Essa série “1001” alguma coisa já se tornou um hit na literatura. Muita gente quer ganhar uns trocados em cima desse novo filão. Salvo engano, isso começou com o livro 1000 lugares para conhecer antes de morrer. Depois dele, vieram inúmeros outros, sobre universo pop, comidas, bebidas, etc.
O interessante dos títulos é que da a impressão que todo o mundo tem tempo e grana para conhecer 1000 lugares, comprar e ler 1001 livros ou provar 1001 vinhos. Enfim, isso não vem ao caso agora, vamos nos ater ao livro tema da resenha, este que é, possivelmente, o mais nerd da “série” – visto que ainda não ouvi falar que tenha saído o 1001 games para jogar antes de morrer.
Primeiro fato a destacar é que o livro é mais um guia do que qualquer outra coisa. Ele não percorre a história do cinema para apresentar os filmes ou algo do gênero, portanto não tem como fazermos aqui uma sinopse. Esse formato deu início, logo de cara, às decepções que eu senti após tê-lo em mãos.
Ou seja, o livro apenas apresenta, em ordem cronológica – temos alguns erros de cronologia, porém, são irrelevantes para o conjunto da obra –, os filmes “imperdíveis” que foram lançados a cada ano. Infelizmente, são muitos títulos e poucos detalhes. O autor poderia ter concentrado em menos (e melhores) filmes e ter dado mais pormenores e curiosidades, sem falar em uma crítica mais completa, sobre cada obra. Não que as críticas sejam ruins, pelo contrário, em geral são muito boas. Porém, são deveras sucintas.
Se, por um lado, a forma de apresentação decepciona, a forma de edição anima: um papel e uma impressão de qualidade, com pequenas imagens de grande parte dos filmes.
Voltando a falar sobre o título, devo dizer que a escolha da expressão “para ver antes de morrer” me agrada. Não é pretensioso a ponto de dizer que esses são os 1001 melhores filmes da história do cinema. Apenas que são filmes que merecem (ou devem, no idioma original) ser vistos.
Como gosto é algo muito pessoal, uma lista desse tamanho gera, em qualquer leitor, uma série de discordâncias e já citaremos algumas delas. Antes, porém, outra observação: são muitos, muitos mesmo, os filmes tão antigos que é quase impossível encontrá-los. Tirando alguns clássicos, muitos filmes não foram nem sequer lançados por aqui, e o tradutor precisou “improvisar” um título nacional. Obviamente que esse problema é regional, no entanto, como são livros de uns 30 países, provavelmente isso deva acontecer com leitores de todos os lugares.
Levando em consideração que a ultima edição inclui filmes de 2007, e que provavelmente a maior parte dos leitores é nascida depois da década de 60 (quando saiu o excepcional Psicose por sinal), seria sensato diminuir a proporção de filmes anteriores a essa década. São 350 páginas de livros anteriores a 1960! Não que não tenha muita coisa boa daí pra trás, lógico que tem. Mas além de serem muito mais difíceis de encontrar, eles foram feitos com recursos totalmente limitados, e não é qualquer cinéfilo que os encara hoje em dia.
Sobre a seleção de filmes em si, muitos são os aspectos que geram discórdia. Evidentemente, como a seleção é pessoal, seria impossível ser diferente. Mas há algumas grandes injustiças. Filmes realmente muito ruins pipocam das páginas, ao passo que algumas grandes obras ficaram de fora.
Os desenhos são uma injustiça à parte. Todos nós sabemos que as animações hoje são responsáveis por alguns dos melhores filmes dos últimos tempos (vide quantos receberam o Selo Delfianus Supremus). Algumas das melhores cenas de comédia atuais pertencem a películas como Shrek, A Era do Gelo, Madagascar, Monstros S.A., etc. Isso sem falar em desenhos mais clássicos, como A Bela e a Fera, que foi a primeira animação a concorrer ao Oscar de melhor filme. E nenhum desses parece merecer ‘ser visto antes de morrer’.
Filmes de zumbi então, nem pensar. Mesmo de super-herói são muito poucos – e aqui reside uma das maiores injustiças: não temos a presença de Superman! A lista preza por filmes mais cult, e deixa de lado muitas coisas realmente imperdíveis.
De qualquer forma, não dá para negar que a ecleticidade da lista é, de certa forma, benéfica, estando presentes filmes de todos os gêneros do cinema. Porém, como comentado no início, a quantidade de obras prejudica a quantidade de informações.
Em suma, o guia poderia ser melhor e mais acessível. Nem por isso deixa de ser obrigatório na estante dos cinéfilos. Agora, se o cinema só te atrai pelos blockbusters, recomendaria gastar sua grana em alguma coisa mais divertida.