Nenhum jogo foi tão aguardado aqui no QG delfiano quanto God of War III. A expectativa era tanta que o Corrales acabou pré-comprando o jogo pela internet, na esperança de vê-lo chegar aqui o mais rápido possível. Infelizmente, graças ao “maravilhoso” serviço dos correios e da alfândega brasileira, ele se tornou o último ser humano na face da Terra a jogá-lo. Eu fui sortudo e recebi o meu exemplar apenas três semanas após comprá-lo, também pela internet e justamente no dia do lançamento. Sim, eu comprei depois e recebi primeiro. Bom trabalho, alfândega.
E não podemos deixar de agradecer nosso novo melhor amigo, Gutopires, que contou o final do jogo nos comentários dessa matéria só para ser sacana (pode ler sem receio, a gente censurou o spoiler, exatamente um dia antes do meu jogo chegar. Valeu mesmo, Gutão!
Com tamanha expectativa, seria até compreensível se o jogo fosse decepcionante… Não, pensando bem, não seria não. Se o jogo fosse decepcionante, eu rogaria pragas até a milésima geração de cada infeliz que ajudou a produzir o jogo, desde o presidente da SCEA até a tiazinha que limpava o banheiro da equipe de desenvolvimento! Se God of War 3 fosse ruim, estes miseráveis mereceriam morrer com uma infeção bem feia no pipi deles! Se God of War 3 fosse ruim, eu daria um jeito de amarrar duas lâminas gigantes aos meus ante-braços utilizando correntes flamejantes e sairia em uma caçada de vingança sangrenta atrás de cada uma dessas pessoas! Felizmente, God of War 3 é absurdamente tremendão! Felizmente até para mim, já que a ideia de cauterizar meu braço com correntes não me é muito atraente…
Portanto, me acompanhe, caro delfonauta, enquanto desbravamos todo o Olimpo em busca da nossa vingança através desta resenha.
HISTÓRIA
Uma das melhores coisas de God of War III é, sem dúvida, a história. Não que ela seja o ápice da narrativa nos games, longe disso. Mas ela não atrapalha e serve muito bem ao seu propósito: fazer você simpatizar com um homem careca, musculoso, besuntado em cinzas (sério, só alguém muito trüe trocaria o óleo pelas cinzas da sua esposa e filha) com cara de mau que só se importa em destruir o mundo.
Este foi o grande feito do primeiro jogo, lançando Kratos ao Hall da Fama dos personagens de videogames, que não conseguiu se repetir em God of War II.
Enquanto no primeiro episódio senti pena do nosso anti-herói, compartilhando o seu desejo de vingança e redenção e fazendo de tudo para que isso se tornasse realidade, no segundo eu jogava apenas para terminá-lo o mais rápido possível. Eu simplesmente não conseguia aguentar as lamúrias emo do Kratos, que se comportava como uma criança mimada com uma metralhadora na mão, que fazia birra porque lhe tiraram o doce da boca. A falta de uma boa história que me simpatizasse com o herói foi o que deu o gosto de “pacote de expansão” em God of War II. É um alívio constatar que a terceira parte consegue resgatar a minha simpatia pelo Fantasma de Esparta. Consegui simpatizar tanto com Kratos que, literalmente, só me importava com a nossa vingança: nem que todo o mundo acabe em ruínas, iríamos matar Zeus.
Em God of War 3, continuamos acompanhando Kratos em sua vingança contra seu pai, Zeus. Após ser abandonado por Gaia e perder tudo (de novo), ele finalmente percebe que é o único que se importa com sua vingança e inicia a sua jornada, que começa no Hades e só terminará depois que o corpo inerte de Zeus estiver debaixo das suas sandálias. Para que isso ocorra, Kratos terá de obter novamente o poder da caixa de Pandora e enfrentar todos os Olimpianos, que o odeiam pelos mais variados motivos.
