Ah, os bastidores do mercado de quadrinhos… Se eles não fossem tão marginalizados pelo público geral, Hollywood teria material de sobra para fazer filmes de tribunal, traições e jogadas de marketing mirabolantes.
Este final de semana, mais um capítulo desse universo fascinante veio à tona. O ex-editor da Marvel, Jim Shooter, revelou em seu blog que a Casa das Ideias quase publicou os quadrinhos da sua arquirrival nos anos 80. Curioso? Saiba como a história se desenrolou.
O ano era 1984, e era apenas mais um dia de trabalho na Marvel. Foi então que Jim Shooter, então editor da companhia, recebeu a visita de Bill Sarnoff, chefe da divisão de publicação da Warner na época. Sarnoff tinha uma proposta indecente: fechar a DC Comics e licenciar os direitos de publicação dos principais heróis da companhia para a Marvel.
As motivações de Sarnoff eram simples: a DC dava prejuízo. Na época, ela respondia por apenas 18% do mercado, com suas vendas diminuindo a cada ano, enquanto a Marvel nadava em dinheiro. Como a Marvel demostrava ter uma capacidade muito melhor para lucrar em cima de quadrinhos, Sarnoff queria matar dois coelhos com uma cajadada só, acabar com o prejuízo e maximizar o lucro. Os personagens da DC seriam licenciados da mesma forma que outras franquias famosas eram publicadas pela Marvel, como Star Wars e Star Trek. Ou seja, a DC teria custo praticamente zero, recuperando 20% do lucro da venda das revistas, e ainda ganharia com publicidade e produtos derivados dos seus personagens (como desenhos animados, lancheiras, etc.).
Depois de convencer o presidente da Marvel na época, Jim Shooter começou a trabalhar nesse projeto. Ele envolvia publicar, inicialmente, sete revistas com os personagens mais populares da DC: Superman, Batman, Mulher Maravilha, Lanterna Verde, Jovens Titãs, Liga da Justiça e Legião dos Super-Heróis. O plano foi recebido com entusiasmo pela Warner, e tudo parecia caminhar para o fim de uma das mais tradicionais editoras de quadrinhos do mundo. Até mesmo John Byrne já estava oferecendo a sua proposta para renovar o Superman, com capa pronta e tudo. Mas então um meteoro metafórico atingiu a Marvel.
Sabendo o que estava se passando, as editoras menores começaram a processar a Casa das Ideias, sob a alegação de práticas de anti-truste. A Marvel era grande demais, na época ela detinha quase 70% do mercado de quadrinhos dos EUA. Junte os 18% da DC, e ela teria quase 90% do mercado. Ela teria esmagado toda a competição.
Por causa disso, os executivos decidiram desistir da venda. Não é uma boa ideia adquirir sua principal concorrente quando você está sofrendo uma ação anti-truste.
Eventualmente, a Marvel ganhou o processo que estava sofrendo. No entanto, na época em que isso aconteceu, a DC já havia recuperado as vendas após o grande trabalho de Alan Moore na editora e a reformulação causada pela Crise nas Infinitas Terras. A propósito, John Byrne foi responsável por reformular o Superman após a Crise. Muitos fãs mais antigos acusam ele de ter “marvelizado” o personagem, adicionando falhas de caráter (em menos de um ano no título do Homem de Aço, Byrne o fez matar e atuar em um filme pornô caseiro) e deixando-o menos poderoso. Assim, é bem provável que o Superman que seria feito pela Marvel acabou publicado pela DC.