Age of Empires 3

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Nunca um jogo foi comemorado com tanta antecedência como este Age of Empires 3 da Microsoft. Se os dois primeiros exemplares da série revolucionaram o gênero RTS (Real-Time Strategy) trazendo diversos complementos (por exemplo, a possibilidade de se evoluir as “eras” da história da civilização), qual seria o próximo passo? Até onde os programadores seriam capazes de recriar uma experiência real e prazerosa para dentro da tela do computador?

As notícias apareceram aos poucos. Primeiro divulgaram que Age 3 seria o primeiro jogo de estratégia em tempo real a utilizar o sistema físico Havok 2, o mesmo de Half-Life 2, Far Cry e o bom RPG, Vampire The Masquerade: Bloodlines (será que só eu gostei desse último?), o que deu água na boca dos fãs já imaginando como seriam os gráficos. Depois, a Microsoft em uma longa tortura chinesa, soltou pequenos trailers comprovando que os gráficos realmente estavam legais. Mas enquanto todos babavam pelo aspecto visual, eu temia pelos requerimentos mínimos: será que eu precisaria de uma Geforce 6800 para cima pra rodá-lo ou minha 6600 GT daria pro gasto?

Uma semana antes do lançamento, tudo o que li a respeito já o considerava como o melhor RTS de todos os tempos, simplesmente imbatível. Só faltava eu dar o Selo Delfiano Supremo antes mesmo de jogar o dito cujo.

Pois é, amigão. Mas aí Age of Empires 3 saiu e eu finalmente pude jogar a “maravilha anunciada”. Se ele merece o Selo? A resposta, infelizmente, é um alto e sonoro “não”, mas calma que isso também não significa que o jogo é ruim. Na verdade, o que temos é um jogão, mas um pouco abaixo da expectativa dos fãs de carteirinha da série, como este que vos escreve.

Enquanto o primeiro Age of Empires nos levou da pré-história às antigas civilizações e o Age of Empires 2 nos transportou à idade média, o terceiro jogo foca o fim das cruzadas, a estruturação das monarquias européias e a descoberta das Américas (Nota do Carlos: Fuck, yeah!).

Além dos modos tradicionais de RTS que você já conhece (Skirmish, o multiplayer em si, etc), Age of Empires 3 traz em seu modo single player uma história dividida em três atos que nos conta a trajetória da família Black, desde sua participação nas últimas cruzadas (pegando o gancho de Age 2 e sua expansão) até a colonização do Novo Mundo e a descoberta da fonte da juventude (sendo esta uma catalisadora da ganância entre vários reinos e exploradores – ok, eles precisavam de um motivo para te colocar em guerra com alguém).

As missões são bem variadas entre si, mas não fogem do padrão, ou seja, você deve construir a mega-fortaleza para proteger um determinado pedaço de terra do ataque inimigo até que destrua todas as bases hostis ao redor ou deve escoltar um determinado grupo de aventureiros do ponto X ao Y (exatamente como nas fases em que você jogava com a Tanya na série C&C: Red Alert), portanto esqueça a originalidade neste quesito já que TODAS as missões são cópias dos antigos jogos do gênero. A única diferença é uma roupagem diferente.

Mas para não dizer que a Microsoft não se esforçou, temos alguns aspectos interessantes. O primeiro deles é a possibilidade de se aliar a nativos contra seus inimigos em comum, basta fazer um posto comercial ou militar na vila (entenda-se aldeia indígena) dos futuros aliados para poder construir suas unidades. Na verdade, esse aspecto já estava presente também em alguns outros jogos, mas em Age 3 ele é bem mais desenvolvido, pois cada tribo aliada tem sua própria particularidade e alguns índios arqueiros, frutos de uma destas alianças, realmente quebram um baita galho nas mega-batalhas do terceiro ato.

