Ah, Robin Hood, aquele extraordinário arqueiro que acertou uma flechada na maçã na cabeça de… Espera, esse é o Guilherme Tell! Robin é o sujeito que mora na floresta de Sherwood e já teve uma porrada de adaptações cinematográficas, sendo aquela com o Kevin Costner, de 1991, a que eu mais me lembro, ao lado da paródia A Louca, Louca História de Robin Hood (sim, o título é assim mesmo. Pelo menos não o chamaram de A História Muito Louca de Robin Hood), do tremendão Mel Brooks.
Mas por que estou falando tudo isso? Simples, porque novamente o clássico personagem ganha uma adaptação no cinema, intitulada criativamente como Robin Hood. E essa nova versão tem pedigree: é dirigida por Ridley Scott e estrelada por Russell Crowe, a mesma dupla responsável por Gladiador. Logo, seria seguro dizer que este filme tinha tudo para ser tão épico e tremendão quanto a saga de Maximus, correto? Eu já respondo, mas antes, a sinopse:
Robin Longstride é um arqueiro do exército inglês. Quando seu rei, Ricardo Coração de Leão, morre em batalha, ele resolve desertar junto com um grupo de amigos e, por obra do destino, acaba assumindo a identidade de Sir Robert Loxley, um nobre da região de Nottingham também morto na guerra. E é para lá que ele vai, após fazer uma promessa ao verdadeiro Loxley antes dele abotoar o paletó.
Enquanto isso, o novo rei, João, começa a sacanear seus súditos cobrando impostos até pelo ar que respiram. Como se pode imaginar, o povo não fica muito contente com isso, mas tudo bem, porque um de seus principais conselheiros, Godfrey, pretende traí-lo, ajudando os franceses a invadirem a Inglaterra. E é no meio desse conflito que Robin Longstride ou Robert Loxley se envolverá e ganhará mais um nome: Robin Hood.
O que eu achei legal é que essa história é completamente diferente das outras adaptações que eu me lembro, muito mais elaborada e com várias alterações no enredo clássico, ainda que os mesmos personagens e suas essências básicas continuem presentes. Dessa forma, esse filme acaba sendo uma espécie de Robin Hood Begins, concentrando-se muito mais na gênese do personagem, e gastando uma porção considerável da projeção nela.
Agora, respondendo à pergunta lá de cima, se esta obra é tão boa quanto Gladiador, digo que não. Na verdade, ela está mais próxima de Cruzada, não apenas por se passar na mesma época histórica, mas porque, como o filme dos cavaleiros, embora seja um primor técnico e visual, é um tanto morno e nunca chega a atingir plenamente todo o seu potencial.
Robin Hood tem uma fotografia belíssima, figurinos e cenários primorosos e lutas violentas e bem coreografadas (ainda que quase não mostre sangue). Tem também o novo enfoque da história a seu favor. Mas nunca chega realmente a decolar. A história não empolga como deveria, mesmo tendo todos os elementos certos.
Não é de forma nenhuma um filme chato. Apesar de longo (140 minutos), você não sente esse tempo passar, o que é sempre uma coisa boa. Mas faltou algo que talvez só possa ser definido como alma. Ficou um pouco a sensação de que todos os envolvidos rodaram o longa no piloto automático, com competência, mas sem paixão.
As coisas esquentam um pouco quando Robin finalmente põe em prática sua política de roubar dos ricos para dar aos pobres. É aí que o filme ganha em diversão e quando as melhores cenas de ação acontecem. Vale destacar também o bando de Robin, responsável pelos momentos mais bem humorados do longa. O Frei Tuck e João Pequeno (que você deve reconhecer como o Blob, de X-Men Origens: Wolverine) são os mais engraçadões e arrancam algumas boas risadas.
Para fãs do personagem, de épicos de batalhas e do trabalho do diretor Ridley Scott, Robin Hood certamente não é o melhor exemplar disponível, longe disso. Mas também está longe de ser uma porcaria. Até pelo visual caprichado, é um trabalho que merece ser visto na tela do cinema. Desde que não se espere demais do filme, é uma opção divertida e nada mais.