Vai ouvir pagode! Essa é a fala derradeira quando o assunto debatido é o Heavy Metal, especialmente quando os envolvidos descobrem que as preferências de uns são mais “comerciais”, mais “leves” e menos “verdadeiras” que as dos outros. Vai ouvir pagode é a máxima para desqualificar o interlocutor, pois indica que ele aprecia algo menor, completamente desprovido de valor artístico, ao contrário de faixas pesadas, com letras falando sobre elfos e dragões, e guitarras cheias de solos masturbatórios tocados por caras musculoso de cueca e besuntados em óleo. Isso sim é arte! Enfim, o Pagode é algo digno daqueles que são incapazes de compreender toda a técnica superior envolvida nos trabalhos baseados em acordes pesados. Sim, isso foi uma ironia.
Pois bem. Como todos sabemos que o DELFOS é o veículo preferido de dez entre dez traidores do movimento, aqui vai uma boa dica para os momentos em que lhe mandarem ir ouvir pagode. Simplesmente vá mesmo!
O álbum traz as músicas que fizeram parte do repertório do show Cachaça Dá Samba, encomendado pela Cachaçaria Mangue Seco, localizada no centro histórico do Rio de Janeiro. A pesquisa de repertório, produção e execução foram feitas por cinco músicos, cujos nomes estampam a capa da belíssima edição em digipack: Alfredo Del-Penho, Pedro Paulo Malta, Luís Felipe de Lima, Beto Cazes e Henrique Cazes. Aliás, a apresentação gráfica é digna de nota. Todo o encarte e capa são ilustrados com rótulos antigos de garrafas de cachaça.
A cachaça, bebida brasileira por excelência, é tema de sambas que percorrem todo o século XX. É interessante observar que, se nos dias atuais a cachaça adquiriu status de bebida nobre, vendida em suntuosas cachaçarias, num passado não muito distante era companheira assídua de um mundo que vivia às margens da sociedade (alguém aí pensou no termo underground? Cachaça é trüe, cara!). Autores clássicos como Candeia e Noel Rosa cantam as desventuras dos, digamos, consumidores da bebida. Aliás, Noel Rosa nos traz a tragicômica letra da canção Maria Fumaça: “Maria Fumaça / fumava cachimbo / bebia cachaça / Maria Fumaça / fazia arruaça / quebrava vidraça / e só de pirraça / matava as galinhas / de suas vizinhas / Maria Fumaça / só achava graça / na própria desgraça”.
O leitor mais desavisado pode pensar: mas era só o que faltava, agora lá vêm eles defendendo o consumo de bebidas alcoólicas, achando bonito cantar a desgraça alheia. Calma aí, galera. Entre os sambas aqui presentes, há também uma sábia recomendação na música que traz já no título um alerta: Quem Não Sabe Beber. Diz a letra: Olha / eu acho feio o sujeito beber cana / sete dias na semana / sem se controlar / se entra no bar quer beber fiado / se alguém diz que está errado / ele ainda quer brigar.
Caríssimos leitores, eis a nossa dica. Sempre que lhe mandarem ouvir Pagode, recorram a este CD. É divertido, é leve, é irônico e canta os hábitos de pessoas que vivem às margens da sociedade.
Por fim, uma opinião pessoal. Essa é pra provar de vez que o Corrales não entende nada de Metal, que é o traidor-mor do movimento e que o DELFOS perdeu totalmente a qualidade publicando uma resenha de um CD de samba. Se alguém nos mandar ouvir Pagode agora, vai ser com razão!