Outra mudança interessante está na coleta de recursos em sua base. Esqueça aquela árdua tarefa dos peões cortando árvores, levando a madeira para o acampamento e voltando para repetir o mesmo processo de pouquinho em pouquinho. Seguindo a engine do maravilhoso Rise Of Nations (o melhor RTS de todos os tempos na minha opinião), aqui os peões simplesmente vão até as árvores e começam a cortar a madeira ali mesmo, nada de ter de levar os itens de volta à base o que torna o jogo bem mais dinâmico e isso vale para todos os bens que você precisa coletar.

E finalmente, a mudança mais importante é o papel da metrópole no desenrolar do jogo, que é bem fiel ao contexto histórico. Sim, porque enquanto você explora as Américas, a cidade européia pode mandar reforços e recursos, tudo depende do número de pontos de experiência que você tem acumulados conforme o seu desempenho, mais ou menos como em um RPG, que servem para você comprar determinadas cartas de exércitos, recursos ou peões. Apesar de parecer bobo, esse diferencial é fundamental nas suas pretensões já que os recursos dos mapas são escassos e muitas vezes o que pode determinar sua vitória são justamente os itens que o reino europeu manda para a colônia.

Mas, tio Bruno, e aqueles maravilhosos gráficos dos trailers que a empresa do Bill Gates divulgava toda semana? Eles ainda estão lá, firmes e fortes, mas só para quem tem uma boa placa de vídeo (e falo uma boa MESMO, pelo menos uma Geforce 6800) e pelo menos 1 giga de Ram, senão o jogo fica muito parecido com seu antecessor de 6 anos atrás e não estou brincando. Para aqueles com 512 megas de Ram e uma placa decente, Age 3 flui legal mas dá aquelas travadinhas incômodas quando temos muitas unidades na tela, o que honestamente é um pezinho no saco, pois ocorre justamente naqueles momentos em que você precisa mexer e dar ordens com maior rapidez para não acabar dizimado.

De qualquer forma, para os privilegiados com uma máquina de ponta, Age of Empires 3 traz os melhores gráficos de um RTS, com unidades muito bem definidas (e distintas entre si), ótima movimentação e cenários bem variados, indo desde montanhas geladas até planícies desertas bem caracterizadas, com suas respectivas faunas e floras. As construções também são um show à parte, assim como as unidades aquáticas. Aliás, o efeito da água e a movimentação dos navios estão simplesmente perfeitos, não consigo imaginar algo melhor.

Antes que eu me esqueça, o sistema Havok 2 está presente, mas seu funcionamento é muito discreto e honestamente não valeu toda a campanha de marketing que fizeram em cima. Basicamente, algumas estruturas (e navios) quando bombardeadas quebram de forma aleatória em um efeito interessante, mas ainda meio fora da realidade. Também tem os soldadinhos, que voam longe quando um tiro de canhão cai por perto, mas é isso aí, não espere mais realismo ou efeitos interessantes (se é que você considera que uma árvore caindo seja um efeito inovador, mesmo já presente no mundo dos games há uns 5 anos).

A parte sonora é impecável, com ótimos efeitos, músicas interessantes (mas não tão marcantes) e uma dublagem competente dos personagens com aquela forçada de barra tradicional das novelas mexicanas.

A dificuldade de Age of Empires 3 varia do ridiculamente fácil até o frustrante em um piscar de olhos. Normalmente, as fases de construção de bases são mais longas e prazerosas enquanto as fases de escolta são as mais chatinhas, especialmente uma fase no terceiro ato, onde você deve levar um grupo de soldados estadunidenses de um lado ao outro do mapa sob uma tempestade de neve (isso significa que a energia dos seus personagens cai automaticamente devido ao “frio”) enquanto é pressionado pela cavalaria inimiga (ou seja, se você demorar muito eles alcançam você e já era).

Para os fãs do gênero, Age of Empires 3 é imperdível e mais um exemplar competente da série, mas não espere uma revolução. É apenas o velho jogo com uma roupagem bem mais interessante e algumas novidades relevantes. Mesmo para quem ainda não está muito familiarizado com o estilo (e tem uma máquina boa o suficiente), vale a pena conhecer o novo jogo da Microsoft pela sua acessibilidade – é facinho de aprender a jogar e muito divertido, especialmente no multiplayer com um amigo.

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