Em momento algum cogitei a possibilidade dos leitores do DELFOS utilizarem esse material em suas aulas, pois sei que esse não é exatamente um site freqüentado por professores (muito embora acredite que os assuntos tratados aqui deveriam ser do interesse de qualquer professor que trabalhe diretamente com jovens e adultos). No entanto, sei que, como eu, muitos dos leitores desse site já tiveram inúmeros exemplares de suas amadas HQs arrancadas de suas mãos por professores que muitas vezes não compreendiam do que se tratava o referido material. Felizmente, essa concepção vem mudando a passos largos, e cenas como a que descrevi tendem a ser torna cada vez mais raras. Digo isso porque livros como esse Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula são capazes de lançar um outro olhar em direção ao fantástico mundo da HQs.
Ao considerar os quadrinhos um meio de comunicação de massa de grande penetração popular, como é claramente dito logo na primeira página, os autores demonstram que seu ponto de partida lhes permite uma infinidade de abordagens possíveis. E reside nesse aspecto, a meu ver, a possibilidade de atingir um público muito maior do que aquele formado por professores em busca de um melhor desempenho profissional. Fãs do mundo dos quadrinhos podem encontrar aqui informações preciosas sobre a arte que tanto admiram. Como exemplo, encontramos a referência a um código de conduta elaborado por editores de quadrinhos no Brasil no final dos anos 40, cuja preocupação primeira era garantir a pais e educadores que o conteúdo das revistas não iria “prejudicar o desenvolvimento moral e intelectual de seus filhos” (p. 13). Alguns dos procedimentos citados na página 15:
– a gíria e as frases de uso popular devem ser usadas com moderação, preferindo-se sempre que possível a boa linguagem
– são inaceitáveis as ilustrações provocantes, entendendo-se como tais as que apresentam a nudez, as que exibem indecente ou desnecessariamente as partes íntimas ou as que retratam poses provocantes
– a menção dos defeitos físicos e das deformidades deverá ser evitada.
Citando exemplos que percorrem os mais variados nichos do mundo dos quadrinhos, é possível encontrar referências a HQs editadas pelo governo de Mao Tse-Tung, além dos clássicos Garfield, Homem-Aranha, Batman, Chico Bento e Spawn entre tantas outras. Considerando-se que não se trata de material direcionado a experts no assunto, é digno de nota o primeiro capítulo em que se propõe aos leitores uma espécie de primeiro contato com a linguagem peculiar do mundo dos quadrinhos. Expediente extremamente válido se considerarmos que as referências citadas acima pedem em determinados momentos uma aproximação bastante individualizada.
Num momento em que chegam às telas de cinema diversas adaptações para HQs, portanto levando a um número ainda maior de pessoas o universo em questão, trabalhos como esse enchem de orgulho aqueles sujeitos que, quando ainda garotos, insistiam em acreditar que todos aqueles personagens tinham algum valor. Compre aqui.