Kick-Ass, tanto a série em quadrinhos quanto o filme, foram extremamente divertidos, especialmente para quem é fã de HQs de super-heróis. E uma de suas maiores surpresas e pontos altos sem dúvida foi a Hit-Girl, a psicótica justiceira mirim que fatia mafiosos como se estivesse brincando de bonecas.
Ela acabou roubando a cena do próprio protagonista e todo mundo queria ver mais dela. E muito mais, se possível. O escritor Mark Millar é um sujeito esperto e, atendendo à demanda popular, resolveu dar ao povo exatamente o que ele quer, com uma minissérie só da garotinha psicopata. E ela serve, como o nome em português já entrega, como prelúdio para Kick-Ass 2, tanto a nova minissérie quanto o filme.
Após a morte de Big Daddy, Mindy foi morar com a mãe e o padrasto, o policial Marcus. E também passou a estudar na mesma escola que Dave Lizewski, o próprio Kick-Ass. Além de tentar levar uma vida normal e treinar Dave para ser um herói badass, tem de driblar Marcus, que sabe de sua vida pregressa e a proibiu de combater o crime. Mas ela só vai parar de depois de completar sua lista negra, exterminando os membros que sobraram da organização mafiosa responsável pela morte de seu pai. Pois é, vingança, baby!
A HQ perde um pouco no fator surpresa, pois se antes foi um choque vermos uma minúscula menininha matando criminosos de maneiras brutais (e sensacionais, diga-se), agora já sabemos exatamente do que ela é capaz e isso tira um pouco do frescor dessa nova empreitada.
Por outro lado, o senso de humor sacana de Mark Millar continua afiado como sempre e garante ótimas risadas. Seja com Mindy tendo de lidar com as meninas do colégio que fazem bullying com ela (o que é um tanto previsível, mas ainda assim engraçado), seja no modo “sargento do exército” como lida com o treinamento do Kick-Ass, diversão é o que não falta aqui.
Millar, no entanto, pega ainda mais pesado é com Red Mist, que está elaborando sua vingança contra Kick-Ass. Ele transforma o cara num dos personagens mais patéticos dos quadrinhos e isso é simplesmente hilário. Só a sequência da viagem dele para treinar, inspirado pelo Batman, já vale a leitura.
De resto, a série se foca mesmo é na violência exacerbada e acaba por deixar a história (justamente algo que fez a primeira minissérie do Kick-Ass tão legal) de lado. Isso passa uma sensação de oportunismo, afinal, se a Hit-Girl virou um sucesso e com certeza terá um destaque maior no segundo filme, teve-se que aproveitar o momento para lançar algo só dela, ainda que a qualidade não seja tão boa quanto poderia. Ao menos, essa foi a impressão que eu tive durante a leitura.
Destaque negativo para os desenhos de John Romita Jr., do qual eu nunca gostei. Como esse cara é um dos principais desenhistas da indústria estadunidense é algo que nunca conseguirei entender. Acho o traço dele feio pra caramba, cheio de personagens com rostos achatados. Vou até pegar pesado e dizer que, para mim, ele não está muito longe do mestre Rob Liefeld, mas sei que tem quem goste. Muita gente, aliás.
Aqui, no entanto, sua arte está visivelmente apressada, beirando o desleixo. Absolutamente todas as crianças ficaram cabeçudas, por exemplo. Isso não atrapalha tanto a leitura, mas é nítido que mesmo na primeira mini do Kick-Ass ele fez um trabalho muito melhor.
No final das contas, este Prelúdio para Kick-Ass 2: Hit-Girl não é uma HQ essencial, pois não tem a mesma qualidade da primeira mini do Pontapé-Fiofós, mas se você está ansioso pela nova HQ e/ou pelo novo filme, serve como um bom tira-gosto para aplacar a ansiedade.