O Pink Cream 69 é uma banda muito boa e, infelizmente, menos conhecida do que deveria. Muita gente a conhece apenas como a ex-banda do vocalista do Helloween e esses dificilmente vão atrás para conhecer. Eu tive o prazer de conhecer o som deles há quase 10 anos, em 99, quando da sua primeira passagem pelo Brasil. A primeira vez que os ouvi já foi em um show e gostei tanto que, algumas semanas depois, comprei o excelente Electrified. E aí um fato inédito aconteceu: a música dos caras era tão pegajosa que, mesmo tendo ouvido apenas no show, reconheci boa parte do CD em questão, que acabou se tornando um dos meus discos de Hard Rock preferidos – e com uma das melhores baladas da história (Gone Again). “Ouça essa música com uma moçoila e ela será sua na mesma hora”, já diz nosso mestre, Guillermo Gutierrez.
Desde então, continuei acompanhando a banda e torcendo para que eles voltassem ao Brasil. Isso vai acontecer esse ano, mas eu decidi não ir ao show, pois, em uma conversa com o organizador, não gostei da atitude dele em relação à imprensa musical. Fico torcendo para que eles voltem para um show de verdade em breve, com uma organização profissional. De qualquer forma, mesmo tendo lançado ótimos discos depois de Electrified, eles nunca mais repetiram a qualidade alcançada lá. E isso vale também para este In10sity, o novo álbum da banda.
O começo é um dos mais estranhos desde o Accept e sua intro Polka para Fast As a Shark, pois começa com um sambinha e uns gritos que parecem um terreiro de macumba em alemão. Depois disso, contudo, o verdadeiro Pink Cream aparece e Marching On tem todas as características principais da banda.
Para quem não conhece, eles fazem um Hard Rock mais sério, sem aquele clima alegrinho e o bom humor típico das bandas estadunidenses, além de contar com letras mais sérias e críticas. Não, o som deles não é deprê, mas está muito longe da alegria contagiante de um Van Halen ou Kiss, por exemplo. Mas se você conhece Hard Rock europeu, não vai encontrar muitas novidades aqui.
Na segunda música, No Way Out, comparece a típica combinação alemã de peso com melodia. Outra que está entre as melhores do disco. Crossfire, por outro lado, é mais estranha. O vocal ritmado da estrofe lembra o que a banda fez no álbum Food For Thought e é bem legal, mas o refrão é bem chatinho e meio que tira a graça da música.
I’m Not Afraid é talvez a mais tipicamente Hard Rock até o momento. Rápida, alegre e contagiante. A New Religion é mais cadenciada e traz aquele tipo de refrão que você já sai cantando desde a primeira ouvida. Normalmente, as minhas músicas do Pink Cream preferidas são as que seguem esse estilo e, não por acaso, colocaria esta como um dos grandes destaques do álbum.
The Hour of Freedom parece uma mistura entre Scorpions e Black Sabbath. Pesada e cadenciada, essa não me agradou. Stop This Madness tem o estilão do Electrified, mas se estivesse naquele disco, provavelmente ficaria meio apagada. O refrão não é muito inspirado, mas é uma boa música. Já Desert Land é uma mini-balada de um minuto e meio que não faz muita diferença no álbum, mas é bonitinha.
Out of This World lembra Shame em sua estrutura. Estrofe lenta e refrão pesado. Virge, agora acabei de perceber que isso lembra é Nirvana. Melhor ir para a próxima música. It’s Just a State of Mind traz de volta o PC69 melódico em sua melhor forma.
O que esperar de uma música chamada Wanna Hear You Rock? Ritmo forte e refrão pegajoso. É a mais próxima do estilo estadunidense de Hard Rock e tem até um quê de Guns n’ Roses. Visivelmente uma música criada para shows – e deve ser um dos grandes momentos da nova turnê. Dá até para imaginar o vocalista David Readman conclamando a galera a gritar I Wanna Hear You Rock!
Slave to What I Crave lembra o típico Metal alemão. É rápida, é pesada e é melódica. Por fim, chegamos à grande balada do disco, Last Train To Nowhere. Obviamente, ela não é definitiva como a Gone Again, mas também é muito bonita e seu refrão tem uma melodia bastante emocional.
Este álbum marca a estréia do guitarrista Uwe Reitenauer, fazendo com que a banda tenha dois guitarristas. Não sei se é um reflexo disso, mas este é o disco com solos em maior quantidade e complexidade que a banda já lançou, o que contrasta com as músicas quase sem solos que fazia antes. Particularmente, eu não sentia falta de solos mais longos no som dos caras, mas desde que sejam colocados a favor da música, eles podem muito bem ser revertidos em maior qualidade para a bolacha.
In10sity é um CD sem surpresas. Começa e termina muito bem e o meio é mais morno. Embora não seja o melhor álbum da banda, é bom o suficiente e melhor do que quase tudo que foi feito recentemente em matéria de Hard Rock. Então não perca tempo e compre aqui.