhoraram tudo que podia ser melhorado, até mesmo o novo traje do Capitão, muito superior àquela coisa quase amadora que ele vestiu em Os Vingadores. Mas acabou tendo uma escorregada. E o pior é que se os roteiristas tivessem coragem de levar em frente o que propuseram em determinado momento, o longa alcançaria um patamar ainda mais alto, virando o ilustre proprietário de verdadeiras bolas de aço. Mas claro que preferiram usar um subterfúgio barato daqueles que não surpreendem ninguém. E ainda periga da Marvel começar a repetir demais no cinema um dos elementos mais nefastos das HQs. Se você não faz ideia do que estou falando, não se preocupe, assim que você ver o filme, saberá na hora qual a minha bronca. Mas, se não conseguir esperar, vá lá, selecione o espaço abaixo. Mas reitero, é um spoiler gigantesco!
Refiro-me à morte de Nick Fury, o qual volta algum tempo depois todo faceiro praticamente gritando um “hah, pegadinha do Mallandro!” e explicando que tudo não passou de um estratagema. Acho que sua volta dos mortos não foi surpresa pra ninguém, afinal, se nem o agente Coulson continuou morto, não seria o chefão da SHIELD que empacotaria de vez. Mas se realmente tivessem matado ele, a Marvel teria ainda mais do meu respeito.
ENCERRANDO
Boa história, muita e excelente ação com explosões até não poder mais e uma peça importantíssima para eventos futuros. Eu diria que isso resume bem o que é Capitão América 2: O Soldado Invernal. Torno a repetir: até o momento é o melhor filme solo da Marvel Studios. E sério candidato a entrar também em listas de melhores longas de heróis de HQs. Então o que está esperando? Já para o cinema!
CURIOSIDADE:
– Novamente há não uma, mas duas cenas pós-créditos. Uma no meio dos créditos e uma lá no final. A última é boa e pode apontar o caminho a ser seguido em Capitão América 3. Contudo, a de pirar o cabeção mesmo é a primeira. Mas não posso falar nada sobre ela para não estragar a surpresa.
LEIA TAMBÉM AS RESENHAS DOS FILMES QUE LEVARAM A ESTE MOMENTO:
– Homem de Ferro – Onde tudo começou.
– Homem de Ferro 2 – Agora com ainda mais Tony Stark.
– O Incrível Hulk – Até por favelas cariocas o gigante esmeralda passou.
– Thor – E não é que o deus do trovão é meio fanfarrão?
– Capitão América: O Primeiro Vingador – Apresentando a última peça que faltava na fase 1.
– Os Vingadores – The Avengers – O filme de super-heróis mais esperado da história.
– O Hulk de Ang Lee – Não faz parte da história, mas, ei, é o Hulk!
– Homem de Ferro 3 – Has he lost his mind? Can he see or is he blind?
– Thor: O Mundo Sombrio – A fanfarronice está de volta.