Dia desses li uma entrevista com o canastrão Dee Snider, onde ele dava uma explicação bastante interessante sobre o revival do Glam Rock nos EUA. Disse algo mais ou menos assim: “os anos 80 foram a época da prosperidade nos EUA. A economia ia bem, o clima era de festa. Agora, com a crise, as pessoas querem algo que as traga coisas positivas”. E o que poderia ser mais alto astral, festeiro e portador daquelas mensagens que dizem que não importa o que aconteça, siga sempre em frente? Claro que as bandas de Glam ou Hard Rock, como acharem melhor, são capazes de despertar todos esses sentimentos, além de praticarem boa música em muitos momentos.
Na minha humilde opinião, o maior e mais divertido presepeiro daquela turma conhecida como Glam Metal é o Cinderella. E esse aqui é o seu melhor álbum. Por quê? Por vários motivos. O principal deles: são poucos os discos que trazem uma daquelas músicas conhecidas como “levanta defunto”. E aqui a dita cuja responde pelo nome de Shelter Me. Com backing vocals inspirados na música negra norte-americana, solo de saxofone e participação especial do presepeiro-pai-de-todos-os-presepeiros Little Richard no clipe, a letra legalzona tem que ter um trechinho reproduzido aqui:
“Everybody needs a little place they can hide / somewhere to call their own / don’t let nobody inside / every now and then we all need to let go / for some it´s the doctor / for me it’s rock and roll / for some it’s a bottle / for some it’s a pill / some people wave the bible / cause it´s giving them a thrill / others point their finger / if they don´t like what they see / if you live in a glass house / don´t be throwing rocks at me”
O Cinderella é comumente definido como o resultado do cruzamento do AC/DC com o Aerosmith, o que eu acho um grande equívoco. Primeiro porque as influências do chamado Southern Rock são gritantes, segundo porque o clima de festa os coloca definitivamente entre os Hard Rockers norte-americanos dos anos 80. Mas acredito também que as influências do Blues e do Rock’n’Roll os diferenciam um pouco de seus pares purpurinados.
Aqui temos na faixa título o indefectível hit radiofônico, que tocou incansavelmente nas rádios brasileiras na época do lançamento e que conta com um clipe clichezudo onde o vocalista toca piano sobre uma estrada de ferro. A produção visual da banda também sofreu uma modificação em suas fotos promocionais, distanciando-os bastante da androginia presente no material gráfico de seu primeiro álbum Night Songs.
Quer mais alguns motivos pra colocar essa presepada no seu som? Então lá vai: o arranjo de cordas da faixa título é assinado por um sujeito chamado John Paul Jones. Não sabe quem é o sujeito? Tá precisando fazer o dever de casa, hein? Tubo bem, lá vai outra. Nas faixas Make Your Own Way e Electric Love, há a participação de um cara chamado Ken Hensley. Também não sabe quem é o sujeito? Hein? Ah, entendi. Uma banda chamada Cinderella só pode ser de playboys gays e não interessa quem são os caras citados acima, né? Tudo bem então.
Só mais uma última observação. Lá no encarte, está escrito assim: write to your state representatives and tell them how you feel. You can make a difference. Claro que é só diversão e visual, né?