Cabe uma nota aqui, já que eu achei isso bem legal. No segundo jogo, Kratos não tinha inimigos, apenas adversários. Todos os chefes do game eram pessoas que estavam atrás da mesma coisa que ele ou apenas paus-mandados para impedi-lo de obter uma audiência com as Irmãs do Destino. Não por acaso, as únicas boss battles que realmente achei memoráveis no primeiro jogo eram contra personagens que tinham uma motivação real contra o espartano: Euryale e as Irmãs do Destino. Já aqui, absolutamente todos os chefões são memoráveis, pois todo mundo tem algo contra Kratos: Hércules acredita que Kratos é o filho predileto de Zeus, Hefesto considera Kratos o responsável pelo seu tormento, Poseidon e Hades não aceitam serem desafiados por um mero mortal, e assim vai.
Todos os ambientes têm uma história completa e bem detalhada. A base da história é explicada em cutscenes, e você não precisa de mais nada para entender o lugar. Ainda assim, os programadores colocaram um detalhe bem interessante para ajudar a criar o clima. Em diversos lugares, há páginas de papel com notas e cartas de pessoas que já estiveram por lá. No Hades, por exemplo, você encontra cartas de pessoas que passaram pelo julgamento relatando a tortura ou a salvação. Felizmente, estas cartas não são itens colecionáveis, apenas um bônus a mais. Desta forma, você não se sente obrigado a jogar mais uma vez apenas para conseguir mais um troféu.
A história é uma continuação direta de God of War II. Se você ainda não jogou nenhuma edição anterior, é recomendável que você adquira e jogue God of War Collection, que vem com os dois jogos do PS2 em um único disco para o PS3. Não que você vá perder muita coisa se não fizer isso antes, já que os eventos das edições anteriores são reapresentados aqui, inclusive na belíssima sequência de abertura do jogo, mas é sempre melhor conhecer toda a história antes de mergulhar no final.
Por falar em final, infelizmente há uma leve decepção. Nada que venha a estragar o jogo, mas ele perde um pouco do tom épico. É como um gol de empate que o time que estava ganhando recebe aos 49 do segundo tempo: se tudo acabasse um minuto antes, teria sido perfeito. A tentativa de passar uma mensagem positiva, ao estilo de “acredite nos seus sonhos”, simplesmente não combina com Kratos. Além disso, depois dessa ladainha o jogo acaba sem nenhuma cena que realmente sustente essa mensagem, deixando você sem entender o que eles queriam com isso. Como eu já disse, isso não estraga o final de forma alguma, e mesmo essa parte da mensagem positiva é extremamente divertida e bem feita. Mas ela deixa sim um pouco de estranheza.
GRÁFICOS
Este é o ponto máximo do jogo. Os gráficos não são nada menos do que estupendos. Quando você luta nas costas de um Titã em movimento sem perder nenhum detalhe gráfico, não há como não abaixar as calças, fazer o sinal do martelo e gritar “Hell, Yeah” besuntado no suor do seu próprio corpo!
God of War 3 é bonito e sabe disso. Não há nenhuma cutscene cinemática, tudo é feito com os gráficos do próprio jogo. Em vários momentos durante o game, você ficará estonteado com a imensidão dos cenários enquanto controla um Kratos pequenininho lá em baixo, enquanto em outros a câmera chegará bem perto, do lado do personagem, e você poderá ver todos os detalhes das texturas. Não houve nenhum momento em que as texturas “poparam” do nada no cenário ou pareceram menos detalhadas.
A beleza gráfica não se limitou apenas aos exteriores, mas também ao interior dos personagens. O jogo é extremamente violento, com sangue jorrando aos montes e um detalhe adicional: entranhas voando. É sangrentamente lindo ver intestino, fígado e outros órgãos vitais pulando para fora toda vez que você abre a barriga de um centauro, ou a córnea balançando quando arranca o olho de um ciclope. Sem falar nas tremidinhas e balançadas naturais nos seios de Afrodite enquanto ela se move languidamente na cama, tentando seduzir Kratos. Um detalhe que só um exemplar heterossexual do sexo masculino consegue valorizar. ^_^
O único ponto negativo aqui não vem do jogo, mas da minha deficiência financeira. O jogo foi feito para ser jogado em uma televisão de LCD ou plasma com no mínimo 29 polegadas. No entanto eu tenho uma televisão CRT de 21 polegadas, o que fez com que eu perdesse vários detalhes e tivesse uma experiência inferior. Se você ainda não comprou uma televisão moderna, recomendo fortemente que faça isso.
