Sempre achei que a pessoa que alega não gostar de ler apenas o faz porque nunca teve a oportunidade de ler uma boa crônica. A crônica é a leitura ideal para quem não tem o tempo ou a paciência necessária à leitura de um bom romance. Podemos dizer que ela é quase a literatura adaptada à vida moderna. Não que ela seja algo novo, mas é algo que podemos ler na fila do banco, no ônibus, no metrô ou mesmo entre uma aula e outra, sem prejudicar nossa percepção da história.
E ela se destaca por estar à nossa mão: basta pegar um jornal ou revista que certamente acharemos uma lá. Mas o que a torna deveras legal é o seu tom humorístico. Sua crítica é dotada da acidez e ironia que somente o humor é capaz de prover.
E, nesse campo, o Brasil realmente teve grandes mestres: Millôr Fernandes, Fernando Sabino, Luis Fernando Veríssimo, entre outros. Mas, dentre esses “mitos”, quero destacar um que talvez não seja TÃO conhecido por alguns: Mário Prata.
Mário Prata é um cara extremamente bom em “extrair” humor das situações cotidianas. Tirar risadas de situações que provavelmente já aconteceram comigo ou com você, mas que passaram quase despercebidas. O bom humor está presente em grande parte das suas cerca de duas mil crônicas. Ele ri até mesmo da própria vida, relembrando o conselho do seu pai de ‘parar de escrever bobagem e fazer concurso pro Banco do Brasil’.
Nesse livro, são publicadas suas cem melhores crônicas (que, como o título conta, são na verdade 129), escolhidas por ele mesmo. E a obra já começa interessante, visto que os textos não são colocados em ordem cronológica, mas sim em ordem de temas, semelhante à criação do mundo: primeiro as palavras, depois o homem, a mulher, o sexo, a psicanálise, as crianças, gentes, lugares, coisas, etc.
E todos esses temas têm seu “lado cômico”. A máquina de escrever, a burocracia estatal ou o criado mudo, podem gerar histórias repletas de bom humor e inteligência – e, em alguns casos, uma sutil crítica.
É uma leitura simplesmente viciante, mesmo para quem é fã de textos longos e enredos complexos (como eu). Aliás, a magia do livro reside justamente na simplicidade do enredo. Ou, melhor dizendo, a simplicidade da realidade. Cabe a nós olhar o lado bom do que nos acontece. Aprender a rir com os erros.
E, como o DELFOS tem a intrínseca missão de colaborar para o “desemburrecimento” humano – ao passo que a mídia tem a missão contrária – nada melhor do que recomendar aqui este livro divertido e envolvente. E, se você não gosta de ler, por que não começar por algo realmente prazeroso? Compre-o aqui e delicie-se com um autor “inigualável” (nas palavras de Luis Fernando Veríssimo) e um dos livros mais divertidos dos últimos tempos.