Antes de ler essa resenha, não deixe de ler a resenha para a primeira parte do filme, escrita pelo Bruno e que você encontra aqui. Vai lá. Eu espero aqui.
Pronto? Ok, vamos lá.
Finalmente chegou ao Brasil um dos filmes mais esperados por aqui. Mas não confunda, não se trata de ter sido esperado por ansiedade ou algo do tipo, eu quis dizer literalmente esperado, afinal, o filme estréia nos cinemas daqui alguns meses depois de já ter sido lançado em DVD em praticamente todo o mundo.
Se você esteve em Plutão nos últimos meses e não sabe nada da história, isso pode ser resolvido em algumas poucas linhas: a personagem de Uma Thurman (cujo nome é a principal revelação do filme) quer se vingar de seu ex-patrão e amante Bill (David Carradine), que liderou uma carnificina no dia do ensaio de seu casamento. Para isso, ela vai matando um por um todos os capangas do cara, até chegar no chefão em si, em uma vendeta que chega muito a lembrar aqueles bons games de outrora como Final Fight, Streets Of Rage, etc. Aliás, ao contrário do primeiro filme, em que ele era apenas mãos e voz, aqui Bill dá as caras. Aliás, nunca entendi o por quê de ocultá-lo, já que foi amplamente divulgado que Bill era representado por David Carradine e todo mundo já conhece o rosto do indivíduo.
A narrativa, como no primeiro, não é linear. O filme começa com a “noiva” dirigindo um carro, dizendo que matou todos os capangas e que falta apenas Bill. Mentira, já que dois dos capangas não foram mortos por ela, como você vai perceber quando assistir (se é que ainda não assistiu). Erro de continuidade? Falta de cuidado? Erro proposital? O que você acha?
Curiosamente, Kill Bill Vol. 2 é muito diferente do primeiro filme, o que me faz questionar se Tarantino realmente tinha a intenção de lançar apenas um filme de três horas (até porque se somarmos os 90 minutos do filme anterior com os 138 deste, temos quase quatro horas). Para falar a verdade, uma das poucas semelhanças com o primeiro filme é o fato de Tarantino parecer uma criança com um brinquedo novo, já que deixa algumas cenas em preto e branco, faz alguns cortes bruscos (e feios) e até abandona por alguns instantes o formato widescreen de imagem que estamos acostumados a ver no cinema.
Outra semelhança é a estética semelhante às dos filmes orientais antigos, o que não deixa de ser engraçado, já que estes filmes têm essa estética justamente por não terem um orçamento muito grande para investir. Então alguém decide gastar uma boa quantia justamente para reproduzir o que estes filmes faziam. Irônico, não?
A trilha sonora também segue o padrão dos outros filmes do diretor, sempre muito elogiada por público e crítica. Na verdade, se analisado friamente, ele não faz nada demais, apenas optou por um caminho diferente. Veja só, a maioria dos filmes estadunidenses têm trilhas sonoras orquestradas e pomposas. A única diferença é que Tarantino opta por algo mais Pop em seus filmes, ou seja, músicas tocadas por bandas. Agora que isso dá um ar muito diferente ao filme e o distingue positivamente dos demais, eu concordo plenamente.
Enquanto as semelhanças são relativamente pequenas, as diferenças são colossais, já que afetam a principal parte de qualquer filme: a história. Se no primeiro, a violência exagerada permeava todo o filme com um humor sanguinário, aqui temos um filme violento, sim, mas menos escrachado, com muitos diálogos e, principalmente com muito menos ação. Ou melhor, sem ação nenhuma. De fato, as cenas de ação são completamente anticlimáticas. A batalha final, por exemplo, dura apenas alguns segundos. É sério, a tão esperada batalha com o chefão Bill não chega a 1 minuto.
Em uma outra cena, por exemplo, vemos dois dos personagens pegando as espadas e pensamos “Ah, agora sim. Porrada!”. Ledo engano, após toda aquela preparação para a batalha, a luta de espada em si é chinfrim e curta, com uns 3 ou 4 golpes de espada apenas.
Outro anticlímax é o treinamento da protagonista com Pai Mei (Gordon Liu). Na verdade, o treinamento é muito legal, mas dura tão pouco que achamos que vamos ver mais dele no desenrolar da trama. Não vemos.
Como deu para perceber, enquanto o Vol. 1 era uma boa diversão despreocupada, o Vol. 2 é exatamente o contrário, tenta ser um filme denso e mais psicológico mas simplesmente não tem profundidade para isso. Ou seja, o Vol. 2 acaba se tornando vítima das armadilhas que sua versão anterior criou. Para entender melhor o que quero dizer, imagine se um filme na linha de Freddy Vs. Jason tentasse fazer o espectador se familiarizar com conceitos abordados na obra de Michel Foucault. Ou se uma banda como o Manowar dissesse que encontrou Jesus e que ia dedicar o resto de sua carreira a fazer música sacra. É mais ou menos isso que ocorre com Kill Bill Vol. 2. O que era para ser apenas uma diversão tenta ser mais do que isso. E se dá mal, simplesmente por contrariar as expectativas criadas pela própria série.
Kill Bill Vol. 2 finalmente estréia no Brasil nesta sexta-feira, dia 8 de outubro.