Fora isso, que realmente não é culpa do jogo, a parte gráfica está sensacional. Meus parabéns, Santa Monica Studio, vocês realmente capricharam em todos os detalhes neste aqui!
JOGABILIDADE
Muito pouca coisa mudou do primeiro jogo para o segundo e isso se repete aqui. Os ataques e ações básicas continuam as mesmas, você continua com um medidor de magia e de vida, além de um medidor de ataques especiais (aqui chamado de “Rage of Sparta”). Kratos conta com diversos tipos de armas e magias, além de um ataque de longa distância.
No entanto, esta variedade é enganadora. Apesar de você ter cinco armas diferentes, salvo ocasiões realmente especiais você usará somente duas delas: as “Lâminas do Exílio”, arma tradicional do herói com outro nome, e os “Cestus da Neméia”, duas manoplas gigantescas para dar sopapos nos inimigos. Como você dificilmente mudará de armas, acabará sempre usando somente duas magias: o “Exército de Esparta” (que convoca um exército espartano que protege Kratos com escudos enquanto fere os inimigos ao redor com lanças, similar à manobra “porco espinho” que vemos ao final de 300) e o “Rugido da Neméia” (onde Kratos bate no chão derrubando os inimigos à sua frente).
Isso acontece porque, diferente do primeiro e segundo jogos, as magias agora são atreladas às armas. Para mudar de magia você precisa necessariamente mudar de arma. Apesar desta troca ser bem rápida e permitir a estrategistas utilizar diversas armas no combate da mesma forma que você usava magias diferentes em sequência, você acaba se acostumando a utilizar apenas esses dois ataques, pois está mais preocupado em bater nos inimigos do que em lutar de forma estratégica. Como as duas magias são bem eficientes, as outras não fazem tanta falta.
Outra novidade é o medidor de energia para itens mágicos, abaixo do medidor de magia, que serve principalmente para ataques à distância. Ao invés de colocarem o ataque à distância como uma magia, o pessoal do Santa Monica Studios decidiu dar a Kratos uma única arma mágica que permite atacar à distância sem consumir magia. Isso foi uma mudança muito bem vinda na minha opinião, já que o uso do ataque não lhe impedirá de usar os outros poderes. A barra de energia de itens mágicos se recarrega sozinha e rapidamente após um tempo, além de permitir “carregar” o item com um ataque mais forte à Mega Man. Além do arco e flecha, outros itens igualmente úteis utilizam essa barra: a cabeça de Hélio, que ilumina o ambiente e atordoa inimigos e as botas de Hermes, que permite que você faça o já manjado wall run.
Há diversos baús com experiência, magia e vida espalhados pelas fases, além dos itens especiais que, quando colecionados, aumentam uma dessas barras. No entanto, há muito mais desses baús escondidos do que à vista. Portanto, o jogador é aconselhado a explorar cada milímetro do ambiente antes de ir para a próxima parte. Como o jogo é bem linear, muitas vezes você não poderá voltar atrás para pegar aquele baú que ficou esquecido. Como se não bastasse, muitas vezes a câmera fixa esconde esses baús, uma tradição da série. Além disso, o backtracking é praticamente inexistente.
Não há novidades no que se refere aos inimigos comuns, com exceção das quimeras. No entanto, a sensação é de que há um equilíbrio maior. Os sátiros, inimigos mais pentelhos de toda a série, aparecem apenas algumas vezes, um verdadeiro alívio. Os cérberos também aparecem poucas vezes, assim como os ciclopes e as sereias. Normalmente você enfrentará de 5 a 15 inimigos “buchas” junto com um ou dois inimigos mais poderosos. Além disso, cérberos e ciclopes podem ser controlados pelo jogador, o que é questão de sobrevivência em algumas batalhas.
