Muito tempo se passou desde que o primeiro álbum do Avantasia, o aclamado The Metal Opera, chegou aos nossos ouvidos. Com uma história remetendo a contos fantásticos, coros e instrumentos de orquestra, Tobias Sammet conseguiu reunir um time de artistas invejável para dar vida ao seu ambicioso projeto. Doze anos depois deste lançamento, é bom ver que o tempo não passa para este criativo artista.
É difícil mensurar as horas de forma objetiva, pois os 60 segundos que formam o minuto podem passar de diferentes maneiras. O tempo é inconstante, vivemos eternidades de segundos e horas de intensidades. E estes mistérios estão no novo trabalho de Tobias, que brinca com o tempo ao seu favor e faz com que ouçamos seus 62 minutos num piscar de olhos.
Mystery Of Time retorna epicamente às grandes sonoridades dos primeiros álbuns da banda, com grandiosidade, porém, sem soar pedante. Constrói delicadas e pequenas engrenagens, como um relógio, que juntos formam um conjunto de enorme bom gosto. As nuances vão do peso de faixas como Invoke The Machine à sutileza de Sleepwalking, que se encaixa no álbum sem parecer desnecessária, mesmo com o apelo comercial.
Os ponteiros se acertam com as participações de Arjen Lucassen (Ayreon),Ronnie Atkins (Pretty Maids), BiffByford (Saxon), Cloudy Yang, Bob Catley (Magnun), Joe Lynn Turner, entre outros, mas é novamente Michael Kiske que se destaca.
Tobias parece saber melhor que do que Kiske o seu lugar, e o rouxinol brilha nas faixas Where Clock Hands Freeze e Dweller in a Dream, com um timing perfeito de expressividade e talento. E se Kiske já é figurinha carimbada dos álbuns do Avantasia, o estreante Eric Martin também não faz feio. Em uma faixa que lembra as cativantes e marcantes baladas de sua banda Mr. Big, Martin parece à vontade ao lado de Tobias em What’s Left of Me, que deve agradar às moças que adoram cabeludos fofos com chocolate.
Mas é nas longas e épicas faixas, como Savior in The Clockwork e The Great Mystery que Tobias mostra que é um grande arranjador e domina como poucos sua Metal Opera. Tal qual um dono do tempo, o músico tem nas mãos instrumentais inspirados, instrumentações precisas e linhas vocais que, se não surpreendem, mostram extremo bom gosto e cuidado com os pequenos detalhes. O tempo vai passar voando durante cada um dos dez minutos destas faixas.
Apesar de tudo isso, o sagrado selo delfiano supremo não premia este trabalho pois, apesar da grande qualidade, falta novidade. Não há nada neste trabalho que o Avantasia não tenha nos mostrado em outros tempos, portanto, as engrenagens do relógio e seu preciso tic-tac não entregaram para nós uma obra atemporal.
Mas se você, como eu, gosta dos trabalhos anteriores da banda, com certeza é um álbum obrigatório a ser ouvido a qualquer hora. Mystery Of Time é um ótimo registro, e merece ser apreciado sem pressa, sem olhar no relógio, afinal de contas, já diria Mário Quintana: “Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas”.
CURIOSIDADES
– Você consegue contar quantas referências ao tempo eu fiz nesta resenha?
– Avantasia sempre me lembra Pokémon. Isto porque eu adorava jogar Pokémon Gold e Fire Red ao som dos primeiros álbuns da banda. A Metal Opera deixava tudo mais épico.
– Conte nos comentários álbuns, músicas ou bandas que você associa a algo totalmente sem ligação e por qual motivo. A história mais divertida ganha um relógio fictício.