No que se refere ao level design, há surpresas muito gratas. Os puzzles realmente são interessantes e não consistem apenas na empurração de caixas. Partes onde Kratos tem de girar manivelas ou empurrar caixas enquanto inimigos comuns usam a tática “montinho” para minar seus pontos de vida simplesmente deixaram de existir. Finalmente os desenvolvedores perceberam o quanto isso era chato. Os puzzles normalmente têm um motivo para existir, deixando de ser algo que simplesmente quebra a ação, como era no segundo jogo. Esse é mais um exemplo de que o time de desenvolvimento aprendeu com os erros. Vale o destaque para o labirinto no Jardim de Hera, que exige que o jogador monte uma ilusão de ótica para conseguir passar. Sem dúvida alguma este é o puzzle mais criativo de toda a série.
Outra grata surpresa é a mudança de jogabilidade em algumas partes. Em momentos específicos a câmera ficará em primeira pessoa, enquanto em um outro ficará exatamente de lado, emulando a câmera de um jogo de luta em 2.5D.
Os quick time events também passaram por modificações. Como quem jogou o demo disponível gratuitamente na PSN pode constatar, agora os botões surgem na tela inteira de acordo com sua posição no joypad. Quando você tem de apertar o triângulo, ele surge sempre na parte superior da tela, da mesma forma que o quadrado sempre aparece do lado esquerdo, o círculo do lado direito e o xis na parte inferior. Esta foi uma mudança excelente por dois motivos: não é preciso decifrar o botão a ser pressionado, já que o local que ele surgiu já indica muito bem qual apertar, e permite que você se concentre em ver a animação ao invés de botões. Houve gente que reclamou dizendo que isso os fazia ter de prestar atenção na tela inteira, mas eu discordo. Como você não tem que se preocupar em decifrar os botões, apenas o local onde eles aparecem já é indicativo o suficiente e você não precisa olhar para eles, pois a sua visão periférica faz o serviço para você.
Curiosamente, com esta mudança, os QTE que exigiam que você girasse a alavanca analógica ficaram bem mais raros. Alguns ainda exigem uma volta completa, mas nada tão comum como era comum nos jogos anteriores. No entanto, o movimento de girar a alavanca repetidamente ainda é comum para várias tarefas.
Além do modo “história”, há os tradicionais “challenge modes”. Como esse tipo de coisa não costuma me atrair, não cheguei a experimentá-los por muito tempo, mas seguem a mesma linha dos jogos anteriores. O challenge mode só é aberto após você terminar o jogo. Como era esperado, God of War não possui nenhum modo de jogo multiplayer online.
CONCLUSÃO
God of War 3 já entrou para a lista de jogos obrigatórios de quem possui um console afrodescendente sexy da Sony. Só pelo fato de terminar uma história que começou há quase cinco anos, já era digno da atenção do jogador, mas o fato de ser um jogo extremamente bom pesa ainda mais.
É pouco provável que God of War III ganhe o título de jogo do ano. Tal prêmio parece muito mais apropriado a jogos realmente inovadores como Heavy Rain e, no quesito história, God of War não chega nem aos pés deste. Ainda assim, ele é extremamente divertido e tem tudo aquilo que os fãs da franquia sempre gostaram: ação, violência e puzzles interessantes. Ele entra no seleto grupo de jogos exclusivos obrigatórios para quem tem um Playstation 3, que inclui também Metal Gear Solid 4, Little Big Planet e os dois Uncharted.
Curiosidades:
– Um dos puzzles do jogo faz uma homenagem divertida aos jogos musicais, tão famosos hoje em dia. Para mim foi a parte mais difícil do jogo. =P
– Desta vez, o capitão do navio que Kratos salva da hidra no primeiro jogo não aparece. No entanto, ele está presente em uma das cartas que encontramos no Tártaro.
– Há vários troféus e eles têm nomes bem divertidos, seguindo a tradição iniciada em God of War Collection.
– Até o momento da publicação desta resenha, mais de um mês depois do envio, o God of War III do Corrales ainda não havia chegado.
– No dia 23 de abril o Corrales se tornou oficialmente a última pessoa na face da Terra a jogar God of War III, quando seu jogo finalmente chegou.